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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O que Dandara dos Palmares, Sojouner Thuth e Nilma Bentes têm em comum?

Dandara dos Palmares, mulher de Zumbi dos Palmares, teria sido líder do exército de mulheres no quilombo - Jarid Arraes/Divulgação
Dandara dos Palmares, mulher de Zumbi dos Palmares, teria sido líder do exército de mulheres no quilombo Imagem: Jarid Arraes/Divulgação
Jaycelene Brasil

15/03/2020 04h00

Quando comecei a me debruçar sobre as nossas histórias envolvendo o protagonismo das mulheres negras, pouco ou quase nada evidenciadas nos livros, teses, filmes e nos programas televisivos, confesso que um portal se abriu. Foram muitas descobertas incríveis ao longo desse processo — nesse ínterim tive em vários momentos encontro com sentimentos como a tristeza, a indignação e inúmeros questionamentos —, que estimularam, com muita força, a curiosidade e o desejo de querer saber cada vez mais sobre as ideias, atitudes e o que levava essas mulheres a serem tão ousadas e emancipadoras.

Nos caminhos de pesquisa dessas narrativas empretecidas e seus legados que sempre foram perseguidos pelas tentativas de apagamento do pensamento e fazer das mulheres, e da valorização somente "das verdades dos homens", sobretudo o cis heteronormativo branco, foi que se deu o meu encontro com Dandara dos Palmares, a ativista norte-americana Sojouner Thuth e uma das principais lideranças do movimento negro paraense, Nilma Bentes.

É fato que há uma linha cronológica de tempo e espaço na atuação de cada uma, mas o interessante é que mesmo estando situadas em épocas diferenciadas suas vozes coadunam com o desejo de romper e desestabilizar o poderio patriarcal, a violência da estrutura escravocrata e a incansável luta pela garantia de igualdade de direitos. Os ideais feministas se cruzam quando entendemos que a luta das mulheres negras sempre foi por projetos civilizatórios na tentativa de romper com as desigualdades, ao tempo que o sonho sempre foi para alcançar um novo modelo de sociedade mais humanizada e menos segregacionista. São 326 anos da morte de Dandara dos Palmares, que foi muito além de somente a esposa de Zumbi dos Palmares.

Segundo historiadores (as), ela não se encaixava nos padrões ainda hoje impostos às mulheres, dominava técnicas de capoeira, ajudava na elaboração de estratégias para a resistência e existência do local, participou de todos os embates e defesas do quilombo e ainda exercia o papel de articuladora política em momentos de negociação. Não por acaso Dandara fora incluída no Livro dos heróis e heroínas da Pátria, que está no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, em Brasília.

A abolicionista, afro-americana, escritora e ativista dos direitos das mulheres, escravizada até os 30 anos Sojourner Thuth é autora do discurso icônico que tem 169 anos "E eu não sou uma mulher?", proferido em 1851, durante a sua participação na Convenção dos direitos da mulher na cidade de Akron em Ohio nos EUA, denunciava a violência sofrida pelo corpo feminino negro, desprovido de todas as possibilidades de garantias de direitos. Literalmente, Sojourner estilhaçava o silêncio com seus discursos denunciativos, irradiados de provocações direcionadas principalmente a seus opositores pastores homens que à época já sustentavam a ideia de que as mulheres não deviam ter os mesmos direitos dos homens.

Aportamos no Estado do Pará, Norte do Brasil que, segundo o Censo de 2010, tem 76% dos habitantes sendo a população negra. E entre esse percentual está a paraense Nilma Bentes (72 anos), engenheira agrônoma, escritora, ativista pelos direitos da mulher, uma das fundadoras do Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará (CEDENPA) e uma das idealizadoras da Marcha das Mulheres Negras que ocorreu em 2015 que levou mais de 50 mil mulheres a ocupar a avenida que dá acesso ao Congresso Nacional, onde serem ouvidas configurou como um dos principais objetivos do evento. Em uma entrevista ao Believe Earth, em 2012, Bentes afirmou que "a marcha deu visibilidade à luta reivindicatória das mulheres que ali estiveram presentes e que é muito importante vencer o imprensado do machismo, racismo e do sexismo.

E afinal, depois dessa narrativa sobre Dandara, Sojournet e Nilma, o que elas têm em comum? Bem, agora eu vou dizer: são grandes heroínas que denunciaram muitas atrocidades e os seus legados. Sem sombra de dúvidas são substâncias quem nos movimentam para o aprender e o ensinar em qualquer tempo, para gente não desistir de lutar.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.