Topo

Quem é a 1ª mulher a treinar uma seleção de basquete masculina no mundo

Liz Mills, do Quênia, é a primeira mulher a comandar uma seleção masculina de basquete - Arquivo Pessoal
Liz Mills, do Quênia, é a primeira mulher a comandar uma seleção masculina de basquete Imagem: Arquivo Pessoal

Talyta Vespa

Do UOL, em São Paulo

14/03/2021 04h00

A australiana Liz Mills é a primeira mulher a comandar uma seleção masculina de basquete no mundo. À frente da equipe do Quênia desde janeiro deste ano, ela conta com exclusividade ao UOL Esporte que se sente muito orgulhosa pelo próprio pioneirismo. Entretanto, o orgulho divide espaço com a tristeza por saber que, em pleno 2021, ter uma mulher no comando de um time de homens ainda é novidade. Segundo ela, o trabalho de uma mulher precisa ser muito mais intenso do que o de um homem para que seja valorizado.

Com quase uma década de atuação em equipes do continente africano, a treinadora construiu uma forte reputação na área. "O gestor da equipe queniana me abordou depois de o técnico antigo ter sido dispensado. Ele propôs que eu treinasse o grupo para o segundo turno das eliminatórias do Campeonato Africano; fechamos o contrato e cá estou."

Em pouco menos de três meses de trabalho, Liz já conseguiu conduzir a seleção do Quênia à fase final do Campeonato Africano de basquete. A relação com o grupo, ela conta, é de bastante confiança e respeito. "Em nenhum momento, encontrei resistência por parte dos jogadores — nem mesmo de atletas de outros times. Eles viram desde o primeiro dia de treino que eu estava preparada e que sabia o que estava fazendo. Me senti acolhida", diz.

liz mills - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal

África por acaso

Liz e a irmã visitaram o continente africano pela primeira vez em 2008, em um programa de voluntariado. Durante o intercâmbio, se apaixonaram pelas pessoas e pela cultura, que se propagava em todos os países que conheceram. A primeira equipe que treinou no continente foi o Heroes Play United, Zâmbia, pelo qual venceu o campeonato nacional.

"Depois, passei a dirigir times angolanos e a jogar contra as melhores equipes da África. Isso me engrandeceu e me inspirou a continuar por aqui. Passei por grandes clubes como técnica principal e como assistente técnica, além de ter treinado seleções universitárias e nacionais na Zâmbia, em Camarões, em Ruanda e, agora, estou no Quênia. Também trabalhei como consultora em clubes e seleções nacionais em toda a África", afirma.

Liz Mills - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Liz Mills
Imagem: Reprodução/Facebook

O esporte sempre esteve presente na vida da australiana. O basquete, em específico, foi acoplado à rotina quando Liz tinha 15 anos, depois de ela assistir à Liga Nacional de Basquete Feminino. "Havia muitas atletas e treinadoras excelentes na Liga, e isso me inspirou. Meus pais me apoiaram desde o começo, e minha irmã gêmea também passou a treinar. O apoio deles foi crucial para a minha jornada", relembra.

Segundo a treinadora, os desafios de treinar uma equipe masculina são bastante similares aos que permeiam a gerência de um time feminino. "Sempre haverá desafios, o gênero não faz diferença", ressalta. Entretanto, lamenta que, na liderança, precise trabalhar mais para provar o próprio valor. "Isso acontece em todo o mundo, as mulheres têm que se provar constantemente. E é claro que quando você é técnica de um time, a situação é a mesma."

Liz diz acreditar que tanto times masculinos como femininos continuam sendo treinados por homens porque ainda é difícil ser mulher, treinadora e galgar esse espaço. "São homens que decidem. Por isso, precisamos de mais presidentes mulheres em federações, além de homens que tenham a mente aberta e estejam dispostos a contratar técnicos com base em suas experiências e qualificações, em vez de colocar o gênero como prioridade", diz.

"Sou feminista. Espero inspirar mais meninas e mulheres a lutarem pelo que querem dentro do esporte, a se tornarem treinadoras. As meninas precisam ver mulheres inteligentes, fortes e bem-sucedidas tendo sucesso em funções de liderança, como a de treinar um time. Precisamos fornecer a elas exemplos que possam admirar. As mulheres podem fazer qualquer coisa, e precisamos que as próximas gerações de técnicas acreditem nisso."