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Isa Penna troca PSOL por PCdoB e concorrerá à vaga de deputada federal

A deputada estadual Isa Penna fala na Alesp. Ela vai concorrer ao cargo de deputada federal pelo PCdoB em 2022. - Arquivo Agência Alesp
A deputada estadual Isa Penna fala na Alesp. Ela vai concorrer ao cargo de deputada federal pelo PCdoB em 2022. Imagem: Arquivo Agência Alesp

Weudson Ribeiro

Colaboração para o UOL, em Brasília

16/03/2022 12h00

A deputada estadual, advogada e ativista dos direitos humanos Isa Penna deve anunciar hoje desfiliação do PSOL. A parlamentar se prepara para concorrer pelo PCdoB ao cargo de deputada federal este ano.

"Organizarei campanha de mutirão feminista, vermelha e popular. Às mulheres do PCdoB, chego para somar e colocar meu coração e convicção à prova", diz ela no comunicado de mudança de partido, ao qual o UOL teve acesso.

Isa realizará hoje na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) ato de filiação ao PCdoB ao lado da ex-deputada federal Manuela D'Ávila (RS), com quem lançou livro de temática feminista, e do deputado federal Orlando Silva (SP).

No dia 25 deste mês, a deputada estadual participará de festival em comemoração aos 100 anos da nova legenda.

"São 13 anos de militância desde o dia em que fui apresentada ao PSOL em reunião de jovens militantes na faculdade. Sou grata por tudo, tinha 17 quando entrei e tenho 30 quando saio", escreve ela em texto de despedida do partido.

Aproximação de Manuela D'Ávila foi crucial

Além da amizade com Manuela, a ida de Isa Penna para o PCdoB deve-se à aproximação com lideranças da sigla, como a deputada da Alesp Leci Brandão e Bruna Brelaz, integrante do Comitê Central do PCdoB.

O partido declarou apoio a Isa antes de o também deputado estadual Fernando Cury ter se tornado réu no processo em que é acusado de importunação sexual à deputada.

A deputada estadual Isa Penna acusa o deputado Fernando Cury de assédio durante sessão da Alesp em dezembro de 2020 - José Antonio Teixeira/Alesp e Divulgação - José Antonio Teixeira/Alesp e Divulgação
A deputada estadual Isa Penna acusa o deputado Fernando Cury de assédio durante sessão da Alesp em dezembro de 2020
Imagem: José Antonio Teixeira/Alesp e Divulgação

"Fui vítima de assédio sexual. Aprendi com mulheres que é agindo que se sobrevive, que a coletividade é ser solidária e pensar em quem nem mesmo conhecemos, ou gostamos. Esses aprendizados me inspiraram a ter coragem", diz Isa na carta sobre desfiliação do PSOL.

"Seguirei na luta para não haja espaço para outros Fernando Cury nem nos corredores de ônibus, nos becos, vielas, nos espaços de trabalho e nos lares do Brasil", declarou a deputada, ao comemorar a expulsão de Cury do Cidadania, no ano passado.

Frente anti-Bolsonaro com MBL

O anúncio de saída do PSOL ocorre também depois de Isa Penna participar, em setembro de 2021, de atos contra o presidente Jair Bolsonaro, organizadas pelo MBL (Movimento Brasil Livre).

Isa Penna participou de atos do MBL contra o presidente Jair Bolsonaro - Reprodução - Reprodução
Isa Penna participou de atos do MBL contra o presidente Jair Bolsonaro
Imagem: Reprodução

"Vou pela democracia. Sei as muitas ocasiões em que o MBL flertou com o autoritarismo. Mas é muito importante que tenham mudado de posição e saído do governo Bolsonaro. Assim como MDB e PSDB também", afirmou Isa à época.

A boa relação com o grupo, no entanto, azedou depois de polêmicas envolvendo os deputados federal Kim Kataguiri (DEM-SP) e estadual Arthur do Val (sem partido) neste ano.

O episódio mais recente envolveu a divulgação de áudios de cunho sexista do integrante da Alesp sobre mulheres na Ucrânia, o que levou o parlamentar a desistir de sua pré-candidatura ao governo de São Paulo.

"Turistas vêm ao Brasil atrás das mulheres morenas e pretas, machistas de todo o mundo vão ao leste europeu atrás de loiras. O deputado demonstra com sua prática toda a misoginia que nós, feministas, denunciamos e combatemos. Nojento", disse a deputada ao UOL.

Antes, em debate sobre nazismo exibido pelo Flow Podcast, em fevereiro, Kataguiri sugeriu que grupos radicais ganham força quando o cerceamento de ideias extremistas é praticado em detrimento da liberdade de expressão.

"Tomei conhecimento da declaração em favor do nazismo do Kim. Espero que ele responda judicialmente, assim como o Monark. A punição não pode ser branda. Esse tipo de declaração interrompe diálogos", disse Isa à época.

Leia o que diz Isa Penna sobre desfiliação do PSOL

"Na estrada de ser mulher e parlamentar eu convivi com mulheres chefes de família, líderes comunitárias, mulheres sem-teto, moradoras de áreas de risco, sobreviventes de violência doméstica, vítimas de tráfico sexual, meninas que não tem infância, mulheres que nunca descansam, mães batalhadoras .

Fui vítima de assédio sexual e quem me abraçou foram essas mulheres. Aprendi com elas que é agindo que se sobrevive, que a coletividade é ser solidária e pensar em quem nem mesmo conhecemos, ou gostamos. Esses aprendizados me inspiraram a ter coragem nos momentos difíceis.

Sei que devo sair candidata novamente nessas eleições porque essas mulheres me chamam, cobram e me convocam todos os dias. Elas confiam em mim e eu conto com elas, escuto e me fio em suas palavras.

São 13 anos de militância desde o dia em que fui apresentada ao PSOL numa reunião de jovens militantes na PUC/SP. Sou muito grata por tudo, tinha 17 quando entrei e tenho 30 quando saio. Tenho sede de disputar a realidade.

Mudo de casa, mas permaneço na mesma rua, logo ali, no nº 65. Casa vermelha, escrito em cima da porta PC do B.

Podem nos faltar respostas, mas não pode faltar o povo. Conhecer as periferias das cidades e observar com profundidade a realidade, estar disposta a combater e ser combatida. São as características que uma parlamentar precisará nos próximos 4 anos.

Nós conjuntamente, temos que organizar as mulheres que hoje estão unidas contra a violência e o assédio sexual.

A luta é pela união do nosso povo. A cultura de rua é quem hoje na sociedade faz a maior campanha contra o genocídio da juventude e pelos direitos humanos. Enquanto a política de segurança pública os encarcera.

Organizarei uma campanha de mutirão feminista, vermelha e popular. Às mulheres do PC do B, chego para somar na vida de vocês e colocar meu coração e convicção à prova na prática.

Tenho fé em nós. Vejo revolucionários de coração em todos os partidos de esquerda, sem exceção.

Minha recepção no PC do B faz retornar ao meu rosto um sorriso de esperança e coragem para receber o futuro com os punhos cerrados e brilho nos olhos."