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Proprietário perdeu ovelhas para onças e agora ajuda a preservar o felino

Filhote de onça-pintada - Getty Images
Filhote de onça-pintada Imagem: Getty Images

Denise Paro

Colaboração para Ecoa

27/07/2023 06h00

Winston Luiz Rossato, 48 anos, criava com tranquilidade ovelhas na sua propriedade, vizinha ao Parque Nacional do Iguaçu, em Foz do Iguaçu (PR), até que em 2018 uma onça invadiu o espaço e abateu um dos animais. Naquela época, ele considerou o episódio uma fatalidade e seguiu a vida.

Porém, em 2020, o felino voltou a atacar e Winston perdeu outra ovelha do rebanho. Desta vez ficou ressabiado e resolveu pedir ajuda. Foi aí que a equipe do projeto Onças do Iguaçu entrou em ação e Winston, que antes temia a presença das onças, se tornou um aliado para a conservação da espécie.

É justamente essa virada de chave, ou seja, fazer com que a onça deixe de ser uma ameaça a fazendeiros e sitiantes e passe a ser uma amiga, que é o foco do Projeto Onças do Iguaçu, desenvolvido desde 2018 no chamado corredor verde, que compreende o Parque Nacional do Iguaçu, no Brasil, o Parque Nacional del Iguazú e outros parques provinciais argentinos, em uma área total de 528.123 hectares.

O corredor verde abriga pelo menos um terço de todas as onças-pintadas da Mata Atlântica e é considerado o habitat mais adequado para a espécie no bioma. A onça-pintada, que é o maior felino das Américas, é considerada chave para a manutenção da biodiversidade do Parque Nacional do Iguaçu.

É com muita conversa, visitas às propriedades, ações em escolas, nas comunidades e atendimentos imediatos quando uma onça aparece que aos poucos a equipe do Projeto Onças do Iguaçu, formada por biólogos, veterinários e gestores ambientais, leva fazendeiros e sitiantes a entender que fazer o manejo para evitar a aproximação das onças é muito mais inteligente do que eliminá-la.

Nos últimos 5 anos, cerca de 300 propriedades foram visitadas.

Assim, os especialistas do projeto evitam que alguns proprietários façam o abate da onça-pintada por retaliação após episódios de predação de bezerros ou ovelhas, prática antiga na região. "Há relatos de abates históricos", diz a bióloga Yara Barros, coordenadora do projeto.

O abate por retaliação e a caça de outros animais, dentro do Parque Nacional, reduz a disponibilidade de presas da própria onça-pintada, colocando-a na lista de espécies ameaçadas de extinção.

Winston cria ovelhas na propriedade - Denise Paro - Denise Paro
Winston cria ovelhas na propriedade
Imagem: Denise Paro

Uma das principais presas das onças-pintadas, o queixada, estava extinto nos últimos 20 anos no parque e voltou a ser visto a partir de 2016, o que pode ter contribuído para o aumento da população de onças na reserva, diz Yara.

Divulgado em junho deste ano, o último censo da onça-pintada realizado pelo projeto Onças do Iguaçu e o projeto parceiro, Yaguareté, na Argentina, indica que 93 onças-pintadas vivem na área verde entre o Brasil e a Argentina. A população dobrou de tamanho na última década e agora se mantém estável.

Toca da Onça

A história de Winston é um dos exemplos que deu certo. Após acionar a equipe do parque, ele recebeu orientação de como fazer o manejo adequado na propriedade a fim de evitar os ataques das onças, que não se repetiram.

A equipe do Onças do Iguaçu instalou na propriedade um aparelho chamado foxligt, que emite luzes intermitentes para afastar as onças e uma câmera de vídeo para monitorar a presença de animais. Seguindo as orientações, Winston também colocou sinos nas ovelhas e começou a fechá-las mais cedo.

Por meio da câmera de vídeo, é possível observar que a onça-pintada e outros animais ainda passam pela propriedade, no entanto, não há mais ataques.

Acertando o manejo não tivemos mais problema. Continuamos a viver em harmonia com os animais sem uma medida drástica", conta Winston.

Em razão da colaboração e do apoio ao projeto, a propriedade chamada Morada dos Ipês, que também funciona como pousada, foi a segunda situada no entorno do Parque Nacional a receber a certificação de Toca da Onça, selo destinado a locais de hospedagem. Isso significa que os proprietários apoiam à onça-pintada.

Propriedade de Winston conquistou selo de Toca da Onça - Denise Paro - Denise Paro
Propriedade de Winston conquistou selo de Toca da Onça
Imagem: Denise Paro

Para Winston, o fato de a propriedade ter o selo Toca da Onça acaba atraindo mais pessoas, principalmente estrangeiros que chegam com à expectativa de ver onça ou algum animal silvestre. Lá é comum ver tucanos, araras, iraras, esquilos, entre outros bichos.

Gestor ambiental, Thiago Reginato, diz que o manejo é importante porque um dos grandes problemas existentes hoje na região é a cultura do descarte de carcaças provenientes de animais que morrem ou são abatidos para alimentação. "Isso acaba atraindo os predadores para a propriedade".

Além de orientar o manejo, a equipe levanta as necessidades dos proprietários para evitar os ataques. "Nós avaliamos a propriedade e construímos juntos o que precisa para cada lugar", explica a gestora ambiental Aline Kotz.

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