A Justiça brasileira só salva quem tem Porsche
Imagine ter um Porsche, matar uma pessoa e sair ''impune'', sem ter sua prisão decretada. Foi o que aconteceu com Fernando Sastre de Andrade Filho, 25, que na noite do último domingo (31) provocou um acidente enquanto pilotava um carro de alta performance, como se estivesse dentro de um autódromo.
O saldo do "pódio" não foi nada agradável: a morte de Ornaldo da Silva Viana, 52, que estava dentro de um Sandero, automóvel que usava para atuar como motorista de aplicativo.
A história que envolve um Porsche 911 Carrera GTS, avaliado em R$ 1 milhão, e também um dos mais populares modelos da Renault, explica o Brasil e seus tribunais, que contribuem dia sim, dia também, para que o ilícito permaneça. ''É assim, deixa estar'', e nada muda. Até porque, parece ser mais educativo manter "livre" uma pessoa que tira uma vida, do que colocá-la sob a responsabilidade e proteção do Estado, só que numa cela.
Riscamos no chão a desigualdade social, além de abrir prerrogativas para que outros crimes da mesma proporção aconteçam, sendo analisados da mesma maneira. O que seria contrário se a vítima fosse o dono do Porsche. Estardalhaço, gritaria e confusão, com notas presidenciais sobre o acontecido.
Sou levado a refletir de maneira mais profunda: o quanto de desumanidade podemos chegar para que possamos retornar à humanidade. Falamos também sobre nossa apatia, ou naturalização, em que lidamos com o fato de acharmos "normal" um episódio como esse ser respondido dessa maneira. Onde um pedido de prisão é expedido pela Polícia após o depoimento, mas a Justiça nega, em juízo, por falta de preenchimento dos requisitos autorizadores de tal prisão. Mesmo quando testemunhas atestam que o dono do carro que cometeu o crime ''tinha sinais de embriaguez, voz pastosa e estava cambaleando''.
Para a sociedade, o resumo é um só: o crime compensa. E aqui, valem (e muito) as fartas quantias depositadas nas contas bancárias, além dos valores resumidos em quatro rodas, nas garagens que denotam mais prepotência e arrogância, do que propriamente a sabedoria para condução.
Fica no ar a pergunta: quem é que se importa com quem está no Sandero?
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