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ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Como Damian Lillard pode ser a próxima grande estrela disponível na NBA

Damian Lillard em ação pelo Portland Trail Blazers durante os playoffs da NBA em 2021 - Garrett Ellwood/NBAE via Getty Images
Damian Lillard em ação pelo Portland Trail Blazers durante os playoffs da NBA em 2021 Imagem: Garrett Ellwood/NBAE via Getty Images

Colunista do UOL Esporte

18/07/2021 04h00

Desde a eliminação do Portland Trail Blazers nos playoffs, começaram a surgir especulações sobre o futuro do seu principal jogador. A sensação que veio com a derrota era de que Portland tinha atingido seu limite, confirmando seu teto como um time com talento para estar sempre nos playoffs no fortíssimo Oeste, mas incapaz de saltar um nível para se tornar um legítimo candidato ao título - uma situação que se desenha há alguns anos, mas que em 2021 tomou ares de insustentável. Terry Stotts, técnico dos Blazers desde 2012, foi demitido, e em uma época onde estrelas cada vez mais tem usado seu poder e influência para se colocar em times onde disputam títulos, muitos questionaram se o próximo passo para jogador e franquia seria uma troca de Damian Lillard, permitindo que o armador finalmente brigasse por um título de NBA e colocando Portland no caminho de uma reconstrução completa.

Essa narrativa ganhou força recentemente, quando um respeitado jornalista americano noticiou que Lillard iria pedir oficialmente uma troca. O próprio Lillard acabou publicamente desmentindo, mas isso fez muito pouco para diminuir os rumores - ainda mais com seu técnico e o GM Neil Olshey fazendo uma viagem de última hora para falar pessoalmente com Dame após os boatos. Embora não exista nada real, o velho ditado diz que onde há fumaça, há fogo; Lillard é um jogador profissional demais, leal demais para pedir publicamente uma troca que coloque os Blazers em uma situação desfavorável, mas isso não impediria uma conversa a portas fechadas. E você pode ter certeza de que, na pior das hipóteses, times estarão ligando constantemente para Olshey perguntando pela grande estrela da franquia.

A incerteza ao redor dessa situação levanta algumas questões interessantes. E a mais básica é essa: caso Lillard peça por uma troca, os Blazers precisam trocá-lo?

Bem, não necessariamente. Embora essa situação evoque outros astros recentes que também pediram uma troca, como Kawhi Leonard ou Anthony Davis, a situação de Dame é diferente por uma questão fundamental. Leonard e Davis estavam no último ano de contrato quando foram trocados, o que dava a eles uma força de barganha excepcional: sinalizando com uma não-renovação, suas equipes ficavam ameaçadas com a perspectiva de perder seus astros em um ano sem receber absolutamente nada em retorno. Esse risco foi o que eventualmente forçou a mão de Pelicans e Spurs a trocarem cederem aos pedidos de seus craques para não saírem de mãos abanando.

Esse não é, no entanto, o caso dos Blazers: Lillard tem mais quatro anos de contrato garantidos, o que tira muito da sua força de negociação. Ao contrário das outras equipes citadas, Portland não enfrenta o dilema de trocar sua estrela ou perdê-la depois de um ano por nada - eles podem tomar a decisão sem a mesma pressão de um cenário catastrófico iminente, e caso não queiram fazer a troca, eles ainda podem manter Dame por mais 4 anos em Portland.

Mas, na prática, é mais complicado. Mesmo que Dame não tenha esse poder de barganha, Portland recusar o pedido de um jogador que tanto entregou pela franquia também teria suas consequências indiretas, estremecendo sua relação com um dos jogadores mais respeitados da NBA e, possivelmente, com outros jogadores e agentes no processo. Existe uma certa etiqueta na relação entre times e jogadores que Portland estaria quebrando com uma recusa, ainda mais dada a situação de estagnação da franquia. Caso Lillard realmente pedisse uma troca, o mais provável é que os dois lados chegariam a um acordo de cavalheiros para encontrar a melhor situação para ambos.

A questão contratual, no entanto, fortaleceria Portland na hora de tratar com outras equipes. O motivo de alguém como Anthony Davis ter sido capaz de escolher seu destino veio justamente da mesma ameaça de sair como agente livre que forçou a troca em primeiro lugar; outros times (notavelmente Boston) tinham mais a oferecer que os Lakers pelo jogador dos Pelicans, mas como Davis disse que só renovaria em Los Angeles essas equipes hesitaram ao montar ofertas com todos seus ativos, permitindo que os Lakers trouxessem o jogador com um pacote menor e reduzindo o retorno que os Pelicans puderam obter pelo jogador.

Portland não teria esse problema. Eu não acredito que a franquia trocaria o jogador para uma situação indesejável, como um time que não briga por títulos, e o clube acomodaria os desejos de Lillard até certo ponto; mas, dado seu contrato longo, os Blazers também não precisariam se contentar com uma oferta mediana, nem se limitar aos destinos preferidos de Lillard sem sondar melhores propostas possíveis dentro das possibilidades. E pode ter certeza, se Lillard for mesmo ser trocado, o interesse vai ser gigante por uma estrela com contrato longo capaz de elevar um time bom rumo a ser um legítimo candidato ao título. Por mais que os Blazers não queiram trocar Dame, eles ainda teriam a chance de conseguir um excelente retorno que permitiria ao time iniciar sua reconstrução de forma muito mais avançada e com uma boa base.

Mas, caso a troca viesse a acontecer, quais seriam os possíveis destinos de Dame, e qual retorno faria sentido para Portland?

Para mim, a melhor opção possível seria o Boston Celtics. Boston tem um jovem All Star em Jaylen Brown para enviar de volta como peça central do pacote e que imediatamente daria um pilar para os Blazers se montarem ao redor, enquanto Lillard formaria uma das mais mortais duplas da NBA com Jayson Tatum para recolocar o Celtics como candidato ao título. A questão é se Boston está disposto a isso: o time parece valorizar as contribuições fora das quadras de Brown e sua relação com Tatum como um pilar da nova fase da franquia, o que me faz ter dúvidas de se Boston envolveria Brown em uma troca no momento - ou mesmo se estarão em busca de grandes movimentos. Mas, se colocarem na mesa, não acredito que nenhum time possa superar essa oferta dos Celtics para Portland.

Os Nuggets podem montar um bom pacote semelhante em torno de Jamal Murray para tentar parear Lillard com Jokic, mas é bastante improvável: os Nuggets valorizam muito a continuidade do seu núcleo e a química de Murray com Jokic, e não vejo eles desmontando isso por um jogador do lado errado dos 30 anos, mesmo que melhorasse suas chances no curto prazo.

Já os Lakers são um nome quente nos boatos, mas não um realista; a não ser que os Blazers abram mão de muita coisa para acomodar um desejo específico de Dame, LA simplesmente não tem os ativos para isso, com quase todas suas escolhas de Draft futuras comprometidas na troca por Davis e apenas Kuzma e KCP sob contrato - dois jogadores decentes mas caros que não devem interessar aos Blazers como retorno. (THT, como agente livre restrito, oferece outra série de problemas para trocas).

Vários outros times terão interesse em Dame, é claro - Utah, Clippers, Spurs - mas poucos seriam capazes de fazer uma oferta competitiva. Nesse sentido, três times têm se destacado em meio aos boatos.

O nome mais óbvio é o do Philadelphia 76ers, um time com um legítimo candidato a MVP mas que tem sofrido com o encaixe das suas estrelas. Lillard seria perfeito ao lado de Embiid e resolveria uma infinidade de problemas em Philly, fazendo do time um grande favorito ao título. Uma possível troca, no entanto, depende de como Portland vê Ben Simmons. Se enxergarem uma estrela presa em uma situação desfavorável que pode ser o pilar central de uma reconstrução, um pacote ao redor de Simmons e outros dos jogadores jovens de Philly faria muito sentido para os dois lados e me parece um encaixe ótimo; mas, se não for o caso, Ben Simmons pode acabar sendo um entrave dada sua situação salarial, e Portland buscaria outras opções.

Os Knicks também aparecem como nome a ser monitorado, mas qualquer retorno precisaria envolver RJ Barrett, e a situação financeira pode ser um empecilho: os Knicks teriam que absorver o contrato mastodôntico de Lillard com seu espaço salarial, e entre isso e a extensão de Julius Randle o time não teria espaço para adicionar reforços significativos como agentes livres - e só o núcleo atual junto de Lillard dificilmente seria um candidato ao título, ou mesmo uma situação melhor do que a dos Blazers.

Por fim, temos o Golden State Warriors, que tem duas escolhas de loteria, a escolha #2 do ano passado (James Wiseman) e está desesperadamente tentando trocar por um veterano que ajude a vencer no curto prazo. O pacote dos Warriors é talvez o mais versátil, dando aos Blazers mais opções e flexibilidade para uma reconstrução pós-Dame, mas a não ser que os Blazers gostem MUITO de Wiseman também é o pacote que menos oferece uma grande peça central, colocando Portland muito mais perto de uma estaca zero que dificilmente agradaria um GM com o cargo a perigo como Olshey.

Entre tanta especulação, você encontra de tudo: excelentes ofertas que talvez nunca cheguem a Portland, ofertas que dependem demais da avaliação de um ou outro jogador, e ofertas que talvez não agradem o suficiente para forçar a mão dos Blazers - e então optem por manter Dame. A história também indica que pelo menos uma grande oferta inesperada vai aparecer no meio; se tem algo que eu aprendi na NBA, é esperar o inesperado. E isso partindo do ponto de que Dame QUEIRA mesmo ser trocado, e não decida ficar quieto em Portland e tentar de novo ano que vem - o que parece estar na mesa.

Mas de uma coisa você pode ter certeza: você ainda vai ouvir falar muito sobre o futuro de Damian Lillard nessa offseason.