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Não é só gasolina: por que preços do etanol também dispararam nos postos

Bomba de etanol  - ICARO LIMAVERDE/ESTADÃO CONTEÚDO/AE
Bomba de etanol Imagem: ICARO LIMAVERDE/ESTADÃO CONTEÚDO/AE

José Antonio Leme

Do UOL, em São Paulo

05/11/2021 04h00

Os aumentos nos preço dos combustíveis têm sido uma constante na vida do brasileiro, semana após semana. Os aumentos da gasolina e do óleo diesel estão condicionados, entre outras coisas, a variação do dólar e do preço internacional do petróleo.

Mas e o etanol? O combustível derivado da cana-de-açúcar também tem apresentado diversos aumentos - na cidade de São Paulo, o último reajuste foi 5,07% em relação à semana passada.

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A média do preço do etanol é de R$ 5,449 no Brasil, em outubro. O último mês de baixa dos preços foi em abril e desde então está 19% mais caro. Os dados são de um levantamento da Ticket Log.

Mas se ele não é associado ao petróleo, porque tem sofrido tantos aumentos? A resposta, particularmente para este ano, vem de uma soma de fatores e problemas.

A diretora de rede da Ticket Log, Anelise Santos, pontua que o etanol sempre acompanha os aumentos da gasolina. "Toda vez que a gasolina sobe, o etanol acompanha para regular o mercado", diz.

O motivo do etanol sempre acompanhar os aumentos é para que exista um equilíbrio e seja possível manter os estoques. "Se o etanol for muito mais vantajoso que a gasolina, as pessoas utilizarão muito mais, e não terá para todo o ano", completa.

Santos coloca também como questão a valorização de outro produto da cana com o dólar nas alturas: o açúcar. Isso leva os produtores a escolherem fabricarem açúcar em detrimento do etanol.

O diretor técnico da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Antonio de Padua Rodrigues, pontua sobre a máxima que rege o mercado em qualquer produto: oferta x demanda.

"A principal questão é que a oferta é menor do que a demanda e isso é o que tem feito subir o preço do etanol".

Além disso, três fatores afetaram a produção de cana-de-açúcar em 2021 e reduziram a expectativa do que seria produzido em 85 milhões de toneladas - para 520 toneladas no ano contra 605 toneladas em 2020.

"Uma geada em julho, as questões climáticas - de seca prolongada e falta de chuva - e as queimadas afetaram a produção", afirma Padua. Vale lembrar que queimadas pioram ainda mais a estiagem que já é comum no meio do ano nas regiões sul e sudeste.

Como referência, a redução esperada na produção da safra 2021 equivale a produção inteira de alguns Estados ou até mais. Em Goiás, a safra gera cerca de 70 milhões de toneladas de cana, enquanto todo o Nordeste entrega, em média, 50 milhões, para ter uma base.

O produtor que mais sofreu com essas interferências climáticas foi o estado de São Paulo, que também é o maior produtor individual de cana-de-açúcar.

Na prática, isso significará 3 bilhões de litros de etanol a menos. Essa produção é dividida entre o etanol anidro (puro), que é usado na mistura de até 27,5% na gasolina, e o etanol hidratado, que é o que encontrado diretamente na bomba de combustível.

Em 2021, segundo a Unica, foi preciso aumentar a produção de etanol anidro para adicionar a gasolina, o que também acaba por alterar o valor do etanol hidratado na bomba de combustível. A estimativa é que a participação do etanol hidratado caia de 27% no ano passado para 22% em 2021.

plantação de milho - Divulgação/Governo M. Grosso - Divulgação/Governo M. Grosso
Imagem: Divulgação/Governo M. Grosso

Milho também vira etanol

Apesar de a produção por meio da cana-de-açúcar representar a maior parte, o milho também tem sido usado para produzir etanol no Brasil. Dos 24,9 bilhões de litros de etanol projetados para 2021, 3,5 bi serão de etanol de milho - 14% da produção.

Hoje, os maiores produtores de milho no País são os estados de Mato Grosso e Goiás. A facilidade do milho no uso para produção do combustível vegetal é o fato de que a sua safra dura os 12 meses do ano, enquanto a safra da cana perdura entre abril e março.

Evolução genética da cana pode melhorar produção

O Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) é um polo de estudos e desenvolvimento de pesquisas localizado em Piracicaba (SP), que tem trabalhado para melhorar a produtividade da cana por meio da biotecnologia e melhoramento genético.

Na prática, é um grupo de cientistas que conduzem pesquisas, testes e criações aperfeiçoar a cana-de-açúcar para conseguir melhorar a produtividade, ou seja, fazer com que ela possa render mais, sem precisar aumentar a área plantada.

Render mais significa adaptar diferentes genes da cana para as diferentes regiões onde ela é produzida no Brasil, garantir o maior crescimento de cada planta e até melhorar, sem defensivos, a resistência da planta a ataques de bichos e insetos.

O CTC também trabalha em um protótipo de semente sintética, que facilitaria o plantio e a rapidez no início de uma nova safra, já com sementes com as melhorias citadas acima, mas essa tecnologia ainda não está pronta para uso.

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