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EUA reagem a mentiras de Bolsonaro sobre urnas: 'Confiamos na democracia'

Bolsonaro com Joe Biden - Alan Santos/PR
Bolsonaro com Joe Biden Imagem: Alan Santos/PR

Weudson Ribeiro

Colaboração para o UOL, em Brasília

19/07/2022 21h08

O governo dos Estados Unidos afirmou hoje que as eleições brasileiras "servem como modelo para as nações do hemisfério e do mundo". A manifestação ocorre depois de o presidente Jair Bolsonaro (PL) ter afirmado ontem, sem apresentar provas, que os ministros do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) buscam eleger políticos de esquerda ao supostamente impedirem que medidas de transparência sobre o sistema de votação sejam adotadas.

O mandatário é um proponente do voto impresso e tem feito reiterados ataques às urnas eletrônicas, muitos dos quais foram refutados por especialistas em segurança digital e órgãos oficiais, como a Polícia Federal. O posicionamento do governo norte-americano, divulgado por meio de nota emitida pela Embaixada dos EUA, se soma aos de dezenas de entidades do Poder Judiciário e da sociedade civil.

O TSE analisa pedidos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) para que Bolsonaro seja condenado pelo suposto crime de propaganda eleitoral antecipada por causa do evento realizado ontem com cerca de 50 diplomatas estrangeiros.

Em outra frente, no STF (Supremo Tribunal Federal), cerca de 10 deputados de sete partidos de oposição apresentaram ações em que pedem que o mandatário seja investigado por crime contra o Estado Democrático de Direito.

O que dizem os EUA

"Os Estados Unidos confiam na força das instituições democráticas brasileiras. O país tem um forte histórico de eleições livres e justas, com transparência. As eleições brasileiras, conduzidas e testadas ao longo do tempo pelo sistema eleitoral e instituições democráticas, servem como modelo para as nações do hemisfério e do mundo. Estamos confiantes de que as eleições brasileiras de 2022 vão refletir a vontade do eleitorado. Os cidadãos e as instituições brasileiras continuam a demonstrar seu profundo compromisso com a democracia. À medida que os brasileiros confiam em seu sistema eleitoral, o Brasil mostrará ao mundo, mais uma vez, a força duradoura de sua democracia."

O que disse Bolsonaro

Em nota ao UOL, a Presidência da República disse que Bolsonaro manteve encontro com chefes de missões diplomáticas no Brasil para intercâmbio de ideias sobre o processo eleitoral.

"O presidente sublinhou aos representantes do corpo diplomático que sua própria carreira política é um resultado do sistema democrático. Lembrou seu período de mais de 30 anos como representante eleito, em trajetória iniciada na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, passando pela Câmara dos Deputados e culminando com sua eleição à Presidência da República em 2018, com mais de 57 milhões de votos válidos, em campanha realizada com mínimo financiamento público", destacou.

O presidente Jair Bolsonaro havia anunciado na semana passada que se reuniria com embaixadores de diversos países para participarem de reunião sobre o sistema eleitoral do Brasil. "O próprio ministro da Defesa mandou documento ao TSE dizendo que eleições são questão de segurança nacional. Não podemos encarar eleição sob manto da desconfiança", afirmou a apoiadores.

Urnas eletrônicas são seguras

Declarações de Bolsonaro que colocam sob suspeita o processo eleitoral brasileiro são falsas e os resultados de todas as eleições realizadas desde sua implementação são confiáveis, afirmam especialistas em segurança digital ouvidos pelo UOL. Especialistas e autoridades, inclusive peritos da PF e da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), também afirmar que a urna eletrônica é segura.

Segundo eles, nenhum sistema é 100% seguro. No entanto, na prática, é extremamente improvável aplicar uma fraude em larga escala na votação com urnas eletrônicas, já que isso implicaria a violação de inúmeras máquinas espalhadas pelo país. Mesmo assim, o TSE leva em conta, em seus testes de segurança, situações que são de complexa execução.

Desde que as urnas eletrônicas foram implementadas —parcialmente em 1996 e 1998, e integralmente a partir de 2000— nunca houve comprovação de fraude nas eleições brasileiras, mesmo quando os resultados foram contestados. A segurança da votação é constatada pelo TSE, pelo MPE (Ministério Público Eleitoral) e por estudos independentes.