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REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

"O que é ser jovem para você?"

Mariana Resegue atua no setor social há mais de dez anos - Arquivo Pessoal
Mariana Resegue atua no setor social há mais de dez anos Imagem: Arquivo Pessoal

Mariana Resegue*

21/02/2020 10h49

Há alguns anos coordenando o Em Movimento, uma aliança pelas juventudes, vejo e convivo com diferentes tipos de jovens e sempre me impressiono com a consciência de mundo, diversidade e potência dessas juventudes. Impressiona também a diferença de opinião das pessoas sobre o que é ser jovem.

Sempre que participo de discussões surge a pergunta acima. As respostas geralmente são muito diferentes entre si. Muitos não sabem, por exemplo, que quando falamos de jovens, estamos falando de uma ampla faixa etária. No Brasil, segundo o Estatuto da Juventude de 2013, são considerados jovens as pessoas com idades entre 15 e 29 anos. Somados, representam mais de 50 milhões de pessoas, a maior geração de jovens da nossa história.

As respostas são diferentes porque as juventudes são diversas, mas, o que geralmente escutamos é um especial foco nos problemas: os jovens são os principais responsáveis ou os que mais sofrem as consequências de grande parte dos problemas que encontramos na nossa sociedade. Desemprego, violência, uso de drogas, falta de acesso à saúde, à educação? A lista de questões das juventudes é imensa. Sabemos, por exemplo, que a taxa de homicídios atingiu mais de 35 mil jovens em 2017, segundo o Atlas da Violência ou que 23% dos jovens estão entre os considerados "nem nem". No entanto, esses números não definem as juventudes.

Quando pensamos na nossa própria experiência de ser jovem, os relatos nos contam experiências diferentes, mas alguns valores perpassam as descrições: inovação, criatividade, descoberta, experimentação. O que marca as pessoas nessa fase é um misto de novidade e insegurança, com pitadas de aventuras e esperança no futuro.

Conheci muitos jovens engajados espalhados pelo Brasil. Suas realidades são diferentes, mas o ânimo e a coragem para a mudança estão impressos na maioria deles. Os jovens querem resolver os problemas que estão aí, e estão colocando seus corpos e esforços a serviço da transformação. Quando observamos os números, não enxergamos os jovens. Quando escutamos o relato de suas experiências ou dos seus sonhos, percebemos a potência, a capacidade de resiliência e de transformação.

A questão é que em geral enfrentam o mesmo problema: têm pouco apoio. É preciso amplificar o que os jovens fazem e pensam, e para tanto, é necessário suporte de redes e de recursos.

Enquanto pensarmos as juventudes como carência ou inexperiência sem entender que existem diferentes formas de se experimentar essa fase da vida, estaremos limitando os jovens aos limites que nós, como sociedade, estamos impondo, concretizando um grande paradoxo, pois são eles os que comumente estão dispostos a enfrentar e mudar realidades. Sem os jovens, as principais mudanças que trouxeram a humanidade até aqui talvez não tivessem acontecido.

Escutar, incluir as diversidades e oferecer oportunidades são formas de garantir que todos os jovens possam vivenciar sua juventude. Precisamos garantir que eles possam experimentar, testar e principalmente errar, para encontrar o seu caminho para a vida adulta que eles mesmos escolherem.

Por isso, eu pergunto: você já parou verdadeiramente para ouvir o que os jovens à sua volta têm a dizer? Já parou para escutar o que os jovens do seu trabalho pensam, em uma conversa horizontal? No Brasil, há uma janela de oportunidade pois envelheceremos rápido: em 2060, 1 em cada 4 brasileiros terá mais de 60 anos, e nunca mais teremos tantos jovens nas futuras gerações. Estamos perdendo um imenso potencial como sociedade, e mudar isso depende de um esforço conjunto, capaz de alavancar essa geração para uma juventude viva, e no plural.

*Mariana Resegue é jornalista formada pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, e atua no setor social há mais de dez anos, apoiando nas transformações sociais para garantia de direitos. É Secretária Executiva do Em Movimento desde 2017, consultora e fotógrafa.