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Depois de levar livros na bicicleta, professora constrói biblioteca na BA

Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Ed Rodrigues

Colaboração para Ecoa, no Recife

28/07/2023 06h00

Nos piores momentos da pandemia de covid-19, a professora Selma Silva Rosa Abreu, de 37 anos, abriu as portas de sua casa na cidade de Tanhaçu, no interior da Bahia, para estudantes que não conseguiram acompanhar as aulas online. Ela ainda criou o projeto Biblioteca Viajante, no qual subia em uma bicicleta e levava a literatura até os pequenos que moravam em locais mais isolados.

Selma contou a sua história a Ecoa em 2021 e a exposição que teve com a reportagem a ajudou a partir para a realização de outro sonho: construir uma biblioteca comunitária.

A professora conta que, depois da matéria, sua luta ganhou tanta visibilidade que ela foi chamada para participar de programas de televisão. Em uma dessas atrações, ganhou R$ 30 mil, que ela utilizou para iniciar a construção da biblioteca.

A obra está em andamento e, como o valor para o equipamento vai além do dinheiro que recebeu, ela vai bancando do próprio bolso, com o salário que recebe em seu trabalho de agricultora. Planta, colhe, vende e aplica o dinheiro na construção do seu sonho.

"A ideia da biblioteca surgiu pela necessidade mesmo. A gente vê os alunos da zona rural sem terem um ponto de apoio à educação no campo. Isso é uma lacuna que a pandemia deixou no sistema na aprendizagem. Foi na observação dessa carência que resolvi construir uma biblioteca comunitária para ser um ponto de apoio a esses alunos", explica.

Professora - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Na pandemia, a professora levava livros de bicicleta para crianças que viviam em lugares mais remotos
Imagem: Arquivo pessoal

Internet x livros

Durante a pandemia, Selma reunia os estudantes na sua casa para que eles pudessem acessar a internet e participar das aulas online. Nesse período, sentiu falta de livros que ajudassem no aprendizado das crianças. À época, além de disponibilizar internet, buscou ajuda nas redes sociais e conseguiu arrecadar 230 livros. As doações mostraram que seria possível ampliar o trabalho montando um espaço maior dedicado à leitura. Mas faltava o dinheiro.

"Depois da matéria no UOL, muita gente se sensibilizou. Mais veículos me entrevistaram e esse espaço foi muito importante. Até que fui convidada para participar do programa 'Na hora do Faro' (atração da TV Record). Foi lá que consegui um prêmio de R$ 30 mil. Mesmo sendo uma pessoa humilde, resolvi ajudar minha comunidade rural no sertão da Bahia", conta.

O recurso foi usado totalmente na fase inicial da obra: alicerce e paredes. Segundo a professora, seriam necessários mais R$ 30 mil, aproximadamente, para o acabamento. Selma não tem ajuda do poder público e vai fazendo o que pode trabalhando na roça. "Com meu dinheiro, eu pago minha faculdade de pedagogia e ajudo também na construção da biblioteca."

Faltam recursos, existe ajuda de poucas pessoas, como alguns amigos, pessoas que acreditam nesse propósito junto comigo de levar a educação a lugares que realmente precisam.

Selma Abreu

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Selma quer fazer da comunitária um ponto de apoio educacional para as crianças da sua comunidade
Imagem: Arquivo pessoal

Ela diz que o trabalho braçal é feito pelo seu marido, com a ajuda de alguns pais dos alunos. "Ou seja, são pessoas da comunidade. Criei uma vaquinha virtual e estou torcendo para que as pessoas se solidarizem", acrescentou.

Quando estiver pronta, a biblioteca comunitária beneficiará todos os participantes do projeto de Selma, atualmente 20 alunos, e outros estudantes da rede municipal e estadual. Isso porque a professora pretende abrir o equipamento a todos os estudantes.

"Esse desejo vem do meu amor pela educação. Mesmo sem oportunidade, eu quero fazer parte dessa história. Construir uma biblioteca comunitária para ajudar os alunos da minha comunidade rural, fazer a diferença na vida desses alunos e mostrar que é possível construir um futuro melhor para as futuras gerações."

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