Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Depois do Censo, o Brasil no fosso
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Foi o Facebook (o mesmo que deu pane na semana passada) que lembrou: há dois anos, recebia pelo Projeto Colabora, uma das mais importantes congratulações no país para o ofício da comunicação: o Prêmio Vladimir Herzog, pela série "Sem direitos - o rosto da exclusão no Brasil", feita em parceria com a Amazônia Real e a Ponte Jornalismo.
A reportagem especial debruçava-se sob aqueles que não tinham acesso a cinco eixos: educação, proteção social, moradia adequada, saneamento e internet. Ao longo do trabalho, mais um pilar foi incluído, o primordial para todos os demais: o direito à vida. O referencial para a publicação foram dados extraídos da pesquisa de indicadores sociais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, de 2017 e 2018.
Nossa lupa de apuração procurou, em personagens, retratar os números que nos faziam ter a dimensão de que, mesmo nos anos em destaque, faltava a garantia de acessos previstos por uma Constituição, e que ainda assim não eram vividos na totalidade.
Era a falta da falta - com perdão da repetição - em um país sem leitura profunda a completar década.
Eis que o tempo passou e muitas águas rolaram. No meio dessa pororoca de acontecimentos, uma pandemia atravessou todos os eventos e o governo federal, único a poder exercer sua função de amparar a sociedade em larga escala, omitiu-se. Apostando contra a própria população, creditou sua má-fé em "achismos", dando de ombros para situações alarmantes sabidas antes da crise sanitária.
Na última semana, o IBGE enviou uma previsão de custos da consulta pública à Procuradoria-Geral Federal, órgão da Advocacia Geral da União. O orçamento pedido, quase em forma de súplica, é de R$ 2,3 bilhões. O Ministério da Economia, comandado por Paulo Guedes, liberou apenas R$ 2 bi.
Para um país que se desconhece há 12 anos, tendo atingido recentemente a marca de 600 mil vidas perdidas para a covid-19, é inaceitável um estica e puxa para realização do maior estudo sobre si e seu povo. Somente por meio dessa análise, por exemplo, poderemos ter noção de quantas pessoas, de fato, estão em insegurança alimentar, sem emprego e demais situações. Quantas jovens e adultas necessitam de absorventes, por exemplo. E ainda faltará braços para chegar nos lugares mais distantes.
Mais do que nos ver defronte um panorama de desmonte ainda mais agravado pela gestão de Jair Messias Bolsonaro, é experimentar o que pode se dar quando o Brasil real se encontrar no fim da pesquisa. O fosso é profundo demais, o trabalho para mitigar os impactos é grande e os operários são poucos. Comecemos ontem a arregaçar as mangas.
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