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Alicia Klein

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Alicia: Flamengo e Palmeiras: falta concorrência, sobram ranço e títulos

Dudu e Michael disputam bola em Palmeiras x Flamengo, no Allianz Parque - Marcello Zambrana/Agif
Dudu e Michael disputam bola em Palmeiras x Flamengo, no Allianz Parque Imagem: Marcello Zambrana/Agif

30/09/2021 16h04

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Existem dois clubes acima da média no Brasil, há pelo menos três anos. Torcidas e mídia, por hábito ou por ofício, tentam emplacar concorrentes. Já foi o Grêmio, o São Paulo, o Internacional e, mais recentemente, o Atlético-MG.

A verdade, boa para poucos, ruim para muitos, é que Flamengo e Palmeiras sobram. Às vezes mais, às vezes menos. Mas em um domínio quase completo do futebol —primeiro, do brasileiro e, agora, sul-americano. Operam em outra liga.

Assisti a diversas mesas redondas debatendo a boa e velha pergunta: quem é o melhor time do Brasil? Curiosamente, os candidatos atuais vinham sendo Flamengo e Galo. Palmeiras tropeçou no Mundial, Libertadores 2020 virou acidente. Aí venceu a Copa do Brasil 2020, que por sua vez se tornou casualidade com más atuações pontuais no Brasileiro e o desastre na CBr 2021.

Já a hegemonia rubro-negra, esta não se discute. Talvez pelos vestígios da magia de 2019, pelo absurdo talento individual de metade do elenco, talvez para não desagradar a maior torcida da nação.

O Palmeiras... ah, este até hoje não convenceu parte da mídia e mesmo da própria torcida. Há um elemento de autoflagelação que acompanha os alviverdes desde os primórdios, um semi-masoquismo possivelmente encontrado no DNA de cada palmeirense. A famosa turma do amendoim, que critica a equipe por esporte, vocação, gosto, costume. Nas derrotas e, pasmem, nas vitórias.

Surpreende, porém, que pessoas que supostamente estudam o futebol, que vivem de analisá-lo, sejam capazes de ignorar os fatos. De fazer vista grossa para os números. De chamar de retranqueiro um dos melhores ataques. De menosprezar um treinador que, em menos de um ano no cargo, com um grupo de raras estrelas, chega à sua segunda final de Libertadores, tendo vencido a primeira e ainda levado uma Copa do Brasil, sob um calendário massacrante.

O que toda torcedora e torcedor de time grande descobre ao longo da vida é que uma coisa é chegar, a outra é vencer. Anos de fila, batendo na trave, as bolas que não entram, as inúmeras chances de se salvar de um rebaixamento, as experiências cruéis de ser o eterno vice.

Cruzar esta barreira, a de favorito a campeão, pode levar anos, dizimar carreiras, criar reputações incômodas. Para mim, é essa a grande diferença entre Palmeiras e Flamengo, e o resto. As equipes concorrentes ainda não foram campeãs - porque os dois passaram o rodo no país e no continente. Palmeiras: Brasileirão 2018, Libertadores 2020, Copa do Brasil 2020, finalista da Libertadores 2021. Flamengo: Libertadores 2019, Brasileirão 2019 e 2020, finalista da Libertadores 2021. Nos últimos três anos, fora duas Copas do Brasil vencidas por Cruzeiro e Athletico-PR, não teve para ninguém.

Claro, em termos históricos, três anos não são nada (claro, também, que a história vencedora de ambos devia falar por si). Três anos no topo, porém, deveriam bastar para solidificar um time (no caso, dois) como favorito em qualquer competição, como um dos melhores. Ponto.

Só que não. Uma dúzia de rodadas na liderança de um campeonato ou dois jogos arrebatadores logo equiparam alguém aos dois fora-de-série. Entendo a necessidade de criar polêmica pela audiência, de gerar interesse para além de duas torcidas, a esperança de ver outra agremiação vencer e atrair novos cliques. Mas o que parece haver, acima de tudo, é ranço. E ranço não deveria ter lugar entre profissionais.

Ainda bem que ranço e bola na trave não alteram o placar.