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Armador, ala, pivô: entenda o que significam as cinco posições do basquete

Pivô Nikola Jovic, do Denver Nuggets, conversa com os armadores Facundo Campazzo e PJ Dozier durante jogo da NBA contra o Dallas Mavericks - Isaiah J. Downing/USA TODAY Sports
Pivô Nikola Jovic, do Denver Nuggets, conversa com os armadores Facundo Campazzo e PJ Dozier durante jogo da NBA contra o Dallas Mavericks Imagem: Isaiah J. Downing/USA TODAY Sports

15/10/2021 04h00

Esta é a terceira parte do Especial NBA, cujo objetivo é fornecer uma porta de entrada e explicar o básico para quem quer começar a acompanhar a liga americana. Nas colunas anteriores, nós começamos falando sobre a NBA em si e como funciona uma temporada, depois falamos sobre o funcionamento do jogo dentro de quadra e as terminologias associadas à própria quadra, algo fundamental para se entender a conversa sobre basquete. E agora é hora de falar sobre posições.

A princípio parece simples: são cinco jogadores em quadra, e cinco posições do basquete. Cada jogador joga em uma delas, e é isso... certo?

Bem, não exatamente. E por dois motivos principais: o primeiro é que, por mais que nós tentemos encaixar os jogadores em quadra nas cinco posições (em geral em função da altura), existe um espectro gigantesco de variações dentro de uma mesma posição. Você vai encontrar muitos jogadores que atuam nominalmente na mesma posição mas têm estilos de jogos completamente diferentes. Da mesma forma, vai encontrar jogadores de posições diferentes com estilos muito parecidos. Nesse sentido, o entendimento que temos das cinco posições é insuficiente.

O segundo é ainda mais simples: essa designação das cinco posições surgiu ao longo dos anos 50 e 60 na NBA, e algumas coisas mudaram desde então. O esporte hoje é totalmente diferente do que era na época —hoje em dia, com jogadores cada vez mais versáteis e completos, costuma se falar muito em "basquete sem posições"— então faz sentido continuar a se apegar a uma nomenclatura tão antiga?

Não à toa, muitas pessoas ao redor da NBA hoje defendem uma mudança na forma de classificar os jogadores. Ainda assim, o sistema de posições clássico oferece uma forma universal de simplificar as coisas e continua a ser amplamente usado, então vale a pena começar por elas antes de seguir em frente.

PARTE I - Conhecendo a NBA
PARTE II - O jogo e a quadra de basquete

As posições clássicas do basquete

O sistema clássico de posições é, grosso modo, definido a partir da altura dos jogadores em quadra.

O jogador mais baixo em quadra (e de novo, essa é só a ideia geral) é o chamado armador, point guard, ou PG. A função do armador é, como o nome indica, a de armar o jogo: são eles que iniciam as jogadas ofensivas, quebrando a defesa com seus dribles e sendo bons passadores para encontrar companheiros livres. Por serem os mais baixos, costumam também ser os jogadores mais ágeis em quadra e, portanto, capazes de driblar bem.

Os protótipos dos armadores nesses moldes são jogadores como Steve Nash, John Stockton ou Chris Paul: excelentes passadores, que acumulam assistências e pensam primeiro em gerar bons arremessos para os companheiros e só depois em pontuar por conta própria.

A posição seguinte por ordem de altura é a do ala-armador, shooting guard ou SG. Um passo além do armador normal, o ala-armador ainda vai ser um jogador que terá com frequência a bola nas mãos e precisa também ser rápido e ter bom drible para passar pelos adversários. No entanto, o SG tende a levar isso mais para o lado de pontuação do que de criação —como o nome indica, shooting guard. Não que o ala-armador tenha um papel menor de criar para os companheiros, mas tende a ser uma posição focada mais em buscar pontos e arremessar bem. Os moldes de SGs, adequadamente, são grandes pontuadores como Michael Jordan e Kobe Bryant.

Como tendem a jogar mais longe da cesta, a combinação de armadores e ala-armadores costuma ser referida como o "perímetro" do time.

A posição "média" de altura na NBA se chama ala, small forward ou SF. E, sendo a posição no meio do espectro de tamanho, é talvez a que mais elementos diferentes combina. Por serem jogadores maiores que os anteriores, é mais esperado que os alas joguem mais perto da cesta e ataquem mais o aro... mas, sendo menores que os jogadores de garrafão, eles também precisam ter a mobilidade e habilidade para jogar mais longe da cesta e receber a bola perto da linha dos três pontos. Não à toa, a posição de ala é frequentemente a dos jogadores mais versáteis do basquete, capazes de fazer um pouco de tudo, e associada a nomes como LeBron James, Larry Bird e Scottie Pippen.

Por fim, as duas últimas posições entram no que costuma ser chamada de "jogadores de garrafão", que por serem jogadores mais altos e mais lentos costumam atuar dentro do garrafão e próximos à cesta.

A primeira delas, e a segunda de maior altura do time, é a do ala-pivô, também chamado "ala de força", power forward, ou PF. Como dito, eles costumam ser jogadores maiores que jogam mais perto da cesta, não saindo tanto para o perímetro. Mas alas de força ainda têm um pouco mais de versatilidade. Embora joguem mais dentro do garrafão, eles ainda têm a habilidade e/ou a mobilidade para jogar na lateral ou no topo do garrafão, e talvez até mais perto da linha de três. Mesmo com menor responsabilidade de bater bola, alas de força ainda costumam ter mais recursos se recebem o passe longe da cesta. Nomes como Tim Duncan, Kevin Garnett e Karl Malone eram devastadores dentro do garrafão, mas também possuíam um bom arremesso de meia distância e habilidade com a bola nas mãos.

Por fim, tem o outro extremo do espectro: os pivôs, centers ou C. Opostos aos armadores, esses são jogadores muito mais altos e fortes, e por consequência mais lentos. Por isso, tanto no ataque e na defesa, esses jogadores costumam se movimentar menos e jogar bem perto da cesta, usando o tamanho que têm para finalizar dentro do garrafão por cima dos demais atletas. Da mesma forma, seu tamanho faz deles os jogadores ideais para ficarem perto do aro na defesa e usarem seu tamanho para impedir que o adversário consiga finalizar dentro da área restrita. Considerando que a altura é parte importante do basquete (afinal, a cesta FICA no alto), não é à toa que a posição de pivô é a que produziu mais estrelas ao longo da história da NBA, incluindo nomes como Shaquille O'Neal, Hakeem Olajuwon e Kareem Abdul-Jabbar.

Então, recapitulando, as cinco posições do basquete são:

1. Armador (PG)
2. Ala-armador (SG)
3. Ala (SF)
4. Ala de força (PF)
5. Pivô (C)

Os números antes de cada nome, aliás, não são por acaso; é comum no basquete se referir às posições por um número, ordenando as posições de mais baixa para mais alta. Então, se você ouvir falar que "James Harden joga na posição 1" ou "Draymond Green joga de 5 nos Warriors", estão falando de jogar de armador e pivô, respectivamente.

Evolução das posições

Como foi dito, esse sistema de posições surgiu em um momento muito inicial do basquete. Conforme o tempo foi passado e o basquete foi se tornando cada vez mais variado (tanto em composição humana como tática), novas noções e jogadores começaram a desafiar a classificação clássica. Por exemplo, Stephen Curry é oficialmente um armador, mas é um jogador muito mais voltado para a pontuação que criação. Da mesma forma, Nikola Jokic é um pivô, mas ele é quem faz, de fato, a função de armar o jogo e distribuir passes no Denver Nuggets. Magic Johnson era armador, embora fosse o segundo jogador mais alto dos Lakers. Como classificar esses atletas?

Eventualmente, começaram a surgir posições "híbridas" na NBA. Nos anos 90, Scottie Pippen era um ala, mas jogava efetivamente como armador nos Bulls, iniciando jogadas e conduzindo a bola. Isso começou a ser chamado de point-forward, um ala que joga armando o jogo. Da mesma forma, pivôs como Jokic começaram a ser chamados de point-center por fazer a função de armador (point guard) da posição de pivô (center).

Outros, por sua vez, defendem uma simplificação das posições. Certos técnicos ao redor da NBA dividem os jogadores em só três posições macro: armadores, alas e pivôs. Outros falam em ball handlers (jogadores que atuam com a bola nas mãos), guards (armadores secundários e pontuadores de perímetro), wings (jogadores maiores de perímetro) ou bigs (jogadores que ficam dentro do garrafão). Mas nomenclatura é menos importante do que isso representa: que os times cada vez mais estão buscando novas formas de se classificar e dividir os jogadores em relação a um sistema antiquado.

Mas, acima de tudo, a NBA parece ter entendido que o importante em quadra não são posições, são funções. Você precisa de alguém para armar o jogo e dar passes para seus companheiros, e na maior parte do tempo vai ser alguém que se encaixa no perfil de armador. Mas, se você tem isso de um pivô como Jokic, você pode procurar um "armador" nominal que traga outras habilidades para o time, como arremessar bem ou ser um ótimo defensor. Se você tem um ala que protege o aro como Durant, você tem mais liberdade para jogar com jogadores mais baixos como pivô já que não tem necessidade que ele siga as funções tradicionais.

Você ainda quer as habilidades associadas originalmente a cada posição - criação, pontuação, arremessos, passe, versatilidade, rebotes, pontuação no garrafão, proteção de aro —mas elas hoje em dia vêm de tantos lugares e jogadores diferentes que não faz mais sentido tentar classificar atletas tão diferentes em um sistema generalista. Ao invés disso, os jogadores começaram a ser, cada vez mais, classificados não pelas habilidades ofensivas, mas por qual posição eles defendem do outro lado da quadra —o que, ironicamente, leva de volta para a questão de altura.

Então por mais importante que seja conhecer o sistema de posições clássico do basquete —afinal, ele ainda é bastante usado hoje em dia e muitas vezes como uma forma de simplificar o discurso e a comunicação— e entender de onde ele veio, é igualmente importante lembrar a não se apegar demais a esse modelo e aos nomes tradicionais.

PARTE 4 DO ESPECIAL NBA: SEGUNDA-FEIRA

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL