Topo

Pastor da campanha de Lula diz que é 'hora de o Malafaia também ouvir'

Pastor da Assembleia de Deus Paulo Marcelo Schallenberger ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) - Ricardo Stuckert/PT
Pastor da Assembleia de Deus Paulo Marcelo Schallenberger ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) Imagem: Ricardo Stuckert/PT

Colaboração para o UOL, em São Paulo

18/02/2022 14h57Atualizada em 18/02/2022 15h21

O pastor da Assembleia de Deus Paulo Marcelo Schallenberger, que se juntou à pré-campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), afirmou ao jornal O Globo que chegou a hora de o pastor Silas Malafaia, aliado do presidente Jair Bolsonaro (PL), ouvir o discurso contrário ao bolsonarismo.

Schallenberger é ex-apadrinhado político do deputado federal Marco Feliciano (PL-SP), também aliado ao presidente, e sua primeira ação na pré-campanha de Lula será participar no podcast do PT direcionado aos evangélicos. Schallenberger explicou que o apoio a Lula é uma oportunidade de abrir diálogos entre o partido e os religiosos e líderes das igrejas pentecostais.

Às vezes, as pessoas não entendem que os evangélicos não são um bloco único. O maior núcleo do bolsonarismo está nas igrejas pentecostais, principalmente a Assembleia de Deus, com a qual o PT nunca teve muito diálogo. Por isso, vamos usar a linguagem que o povo pentecostal entende. O bolsonarismo tem o pastor Silas Malafaia, e nossa intenção, guardadas as proporções, é desconstruir o que eles dizem, com discurso mais incisivo. O próprio Lula comentou que cansou de só apanhar, que chegou a hora de o Malafaia também ouvir.
Paulo Marcelo Schallenberger, pastor da Assembleia de Deus

Segundo Schallenberger, o bispo primaz do Ministério Madureira, Manoel Ferreira, encontrou com Lula no ano passado mesmo com rejeição do petista no grupo. Apesar disso, o pastor aponta para uma evolução e afirmou que Ferreira e o bispo Abner, novo líder da igreja, "estão de coração aberto" para ouvir Lula.

"O coração que está faltando é o do bispo Samuel Ferreira (líder em São Paulo). Nesse sentido, a presença de Geraldo Alckmin na chapa cai como uma luva. Como ex-governador de São Paulo, ele teve e mantém acesso a várias lideranças, como Estevam Hernandes, R.R. Soares, nomes da Universal? Ele deve encontrar o bispo Samuel", explicou.

O pastor também ressaltou haver uma divisão entre militantes da esquerda e os evangélicos e, por isso, é necessário "desconstruir os ataques" entre os grupos.

"'Quando falarem de família, eu disse ao Lula: 'Presidente, o senhor foi casado 47 anos com a mesma esposa (Marisa Letícia), e Bolsonaro está na terceira'. Não vamos fugir da pauta aborto, mas temos que separá-la: o Lula pai, avô e filho é contra, mas o Lula presidente precisa ouvir, conversar, até porque não é uma pauta unilateral, depende do Congresso."

Por fim, o pastor ainda explicou que o podcast do PT para dialogar com evangélicos tem o objetivo de mostrar as posições de Lula para os religiosos.

Os bolsonaristas usam essa linguagem [da linguagem espiritual] para manipular, então por que não podemos usá-la para libertar esse povo? Se dizem que Bolsonaro é um escolhido de Deus, por conta da facada, eu pretendo trazer outra mensagem: Lula é um homem que Deus permitiu que passasse 580 dias preso e saísse da Polícia Federal em Curitiba para ser presidente.

E finalizou: "Lula tirou milhões da fome, levou água para o sertão. Vou levar ao podcast um versículo, que eles gostaram, de um livro bíblico chamado "Lamentações", no qual o profeta Jeremias diz o seguinte: 'Quero trazer à memória o que me pode dar esperança'. Qual é a memória? Poxa, eu tinha tudo no governo Lula, e depois fui enganado".

Religiosos se afastam de Bolsonaro

Pastores que apoiaram a eleição do presidente Jair Bolsonaro, em 2018, começaram a rever suas posições e a preparar terreno para conversas com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa de outubro. Movimentações recentes de líderes evangélicos dão sinais de que Bolsonaro não terá o mesmo engajamento massivo desse segmento para se reeleger.

A tendência de figuras proeminentes de igrejas pentecostais e neopentecostais é a de adotar uma posição mais reservada, diferente da campanha escancarada de quatro anos atrás. Líderes dessas instituições mantêm interlocução com o Planalto, levando demandas por isenções tributárias, perdão de dívidas e maior espaço no governo, mas estão dispostos a negociar com quem for eleito em outubro.

Ontem, o Congresso promulgou a emenda constitucional que estende a templos religiosos alugados a isenção de pagamento do IPTU.

O pastor José Wellington Bezerra da Costa, líder da Assembleia de Deus do Belém, a mais tradicional dessa denominação, afirmou ter simpatia por Bolsonaro, mas indicou que não pedirá votos para ele neste ano. Além disso, disse estar aberto para um diálogo com o vencedor, mesmo se for Lula. O pastor já foi próximo dos governos do PT, mas apoiou Bolsonaro em 2018.

A reaproximação de Lula com o segmento tem sido promovida em várias frentes e conta com a ajuda do pastor Paulo Marcelo - que faz parte da ramificação liderada por José Wellington — e do ex-governador Geraldo Alckmin, nome cotado para vice na chapa (mais informações nesta página).

A Assembleia de Deus tem 12 milhões de fiéis no Brasil, segundo o IBGE, divididos entre diferentes alas que foram se separando ao longo dos últimos anos.

"Nós nunca tivemos problema pessoal. O presidente Lula é uma pessoa nordestina como eu, e a mim não interessa falar mal dele e de nenhum deles. Política é muito mutável, muito dinâmica. Hoje você entende uma coisa e amanhã pode entender outra. Estamos caminhando e pedindo para que Deus dê o melhor para o Brasil", afirmou José Wellington.

*Com Estadão Conteúdo