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Como uma oceanógrafa despertou o interesse de crianças em salvar o mar

A Rede de Guardiões Mirins do Oceano proporciona às crianças experiências de aprendizagem que as conectam com o ambiente marinho-costeiro onde vivem - Divulgação
A Rede de Guardiões Mirins do Oceano proporciona às crianças experiências de aprendizagem que as conectam com o ambiente marinho-costeiro onde vivem Imagem: Divulgação

Colaboração para Ecoa, do Recife

02/10/2022 06h00

Fomentar o conhecimento sobre o mar para o público infantil: essa é a missão da Rede de Guardiões Mirins do Oceano, instituto com sede em Santa Catarina que, por meio de ações educativas, está conectando crianças de diferentes cidades brasileiras, além de já estar presente em terras portuguesas.

Criado pela oceanógrafa Caroline Schio, educadora e presidente do IMMC (Instituto Monitoramento Mirim Costeiro), o projeto envolve os pequenos, juntamente às comunidades, em ações educativas e de limpeza de praia, buscando estimular, desde cedo, a consciência ambiental das crianças.

A Ecoa, Caroline conta que a ideia surgiu durante sua graduação em oceanografia, quando se questionava sobre a importância de garantir uma formação educacional sobre o ecossistema marinho-costeiro, principalmente para crianças que vivem no litoral e possuem um contato direto com o oceano.

"Como as crianças cuidariam de um local que não conhecem, que não se relacionam ou não possuem um vínculo afetivo e emocional? Para estabelecer esse vínculo, nada melhor do que proporcionar a oportunidade de estar em contato com o mar, com a areia, com o ambiente costeiro para que possam descobrir por si mesmas que local maravilhoso é este e o porquê deve ser preservado", explica.

'Guardiães mirins do oceano'

E, para estimular ainda mais essa experiência, a profissional optou por utilizar a exploração científica como base pedagógica. A ideia é que as crianças se tornem cientistas, monitoras e guardiães mirins do oceano, aprendendo de forma prática, mas ao mesmo tempo lúdica, sobre o ambiente costeiro onde vivem.

Ao longo do programa, os alunos aprendem sobre a origem do oceano, sua importância ambiental e socioeconômica, ecossistemas marinhos, além da formação geológica das areias, a segurança no banho de mar, dentre outros. - Divulgação - Divulgação
Ao longo do programa, os alunos aprendem sobre a origem do oceano, sua importância ambiental e socioeconômica, ecossistemas marinhos, além da formação geológica das areias, a segurança no banho de mar, dentre outros.
Imagem: Divulgação

O programa é realizado nas escolas desde 2012. Ocorre durante o turno escolar com turmas do 4º e 5º ano do ensino fundamental de escolas públicas e engloba cinco oficinas alternadas entre atividades em sala de aula e saídas a campo.

"Após as saídas a campo, a equipe de educadores retorna às escolas para realizar a análise dos resultados obtidos e são produzidos gráficos, desenhos e textos sobre o que foi encontrado em cada praia monitorada. É um programa de caráter transdisciplinar, que trabalha diferentes conteúdos previstos na grade curricular do 4º e 5º ano de forma interligada. As professoras acompanham as atividades e são incentivadas a utilizar os dados obtidos nas saídas a campo em trabalhos e projetos que podem desenvolver com os alunos em diferentes disciplinas, como matemática, ciências, geografia, português e artes", conta.

Ao longo do programa, os alunos aprendem sobre os ecossistemas marinhos, a origem do oceano, sua importância ambiental e socioeconômica, além da formação geológica das areias, a segurança no banho de mar, dentre outros.

Aprendendo ciência na prática

Essas crianças passam a monitorar as praias e as condições meteorológicas do dia: cobertura de nuvens, temperatura do ar e da água do mar, direção e intensidade do vento, tamanho das ondas do mar, nível da maré e fase da lua. Avaliam a qualidade da água do mar: oxigênio dissolvido, pH, amônia, nitrito, nitrato, fosfato e coliformes fecais são analisados com um ecokit.

Também monitoram objetos na areia das praias e observam e catalogam quais estruturas existem para ordenar e proteger as praias, para que haja o mínimo de impacto possível no uso do ecossistema, bem como quais atividades são realizadas neste ambiente, como pesca, esportes etc.

"O programa é realizado no litoral sul brasileiro porque começou em Garopaba (SC) como um piloto, contudo, sempre foi nosso objetivo replicá-lo posteriormente no maior número de locais possíveis da costa brasileira, com o intuito de desenvolver uma Rede de Guardiões Mirins do Oceano, conectando as crianças para que possam trocar informações, resultados, experiências e ideias para preservar o oceano. Tornou-se uma tecnologia social reconhecida em 2017 e que, atualmente, está sendo replicada nos municípios de Ubatuba (SP), Florianópolis (SC) e em Portugal", ressalta Caroline.

Ao longo do projeto, as crianças aprendem ciência na prática, avaliando a qualidade da água do mar: oxigênio dissolvido, pH, amônia, nitrito, nitrato, fosfato e coliformes fecais são analisados com um ecokit. - Divulgação - Divulgação
Ao longo do projeto, as crianças aprendem ciência na prática, avaliando a qualidade da água do mar: oxigênio dissolvido, pH, amônia, nitrito, nitrato, fosfato e coliformes fecais são analisados com um ecokit.
Imagem: Divulgação

O programa, acrescenta a oceanógrafa, deseja proporcionar às crianças experiências significativas de aprendizagem que as conectem com o ambiente marinho-costeiro onde vivem, contribuindo para a formação de cidadãos mais conscientes, responsáveis, críticos e proativos. O objetivo é que as crianças se tornem monitores mirins costeiros e guardiões do litoral em que vivem — verdadeiras protagonistas da preservação das praias do seu município.

"Por meio da instrumentalização das crianças com ferramentas de pesquisa, provocamos nelas o senso de curiosidade, de exploração, de desbravamento e conhecimento do 'novo'. Como resultado, nota-se nelas o despertar do envolvimento e da motivação durante o processo de aprendizagem que estão vivenciando. São sensações como estas que aumentam a 'potência de ação' do indivíduo em transformar sua realidade, engajando-os na busca e construção de caminhos de transformação dos problemas que estão se deparando atualmente", destaca.

O lixo recolhido é levado para o centro de triagem da empresa responsável pela coleta de resíduos no município de Garopaba, Santa Catarina. Além das crianças, o projeto realiza ações de conscientização junto a adultos e moradores do entorno.

"Por meio das nossas ações educativas em eventos da comunidade e ao longo do verão nas praias da região, utilizamos nosso estande educativo com exemplares do acervo do Mini Museu do Mar, ecojogos e a demonstração da prática de monitoramento das praias com o objetivo de transformar o olhar das crianças e adultos para o cuidado com o oceano e com a natureza de forma geral", finaliza.