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Bolsonaro critica urna e diz que vai discutir eleições com embaixadores

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Brasília

06/06/2022 10h54Atualizada em 07/06/2022 13h35

O presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou hoje a levantar dúvidas infundadas sobre a confiabilidade do sistema eleitoral, criticou a urna eletrônica e o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e afirmou que pretende propor uma reunião com embaixadores para discutir o tema.

A iniciativa seria, segundo ele, uma reação a um encontro que o ministro Edson Fachin, atual chefe do TSE, teve com representantes da comunidade internacional na semana passada. Na ocasião, o presidente da Corte eleitoral pediu a diplomatas estrangeiros que o mundo esteja "alerta contra acusações levianas" nas eleições.

"O ministro Fachin convida e aproximadamente 70 embaixadores vão ao TSE para ouvir dele as maravilhas que são as urnas eletrônicas brasileiras, que não são adotadas em país nenhum do mundo a não ser Bangladesh e Butão. E basicamente ali deixa transparecer que eu estou duvidando do sistema eleitoral preparando um golpe para o pós-eleição. Deixa claro nas palavras dele que, uma vez anunciado o resultado das eleições, o mundo todo deve reconhecer imediatamente Lula como presidente da República eleito", disse Bolsonaro em entrevista hoje ao canal "AgroMais".

A proposta de reunião com embaixadores será feita assim que ele retornar da viagem aos Estados Unidos para a Cúpula das Américas e inauguração do vice-consulado do Brasil em Orlando, na Flórida, no próximo fim de semana. Bolsonaro deve regressar ao país no domingo (12).

O chefe do Executivo federal afirmou ainda considerar "impossível" a hipótese de a corrida presidencial não ir ao segundo turno —de acordo com as pesquisas, o embate será entre o pré-candidato à reeleição e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"Pelo que se vê nas ruas comigo, é impossível não ter segundo turno. Ou é quase impossível não ganhar no primeiro turno. Espero que nada de anormal aconteça e estamos trabalhando para que flua em uma normalidade as eleições", comentou.

Bolsonaro tem feito sistematicamente ataques ao TSE e aos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) que compõem a cúpula da Corte, Edson Fachin e Alexandre de Moraes. Sem nunca ter apresentado provas de vulnerabilidade das urnas, Bolsonaro questiona a afirmação do próprio TSE e de especialistas que atestam a confiabilidade do sistema.

Durante a entrevista concedida hoje, Bolsonaro disse considerar que "é um direito seu desconfiar" e fez uma provocação à Justiça eleitoral:

No meu tempo lá atrás, ganhava a eleição quem tinha voto dentro da urna. Agora parece, quero que eu esteja errado... É um direito meu desconfiar. Eu espero que não ganhe eleições quem tem amigo para contar o voto dentro do TSE
Jair Bolsonaro

O presidente e pré-candidato à reeleição disse que vai avaliar a possibilidade de participar ou não de debates no primeiro turno e declarou considerar que o adversário, Lula, "vai fazer de tudo para não comparecer".

"Isso é uma questão de estratégia no primeiro turno. Nenhum presidente participou. Então quero deixar em aberto isso daí. Porque se eu falar que vou participar e depois não vou, vão me atacar. Se eu não vou e depois vou, atacam. Então eu deixo aberto."

"Agora, o Lula, com toda certeza, vai fazer de tudo para não comparecer a debate. Ele não vai querer participar de nada. As andanças dele pelo Brasil, ele não é recebido e, quando é, é vaiado", completou.


Mais ministérios

Na entrevista ao "AgroMais", Bolsonaro disse que, se for reeleito, pretende recriar ao menos três ministérios para composição de uma nova estrutura de governo: as pastas da Segurança Pública, da Pesca e da Indústria e Comércio.

Em 2018, quando se elegeu presidente, Bolsonaro adotava um discurso alinhado ao pensamento liberal e e falava em cortar ministérios para diminuir "o tamanho do estado". Na ocasião, a promessa era governar com apenas 15 pastas. Atualmente, a administração federal tem 23 —oito a mais do que estipulava o compromisso de campanha.

"Pretendemos, em havendo reeleição, dividir melhor os ministérios, criar no máximo mais três para que possamos melhor administrar nosso país. Pela extensão do nosso país, se justifica isso aí."

Permanência de Guedes

Bolsonaro disse reconhecer que há pressão pela demissão do ministro da Economia, Paulo Guedes, mas afirmou que ele será mantido no cargo em caso de reeleição. "Com toda certeza, sim. Depende dele. Eu vejo ele às vezes cansado, o que é natural. É um ministro que no passado era muito trocado na Economia."

"De vez em quando, alguns querem que eu troque ele para resolver certos assuntos. Eu prefiro conversar com ele e dentro daquela lealdade mútua que temos, mudar algumas coisas e prosseguir nessa linha."

Ao mesmo tempo, Bolsonaro pôs na conta do ministro da Economia uma solução para a questão da alta dos combustíveis. Guedes vem sendo apontado pela ala política do governo, preocupada com a reeleição, como o principal responsável hoje por não ter se conseguido implementar uma medida que evitasse a alta.

Preocupado com o teto de gastos, Guedes é contra a implementação de um fundo que subsidie o preço dos combustíveis.

"Espero que o Paulo Guedes resolva nos próximos dias a questão dos combustíveis no tocante a impostos pelo Brasil. Ele já se mostrou favorável a isso, tem trabalhado para isso e espero que nos próximos dias, nessa semana mesmo, tenhamos uma boa notícia sobre preço dos combustíveis no Brasil."

Petrobras tem 'ganância enorme', diz Bolsonaro

Bolsonaro também voltou a fazer críticas duras contra a Petrobras e disse considerar que a estatal tem "lucros exagerados".

"A Petrobras tem uma ganância enorme. O lucro da Petrobras é algo exagerado. Você vê, outras petrolíferas no mundo baixaram sua margem de lucro para exatamente ajudar seus países... A Petrobras tem aumentado a margem de lucro por ocasião das crises e continua da mesma maneira. A Petrobras... Estamos tentando mudar. Mudou o ministro de Minas e Energia, que quer mudar agora também toda a Petrobras. Mas há uma dificuldade. Reunião de conselho, uma burocracia enorme e demora isso daí."

"Espero que até lá não haja um novo aumento de combustíveis. Eu não tenho participação no aumento de combustíveis. Por mim, não aumentaria. Os lucros já são exagerados por parte da Petrobras."

Bolsonaro disse ainda que o governo pode anunciar novas medidas nas próximas semanas com o objetivo de reduzir o preço dos combustíveis.

"Eu estou fazendo o possível. Antes de mim, praticamente ninguém sabia a composição do preço dos combustíveis. E agora estão sabendo isso daí. Eu espero que nos próximos dias, como tenho conversado com a Economia, e agora está no momento mais crítico ainda, nós viemos a resolver essa questão. Você vê, o americano acabou de zerar os impostos dos seus combustíveis. Eu zerei há três meses o imposto federal do óleo diesel. Como zerei no início do ano passado o imposto federal do gás de cozinha. Mas não temos a colaboração de outros entes da federação."

Com informações da Reuters