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Doria surpreende secretários e irrita Garcia: "Nunca o viram tão bravo"

O vice Rodrigo Garcia (à esq.) e o governador João Doria - Divulgação/Governo do Estado de São Paulo
O vice Rodrigo Garcia (à esq.) e o governador João Doria Imagem: Divulgação/Governo do Estado de São Paulo

Do UOL, em São Paulo

31/03/2022 10h38

O secretariado do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), foi pego de surpresa com a possível decisão dele de desistir da disputa pela Presidência e terminar o mandato estadual. Sem aviso oficial, quase nenhum comandante de pasta sabe o que fazer, e o clima no Palácio dos Bandeirantes é de dúvida.

De acordo com a Folha de S. Paulo, Doria avisou que não concorrerá mais à Presidência e também não deverá transmitir o governo para o vice Rodrigo Garcia (PSDB), como estava previsto para hoje. A informação não foi confirmada pelo governo paulista, mas Doria cancelou três dos quatro eventos oficiais em que participaria ao longo do dia.

Na tarde de ontem (30), o clima no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo, era de despedida. Assessores e secretários tratavam abertamente que aquele era o último dia de governo da gestão Doria, fazendo balanço da gestão e tratando sobre projetos futuros, debatendo quem iria ficar e quem sairia na futura gestão Garcia, que assumirá para disputar a reeleição para o governo.

Além de eventos de inauguração, a previsão era que o governador passasse o cargo para Garcia em um grande evento às 16h com a presença de mais de 400 prefeitos paulistas. Doria faria seu discurso de renúncia e passaria a chave para Garcia. Era esperada ainda a presença de deputados estaduais e federais, além de parte do secretariado.

Pelo menos metade dos 27 secretários esperava entregar o cargo nesta sexta-feira (1º). Alguns deveriam tentar cargos políticos, como Itamar Borges (Agricultura), Aildo Ferreira (Esportes) e Marcos Penido (Meio Ambiente), outros iriam para a iniciativa privada, como Patrícia Ellen (Desenvolvimento Econômico).

Segundo fontes ouvidas pelo UOL, o clima começou a mudar no final da tarde de ontem. Doria passou a se isolar e se reunir apenas com seu núcleo duro de governo e da campanha. A possível decisão só teria sido tomada no meio da madrugada, após desentendimentos com membros do partido.

Em um jantar na casa de um empresário na capital paulista, que terminou depois das 2h de hoje, o governador mostrou a insatisfação com o PSDB e fez alusão de que poderia abandonar a pré-candidatura. Estavam presentes os secretários Marco Vinholi (Desenvolvimento Regional), Jean Gorinchteyn (Saúde) e Henrique Meirelles (Fazenda).

O resto foi pego de surpresa pela imprensa e pelos grupos de WhatsApp do governo, que não param de borbulhar mensagens desde o começo da manhã.

Nenhum deles recebeu a notícia oficialmente do governador e nenhuma reunião foi marcada. A expectativa é que Doria, que segue isolado, se pronuncie oficialmente às 16h, no único evento do dia que não foi cancelado.

Pessoas próximas ao governador dizem que ele está "muito abalado" e que ainda "pode mudar de ideia", embora, agora, já pareça um caminho sem volta.

Desentendimento com Garcia

A decisão também pegou Garcia de surpresa. Quadro histórico do do ex-PFL e ex-DEM, hoje União Brasil, ele foi levado ao PSDB por influência do Doria, que o sagrou como sucessor no projeto que levaria o governador à Presidência.

Garcia, que também é secretário de Governo, não estava no jantar da madrugada e já tinha o discurso de posse pronto para assumir o Bandeirantes.

Com a decisão de Doria, fontes dizem que "nunca viram ele tão bravo", embora também não tenha passado pelo Palácio dos Bandeirantes nesta manhã.

Pessoas ligadas ao Bandeirantes dizem que ele pediu demissão da secretaria e que pretende deixar o PSDB para voltar ao União Brasil para concorrer ao governo do estado.

O principal incômodo de Garcia não se dá pela desistência de Doria à presidência, mas pelo fato de decidir seguir no governo. Garcia esperava assumir o cargo.

De perfil técnico e desconhecido pelo eleitorado, Garcia pretendia usar a máquina do estado para rodar o interior, como tem feito desde o ano passado, e alavancar sua campanha, que patina entre o quarto e o quinto lugar nas pesquisas.