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OPINIÃO

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Vitor: Segundanista, Tyrese Maxey é chave para sonhos de título dos 76ers

Tyrese Maxey comemora cesta com a torcida dos 76ers - ESPN/Twitter
Tyrese Maxey comemora cesta com a torcida dos 76ers Imagem: ESPN/Twitter

15/03/2022 04h00

Se o Philadelphia 76ers ganhar o título da NBA em 2022 e levantar o troféu Larry O'Brien em julho, os principais motivos terão sido Joel Embiid e James Harden. É assim que a NBA funciona, e tem funcionado faz 75 anos: com raríssimas exceções, você precisa de um jogador Top10 - talvez Top5 - no seu time para vencer um título, e uma segunda para ajudar a carregar o piano. A NBA é uma liga de estrelas; ela simplesmente é. É esse o motivo pelo qual os Sixers fizeram o processo, que lhes rendeu Joel Embiid, talvez o principal candidato a MVP da temporada, e é por esse motivo que o time trocou por James Harden algumas semanas atrás.

Mas, ao mesmo tempo, a história também nos ensina que só ter estrelas não é o suficiente. Os jogadores ao seu redor, seu encaixe com as estrelas e como as habilidades dos dois lados se complementam para elevar tanto as estrelas como os coadjuvantes é de fundamental importância. É até mesmo paradoxal: são as estrelas que guiam os destinos dos times da NBA, mas os coadjuvantes podem fazer ou destruir qualquer encaixe dos melhores craques da liga.

Nesse contexto, um jogador em especial se destaca como fundamental para as pretensões de título do Philadelphia 76ers: Tyrese Maxey, escolha #21 do Draft de 2020. Depois de passar seu ano de calouro no banco dos Sixers jogando apenas 15 minutos por jogo, ele agora é parte crítica do sucesso dessa equipe.

O salto que Maxey deu em seu segundo ano de NBA tem sodo parte crítica de tudo que Philadelphia tem feito nos últimos meses. Com a situação de Ben Simmons se arrastando temporada adentro, Maxey acabou forçado no time titular e correspondeu maravilhosamente: 17 pontos, 5 assistências por jogo com 48 FG% e 41% nas bolas longas. Essa evolução incrível do seu ano primeiro ano ajudou Philadelphia a tapar o buraco deixado por Simmons e manter o time em boa forma mesmo recebendo zero produção de um lugar tão importante do elenco; e, embora Tobias Harris seja o maior salário, é em Maxey que os Sixers estão apostando para ser sua terceira estrela ao redor de Harden e Embiid.

Quando Maxey saiu de Kentucky para a NBA, um dos motivos dele cair no Draft era estar "preso" em um limbo de certa maneira; com tamanho de armador, Maxey não era considerado um grande passador ou criador, e sim alguém mais agressivo atacando a cesta e voltado para a pontuação, mas sem o arremesso de três pontos que faria dele um encaixe mais natural sem a bola, jogando ao lado de outro armador. Em Philadelphia, no entanto, tudo pareceu se encaixar do jeito certo: depois de arremessar apenas 30% nas bolas longas em 2021, Maxey tem arremessado 41% nesses mesmos chutes apesar de um volume e um nível de dificuldade maior do que antes. E se Maxey provavelmente nunca vá ser um armador principal, ele brilhou na forma que os Sixers decidiram jogar sem Simmons: concentrar a bola nas mãos de Embiid e cercá-lo de jogadores dinâmicos capazes de aproveitar a presença do pivô para fazer jogadas em movimento, geralmente vindo de um corta-luz ou handoff - algo que Maxey e Curry encaixaram como uma luva. O salto que Maxey deu no seu segundo ano foi do tipo mais valioso possível: uma escolha tardia impulsionando um candidato ao título.

Com Curry no Brooklyn e Harden chegando na Philadelphia, o papel de Maxey em teoria se torna um pouco mais secundário - afinal, agora tem uma segunda estrela em Harden para arremessar e criar, e ainda por cima uma famosa por segurar a bola até demais. Apesar disso, paradoxalmente, a chegada de Harden de certa forma faz com que Maxey adquira uma importância ainda maior em arredondar o elenco, e em permitir que esse time alcance o seu potencial.

Eu escrevi, na época da troca de Simmons por Harden, sobre como eu estava um pouco cético com os resultados da troca; não que os Sixers com Embiid e Harden não seja um candidato ao título (eles certamente são) mas com a ideia de que esse acúmulo de talento teria como resultado um salto gigantesco de qualidade. O jogo a dois de Harden e Embiid encaixa bem, mas eu tinha dúvidas sobre como o resto do elenco funcionaria ao redor da dupla, e se eles tinham o conjunto de habilidades para maximizar suas estrelas. A falta de grandes arremessadores com a saída de Seth Curry é um problema, assim como a de jogadores que possam aproveitar a atenção atraída pela dupla para criar ações secundárias e manter o dinamismo do ataque.

Nesse contexto, pensando em como cercar Embiid e Harden dos jogadores que possam maximizar uns aos outros, Maxey é a peça que se destaca como possível resposta. No papel, ele é quem pode fazer essas duas funções: seu bom arremesso de longa distância oferece o espaçamento que o time tanto precisa, e seu jogo agressivo e versátil a partir do drible é perfeito para funcionar como válvula de escape.

Mas a teoria é sempre mais fácil do que a prática. Parte do crescimento de Maxey foi o quanto ele estendeu seu jogo a partir do drible, criando o próprio chute ou sendo um jogador diretamente envolvido na jogada para atacar com espaço. Agora, ele vai precisar se remodelar para jogar muito mais fora da bola, criar espaço para situações de catch and shoot, e atacar espaços reagindo à movimentação da defesa. Não que ele não fizesse isso em algum nível, mas agora o equilíbrio muda consideravelmente em outra direção; se antes ele jogava fora da bola e em um papel reativo 40% do tempo (número totalmente hipotético) e tinha 60% do tempo com ela nas mãos para ganhar ritmo, agora ele vai precisar fazer 80% do tempo com apenas 20% sendo ele a controlar as ações. Pode parecer banal, mas esse tipo de mudança não é fácil, ainda mais para jogadores jovens.

E como isso vai se manifestar na prática é fundamental. Os primeiros resultados tem sido mistos - espetaculares 27 pontos por jogo e 67 FG% nos primeiros 4 jogos, 12 pontos e 43 FG% nos quatro seguintes - o que nos lembram da importância de não levar a sério demais amostras muito pequenas; ainda assim, entre todos os times que sonham com título esse ano, como Maxey se adapta a esse papel talvez seja uma das variáveis mais importantes que não envolva lesões. A margem entre os times do Leste é excepcionalmente tênue esse ano, e mesmo em toda a NBA parece um ano totalmente em aberto. Como Maxey responde a essa situação, e o quão efetivo ele consegue ser como essa terceira opção - e como isso por sua vez abre o jogo e empodera a dupla de estrelas do time - pode definir muita coisa em 2022.

É, sem dúvida, muita pressão e muita carga para se colocar nos ombros de um segundanista. Mas, o ano inteiro, Philly tem feito isso, e Maxey tem correspondido. Eu não apostaria contra ele.