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ONG de SP ajuda 10 mil animais abandonados por mês

A diretora de marketing da AMPARA e cofundadora da instituição, Raquel Facuri - Edu Leporo/Divulgação
A diretora de marketing da AMPARA e cofundadora da instituição, Raquel Facuri Imagem: Edu Leporo/Divulgação

Lílian Beraldo

Colaboração para Ecoa, de Brasília

03/05/2022 06h00

Nas ruas das cidades brasileiras, estima-se a presença de 30 milhões de cães e gatos abandonados, sem comida, sem lar e, muitas vezes, submetidos a maus tratos. O resgate, em geral, é a primeira e mais urgente medida a ser tomada para ajudar um animal nessas condições. Mas como dar escala a esse "trabalho de formiguinha"? Com o intuito de ampliar o olhar sobre a causa animal e o número de atendidos, duas amigas resolveram se juntar e criaram a Associação de Mulheres Protetoras dos Animais Rejeitados e Abandonados, a AMPARA Animal.

Era o ano de 2010. Juliana Camargo e Marcele Becker (atuais presidente e vice-presidente da instituição, respectivamente) costumavam resgatar animais na rua, mas queriam fazer mais. "Elas então começaram a trabalhar numa ONG como voluntárias, e a dona dessa instituição falou: 'por que vocês não abrem a ONG de vocês? Mas sejam diferentes'", relembra a diretora de marketing da AMPARA, Raquel Facuri, que se juntou às amigas como cofundadora da empreitada.

A dica recebida de uma protetora mais experiente acabou definindo os rumos da instituição que começava a ser formar. "A maioria das ONGs tem um abrigo, mas a AMPARA, não. Nós trabalhamos com conscientização, castração e adoção, focando em métodos preventivos para que consigamos minimizar o número de animais abandonados no país", explica Raquel.

A partir desse olhar mais amplo, a ONG acredita que consegue chegar mais perto da raiz do problema. Com a conscientização, alerta a sociedade. A castração ajuda no controle populacional e a adoção dá um lar aos animais que hoje se encontram em abrigos ou nas ruas.

Com esse trabalho, a AMPARA se tornou, em apenas cinco anos, a maior OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) de proteção animal do Brasil.

Parceria com empresas

A quase totalidade dos recursos vem de empresas privadas que, conhecendo o trabalho da instituição, passaram a investir na causa animal. "A gente se especializou de tal forma que as empresas passaram a nos procurar. Elas têm interesse no nosso trabalho e isso é muito gratificante", diz Raquel.

Parte da verba obtida é direcionada, em forma de rodízio, para mais de 530 ONGs e protetores independentes cadastrados e ajuda a bancar ração, medicamentos e custos veterinários para cachorros e gatos. A AMPARA calcula que ajude 10 mil animais abandonados mensalmente.

"A gente trabalha de uma maneira muito transparente — temos, inclusive, auditoria interna —, profissional e contida, para maximizar os projetos, atingir o maior número de animais e tentar solucionar de vez o problema do abandono."

Em quase 12 anos de atuação, a instituição contabiliza 2,1 milhões de quilos de ração distribuídos, cerca de 186 mil vacinas aplicadas, 553,2 mil animais medicados, 39,1 mil castrados e 19,6 mil cachorros e gatos adotados. Há ainda o trabalho de conscientização e sensibilização, que já chegou a milhares de pessoas em mais de uma década.

Apoio a protetores independentes

Entre os trabalhos feitos em parcerias com empresas, Raquel destaca o "Adotar é Tudo de Bom", idealizado pela marca de ração Pedigree e gerido pela AMPARA. Parte da venda dos produtos da marca é destinada ao programa, que está presente em 11 estados brasileiros e ajuda a cuidar de milhares de cães resgatados por ONGs e protetores independentes.

De acordo com a Pedigree, o intuito é "mudar a realidade por meio da sensibilização, conscientização e mobilização da população para a causa; do apoio aos abrigos que resgatam e promovem a adoção consciente e da educação da população sobre a guarda responsável".

Moradora de São Paulo, Kylvia Rahanúzia, 45 anos, é uma das protetoras independentes que recebe apoio do programa. Ela conta que sempre esteve ligada à causa animal, mas, desde 2010, abriga animais na própria casa, onde tem espaço e tempo hábil para cuidar deles.

Kylvia conheceu a ONG em 2014, durante um evento de adoção de cães e, desde então, vem recebendo auxílio por meio do pagamento dos custos da castração e exames pré-cirúrgicos dos animais, bem como da doação de medicamentos e vacina.

Além desses recursos, ela passou a receber um número bem maior de pessoas interessadas em adotar os animais. "Com o respaldo do projeto 'Adotar é Tudo de Bom', a credibilidade do nosso projeto aumentou. Isso ajudou a dar aos nossos adotantes a certeza de que eles estão levando para casa um animal saudável, castrado e vacinado", afirma Kylvia, que estima ter ajudado mais de 1,4 mil pets desde que iniciou o voluntariado.

Vida silvestre

Em 2016, a AMPARA ampliou o seu leque de atuação e começou a trabalhar na área de proteção da vida silvestre. Com experiência em captação de recursos, a ONG funcionou, durante um tempo, como uma espécie de aceleradora dos projetos de instituições parceiras.

"As instituições têm boa vontade, mas elas não conseguem captar, não conseguem mostrar o seu trabalho, não conseguem dar vazão aos projetos. Então eles acabam ficando dois, três anos parados. E a AMPARA tem essa expertise de colocar os projetos para andar", explica Raquel.

Hoje, a AMPARA Silvestre tem um mantenedor na cidade de Amparo, no interior paulista. Ali vivem nove onças, entre pintadas e pardas, que não teriam condições de voltar a viver na natureza.

Entre os projetos da vertente silvestre está o Life Print (http://www.lifeprint.org.br/), uma parceria com marcas de moda, como a Cia. Marítima e a Animale, para que o lucro da venda de produtos com estampa animal seja revertido para a preservação da onça-pintada.

O maior projeto da linha silvestre, entretanto, foi realizado no Pantanal — local onde a ONG chegou, em 2020, para auxiliar os animais que sofriam com as queimadas daquele ano. "A gente fez a maior captação de recurso da história para conseguir fazer um bom trabalho no Pantanal. Montamos cinco pontos de atendimento com auxílio das instituições locais", conta Raquel. "No Pantanal, assim como em outros lugares, não tem um local para recepcionar um animal doente vindo da flora. A AMPARA criou esse ponto de atendimento."

Ao longo de mais de 6 meses, a campanha batizada de "Pantanal em Chamas" reuniu uma equipe de 45 profissionais para atuar em cinco bases diferentes realizando atividades de resgate, cirurgias, manutenção de recintos, limpeza e distribuição de água. A operação mobilizou 288 toneladas de alimento e mais de 7 milhões de litros de água.

Ao todo, 93 espécies foram atendidas em 451 intervenções de resgate ou atendimento emergencial, que resultaram na reabilitação e soltura de ao menos 100 indivíduos. Outros 118 foram transferidos para unidades de tratamento e reabilitação.

Atualmente, a AMPARA trabalha para montar uma sede no bioma. "Queimadas acontecem no Pantanal todos os anos. E o poder público nunca teve um planejamento ou uma estratégia efetiva para conseguir socorrer os animais. Como isso não estava sendo visto, estamos no local criando estratégias e planejamento para que tenhamos, minimamente, um local de atendimento veterinário", completa Raquel.