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Empresas mostram que é possível reduzir uso de água sem impactar lucro

Uso de água por empresas - Getty Images
Uso de água por empresas Imagem: Getty Images

Camilla Freitas

De Ecoa UOL, em São Paulo (SP)

22/03/2022 06h00

O cuidado com o meio ambiente sempre foi algo muito importante para Diogo Almeida. Quando aluno do curso de Engenharia Civil da Universidade de São Paulo (USP), a oportunidade de estagiar no Programa de Uso Racional de Água da USP (PURA-USP) foi o empurrãozinho que o levou para o trabalho que ele exerce hoje.

Almeida é diretor da AF SW Saneamento, uma empresa que mostra para outras empresas que é possível, sim, fazer um uso racional da água. Ou seja, não só economizar recursos hídricos, como também buscar novas fontes de água para além da potável.

"Quando eu e esses amigos que estagiavam comigo estávamos para nos formar, a gente participou de um evento promovido pela Empresa Júnior da Escola Politécnica, batizamos a empresa e nosso plano de negócios foi apresentado e premiado com uma inscrição no processo seletivo do CIETEC (Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia)", conta Almeida. Em 8 de maio de 2006 a Sharewater, primeiro nome da empresa, é oficialmente fundada.

Cuidando da água

Atualmente, a AF SW Saneamento atua com redes de shoppings, empresas, indústrias e concessionárias no tratamento de efluentes (águas já utilizadas), venda de água de reuso, tratamento de esgoto municipal, monitoramento do uso de água para encontrar vazamentos, entre outros.

No caso da venda de água de reúso, a prática, segundo Almeida, é mais barata e pode ser mais eficiente para as empresas. A empresa de saneamento atua com um contrato chamado B.O.T. (build, operate and transfer, ou construir, operar e transferir, em tradução livre).

Nesse caso, a AF SW Saneamento constrói um sistema de reúso na contratante, opera nesse sistema durante um período de contrato que pode durar cerca de 10 anos e vende para a contratante o metro cúbico da água de reúso fornecida.

"A economia do cliente está no meu oferecimento de água mais barata que a de concessionária. Além disso, ele vai ter um ganho muito grande de sustentabilidade e, ao final do período de contrato, ficará com o sistema de tratamento", explica Diogo Almeida.

Para além do "desligue seu chuveiro"

A economia de água doméstica é fundamental para que possamos ter água potável disponível por mais tempo. Mas não basta apenas você tomar banhos menos demorados ou fechar a torneira ao escovar os dentes para que o abastecimento de água não entre em colapso.

A indústria, por exemplo, é um setor que utiliza bastante água em sua atividade, e é considerado o terceiro setor que mais consome água das bacias hidrográficas brasileiras com 9,7% do consumo. Mas, para além do consumo em si, a indústria pode produzir a chamada poluição pontual, ou seja, águas que retornam para os rios com adição de conteúdos que alteram sua qualidade.

Antes da indústria, contudo, em termos de uso de águas de bacias hidrográficas estão o abastecimento urbano com 24,3% e a irrigação agrícola com 49,8%, segundo o documento Conjuntura dos recursos hídricos no Brasil: informe 2020 divulgado pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA).

Tratando-se apenas do consumo de água urbano, nele não constam apenas as casas mas também shoppings, universidades, escolas, hospitais e empresas. E é nesse setor, o segundo que mais consome água, e no industrial que a AF SW Saneamento atua.

Segundo o diretor da empresa, os ganhos que as empresas têm de cuidar de seus recursos hídricos, contudo, não são só ambientais como também econômicos. Uma empresa que possui maior segurança hídrica, não se torna refém de períodos de seca, por exemplo. Além disso, o ganho econômico do reúso de água é bastante considerável. Sem contar que a empresa evita problemas até judiciais por crimes ambientais uma vez que cuida de seus efluentes.

Finalmente estamos conseguindo monetizar esses diferenciais ambientais, hoje, há um ganho financeiro pela adoção de medidas sustentáveis. Quando eu comecei a trabalhar com isso, ainda como estagiário, era muito difícil conseguir mostrar o valor do nosso serviço para o cliente. Mas isso mudou desde a relação com os clientes até a avaliação da empresa na bolsa de valores.

Diogo Almeida, diretor da AF SW Saneamento

Bons exemplos

Com a ajuda da AF SW Saneamento, o Shopping Metropolitano Barra, no Rio de Janeiro, reutiliza tudo o que gera de esgoto, ou seja, ele não lança esgoto na natureza.

Referência no segmento de limpeza, a multinacional alemã Kärcher, alcançou a marca de 84% de reúso da água em suas fases de produção, em 2021, na fábrica de Vinhedo, interior de São Paulo, a única que a empresa possui no Brasil.

A economia de 84% de reaproveitamento de água é alcançada pelo sistema de captação de água de chuva no telhado da fábrica e da unidade de tratamento da unidade de Vinhedos, o que significa 2,14 milhões de litros de água reaproveitados em um mês.

Outra empresa que tem apostado na água de reúso é a Pepsico.Em sua operação de Itu, interior de São Paulo, a companhia implementou em 2021 um sistema biológico completo em que membranas de ultrafiltração fazem parte

do processo de digestão de matéria orgânica nos efluentes. O tratamento vem economizando, segundo a empresa, 60% da água consumida pela fábrica por mês. Na prática, deixam de ser gastos 12 milhões de litros de água mensais, ou o equivalente a aproximadamente cinco piscinas olímpicas.

O Centro de Pesquisa & Inovação da L'Oréal Brasil, na Ilha do Fundão, no Rio de Janeiro, já foi bastante premiado por suas práticas ambientais de uso de recursos hídricos. Entre eles a 7ª edição do Prêmio Firjan de Mérito Ambiental em 2019. O projeto Jardins Filtrantes foi o responsável pela premiação. Com um sistema natural de tratamento de efluentes, cerca de 40% da água consumida na unidade é reutilizada. O projeto também já venceu um prêmio da Conferência Mundial do Clima (COP 23).

A sociedade está entendendo que não existe jogar fora, existe estar no mundo. Se eu lanço um efluente não tratado fora da minha cidade ou longe da minha fábrica, eu sei que estou prejudicando o futuro. Essa conscientização é crescente e impacta o mercado.

Diogo Almeida, diretor da AF SW Saneamento