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Noah Scheffel

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Será que o 'microlearning' dá certo? Prática te faz saber de tudo um pouco

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

26/09/2022 06h00

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Durante a pandemia nós vimos muita coisa se reinventar, e trazer uma versão melhorada que já poderia existir, se não fosse a urgência da necessidade. Porém, uma das coisas que se reinventaram e que tem muitos "poréns" é a educação.

Quando, em um primeiro momento de isolamento social, pudemos ver o tamanho do abismo da desigualdade de acesso à educação, em que somente quem podia pagar por ela continuava tendo acesso, ainda que meio estranho, a aulas adaptadas para o online. Estruturas de educação públicas não tiveram nem a mesma possibilidade, muito menos a mesma velocidade para disponibilizar aos estudantes que seguissem suas grades curriculares.

Eu vivi isso durante a alfabetização da minha filha mais velha, que entrou para a primeira série e teve apenas um mês de aula presencial. Depois, pelo privilégio que possui, ela seguiu estudando de forma remota, ou o chamado "ensino à distância", até o momento que os decretos liberaram as escolas a receber novamente os alunos.
Enquanto isso, quem dependia de escolas ou instituições que não são particulares, precisou se reinventar em todos os sentidos. Para esses estudantes, não havia botão a apertar para ligar uma tela e acessar um direito básico. Mas disso, nós sabemos bem.

O que nós não notamos acontecer, ou não achamos que seria assim tão relevante, foi a movimentação que as agora chamadas Edtech's fariam na democratização do acesso ao ensino no país. Enquanto estávamos com o foco no currículo e nas aulas a serem recuperadas, o mercado pipocou de novas instituições de ensino de todo tipo, toda modalidade, e com diferentes públicos alvo - inclusive aqueles com dificuldade de acesso à conexão de internet e equipamentos.

Junto destas novas modalidades de ensino, vem crescendo agora no pós-pandemia, também dentro do mercado de trabalho, o modelo chamado de "microlearning". Esse conceito de "micro aprendizagem" se utiliza basicamente de toda a estrutura tecnológica educacional que precisou se consolidar durante o período pandêmico, para disseminar conhecimento específico em pequenas doses.

Trocando em miúdos, sabe aqueles vídeos que você procurava na internet para aprender a trocar a resistência do chuveiro? Bom, agora eles existem para praticamente tudo. Te prometem que em 3 ou 5 minutos você aprende ou aprimora uma habilidade. E é assim que as organizações estão fazendo - ou dizem estar - para melhorar as competências de suas pessoas funcionárias.

Mas será mesmo que funciona? Eu ainda sou do tempo que nos era exigida graduação, leitura de uma literatura que depois podia facilmente se tornar uma biblioteca, e muita pesquisa para dizer que se conhecia sobre um assunto.

A promessa agora é que através do "microlearning" você tenha acesso a conteúdos objetivos e de fácil absorção, por serem trazidos em uma linguagem fácil e acessível, e assim aprenda sobre um novo assunto, uma nova habilidade, ou uma nova competência para sua carreira. Rápido, sem perder tempo, e o principal: sem parar de produzir.

Se olharmos pelo lado de que estamos com a vida cada vez mais corrida, talvez esse novo conceito faça sentido. Porém, ainda me questiono por qual motivo não paramos de tentar tapar o sol com a peneira criando mil e uma soluções para encaixar tanta coisa nas mesmas 24 horas que o dia sempre teve.

Honestamente, eu ainda prefiro o profundo de um tema que interessa à minha carreira ou vida pessoal, do que uma provável rasa amostra paga que talvez resolva um problema pontual. E não, não pense que por ser rápido, este tipo de ensino é sempre grátis.

Caso essa realidade ainda não tenha chegado até você, recomendo que mantenha a mente aberta. Ao menos era isso que diziam no filme Matrix, de 23 anos atrás, quando conectavam um cabo na cabeça do protagonista, e em segundos ele aprendia uma nova habilidade. Nada me tira a certeza de que o "microlearning" surgiu da cena do Neo aprendendo a pilotar um helicóptero com alguns comandos digitados num teclado.

Não importa quantos anos passem, a gente sempre segue perseguindo a ficção, mesmo que ela esteja lá no futuro. Tomara que nesse "meio", a gente não esqueça de focar no presente, e nas soluções que precisamos para o agora. Ainda que elas exijam dedicação de mais do que 3 ou 5 minutos do nosso tempo.