Noah Scheffel

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Opinião

A falta de cores no Carnaval LGBTQIAPN+

O Carnaval de São Paulo, pela primeira vez na história, terá no sambódromo um camarote dedicado à população LGBTQIAPN+. A iniciativa é vista como ótima notícia para quem não vive de fato o que espaços como estes "proporcionam" a todes. Mas, quem convive em espaços dedicados à nossa comunidade no Carnaval já imagina que pode acontecer o mesmo que acontece há anos nos bloquinhos dedicados a este mesmo grupo.

É chegada a última oportunidade de adiar o começo do ano. Após o Carnaval, o ano começa oficialmente para todo mundo. Mas, até lá, todo mundo quer brincar e se divertir. Porém, como diria minha mãe, "eu não sou todo mundo" e muita gente também não é.

Por mais que o Carnaval tenha se feito nos últimos anos uma tentativa de festa inclusiva para diversidade, quando falamos de bloquinhos LGBTQIAPN+, acabamos vendo casos e mais casos de violência contra identidades lésbicas, pessoas trans e travestis, e qualquer outro recorte ou intersecção que não seja o padrão do movimento do orgulho: o homem gay cis branco.

Nós, pessoas trans, acabamos de sair de um mês temático, o da visibilidade transvestigênere e, com isso, carregamos um fardo muito pesado para conseguir sambar. Saímos do mês de janeiro tão invisíveis quanto entramos, mas com um novo dossiê que nos coloca novamente como país que mais assassina e suicida corpos travestis e trans no mundo todo. Que tempo teríamos nós para tentar nos encaixar num bloquinho que pelo nome se diz nosso também enquanto ainda lutamos pelo direito às nossas vidas e nossas humanidades?

Ou poderíamos relatar a quantidade de vezes que já vimos casais de identidades femininas lésbicas sendo desrespeitados e tendo sua orientação questionada ou violentada por falas e atos agressivos e lesbofóbicos dentro dessa "grande brincadeira". Tais bloquinhos se diziam para elas também que, logo depois, também têm um mês temático. Em março, elas serão lembradas com uma rosa e frases de que podem estar onde quiserem? Mas elas também não são "todo mundo" no mês do Carnaval ou em qualquer outro mês do ano.

O que não está bem feito é o dever de casa de quem continua a frequentar estes espaços para excluir e agir sem educação com as pessoas que fogem do padrão da bandeira do arco-íris. Existem muitas bandeiras que fazem parte desta mesma comunidade, pena que ela não age em comunhão nem quando o assunto é se divertir. Já passou da hora de olharmos ao redor e percebermos a ausência das demais identidades e combater a violência que essas identidades sofrem caso se atrevam a tentar pular o Carnaval e se divertir.

Que a gente possa discordar das nossas mães, ser "todo mundo" e brincar sendo respeitades sem precisar nos preocupar com o que já diria Paulo Freire: quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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