Topo

"É possível fazer mais", diz vice-embaixadora do Reino Unido sobre clima

A vice embaixadora do Reino Unido no Brasil Liz Davidson - Divulgação
A vice embaixadora do Reino Unido no Brasil Liz Davidson Imagem: Divulgação

Lígia Nogueira

Colaboração para Ecoa, em São Paulo

30/03/2021 06h00

Maior evento internacional do ano relacionado ao meio ambiente, a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP26) acontece em novembro em Glasgow, na Escócia. O objetivo é discutir o que tem sido feito para reverter o cenário desde o Acordo de Paris, firmado em 2015, na COP21. "Já é possível sentir o impacto negativo em nosso dia a dia, por isso é tão importante engajar as pessoas na luta climática", diz Liz Davidson, vice-embaixadora do Reino Unido, anfitrião do encontro.

Em parceria com Ecoa, a embaixada lançou uma campanha digital com uma série de conteúdos descomplicados sobre o tema. "É hora de todo mundo se engajar para enfrentar o problema das mudanças climáticas. Entendemos que Ecoa é um canal que atinge muitas pessoas e vai ser uma oportunidade inédita de entregarmos nossas mensagens a uma grande parte da sociedade", diz.

A campanha e todo seu conteúdo estão disponíveis gratuitamente nas redes sociais de Ecoa (@ecoa_uol) e da Embaixada do Reino Unido (@ukinbrazil). Novos posts serão divulgados até 22 de abril.

A seguir, Davidson dá detalhes sobre a ação e comenta os desafios que os países devem enfrentar nos próximos anos.

Ecoa - Qual a importância de engajar as pessoas comuns na luta climática?

Liz Davidson - As mudanças climáticas algumas vezes podem parecer um assunto técnico e complexo, como de fato é, mas é fundamental que todos entendam, porque já estamos sendo afetados. O impacto negativo é preocupante. Todo mundo já pode senti-lo no dia a dia. No Brasil, por exemplo, há o aumento de enchentes e tempestades, há a questão do impacto na agricultura. O Brasil produz alimentos para muitos outros países e as mudanças climáticas vão afetar o potencial do país de continuar desenvolvendo essa capacidade.

Que ações você acredita que seriam mais simples e eficientes de serem colocadas em prática por aqui?

O Brasil já tem um histórico forte de ações para enfrentar as mudanças climáticas. Um exemplo é a matriz energética, que é mais limpa do que a de muitos países. Mas todos os países precisam fazer mais do que estão fazendo, porque é preciso reduzir drasticamente as emissões neste momento, inclusive o Reino Unido. Como presidência da COP26, que acontece este ano em Glasgow, estamos tentando mobilizar governos, setor privado e investidores para reduzir as suas emissões e tomar atitudes concretas para isso.

Quais são as expectativas para a COP26 em um ano de pandemia?

A COP26 é nossa maior prioridade como missão britânica no Brasil este ano. Nosso objetivo principal é fazer com que todos os países envolvidos se comprometam a reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Temos uma campanha específica para zerar as emissões de todas as pessoas, não só os governos, mas também empresas e ONGs. E já há 80 empresas brasileiras envolvidas nessa campanha. É uma boa notícia, mas temos de fazer mais. O Reino Unido e o Brasil já fizeram um compromisso, mas neste momento os países não se comprometeram o suficiente para controlar o aumento da temperatura no mundo.

O segundo objetivo da COP tem a ver com a finalização do livro de regras do Acordo de Paris. Isso inclui a questão do artigo 6, que gerencia os fluxos financeiros possíveis para os países que vão reduzir as suas emissões. Isso é relevante para o Brasil, porque o país tem muito potencial para gerar crédito de carbono.

A terceira parte é sobre as ações no mundo real, para engajar toda a sociedade. Temos cinco campanhas para estimular o envolvimento de pessoas e empresas: tradição energética, transporte com veículos de zero emissão, soluções baseadas na natureza, adaptação, resiliência e finanças, tornando tudo isso possível.

A intenção é continuar nos programando para fazer o evento presencialmente, mas claro que vamos ter de monitorar a situação.

Pessoalmente, você adotou alguma mudança de hábito nesse sentido? O que podemos fazer individualmente para mudar a situação?

A coisa mais significativa que fiz até agora e os meus amigos também é a questão das viagens internacionais. Até alguns anos atrás foi muito comum para as pessoas que tiveram dinheiro fazer viagens para locais distantes, do Reino Unido para a Ásia, por exemplo. É possível encontrar passagens aéreas muito baratas, mas o custo ambiental disso é muito alto. Tenho visto um movimento das pessoas refletirem mais sobre o impacto ambiental de suas viagens. É um desafio para um diplomata, porque estou no Brasil e meus pais estão no Reino Unido. Agora temos a pandemia, que limitou as viagens internacionais.

Que ações o Reino Unido já está colocando em prática para atingir as metas do Acordo de Paris?

Até agora conseguimos reduzir as nossas emissões em 43% desde 1990. Já nos comprometemos para reduzir em 68% até 2030 e zerar as nossas emissões completamente até 2050. É claro que isso é um desafio muito grande e temos de colocar ações em prática para atingir essas metas. Vou mencionar o plano de 10 medidas que o nosso primeiro-ministro [Boris Johnson] anunciou no final do ano passado para uma Revolução Industrial Verde que promete criar até 250 mil empregos no país. O projeto receberá 12 bilhões de libras esterlinas em recursos públicos, com a expectativa de que o setor privado mobilize adicionalmente o triplo desse valor até 2030.

Turbinas eólicas e energia solar - Divulgação/ Governo Britânico - Divulgação/ Governo Britânico
Turbinas eólicas e energia solar no Reino Unido
Imagem: Divulgação/ Governo Britânico

O plano inclui, por exemplo, o fim da venda de novos veículos a gasolina e diesel até 2030, uma década antes do previsto, o que nos coloca no caminho de nos tornarmos o primeiro país do G7 a descarbonizar o transporte terrestre; a produção de energia eólica offshore [em alto mar] suficiente para abastecer todas as residências até 2030; e também vamos restaurar áreas públicas, plantando 30 mil hectares de árvores todos os anos.

Um anúncio feito recentemente inclui o fim do apoio a combustíveis fósseis no exterior e o investimento em renováveis. Isso quer dizer que fora algumas exceções bem específicas não vamos mais apoiar atividades no exterior que envolvam combustíveis fósseis. Ao mesmo tempo vamos investir mais em renováveis, inclusive no Brasil temos o programa de energia que inclui energia eólica e biocombustíveis.

O que você considera mais urgente que as empresas e governos façam?

O principal é a vontade política. E a mobilização da população. Uma parte importante do papel dos líderes políticos é engajar as pessoas e esta campanha faz parte do processo. É preciso que as populações entendam o problema e pressionem para que governo e setor privado ajam. Estamos vendo isso acontecer no Reino Unido entre consumidores e investidores. Há um movimento de comprar apenas produtos de empresas que comprovadamente não tenham envolvimento com o desmatamento, por exemplo.