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Carro alegórico tem motor, não obriga CNH e anda com ajuda de 25 pessoas

Um dos carros da Acadêmicos do Tatuapé, no Carnaval 2018; escola é a atual bicampeã do Grupo Especial em São Paulo - Ricardo Matsukawa/UOL
Um dos carros da Acadêmicos do Tatuapé, no Carnaval 2018; escola é a atual bicampeã do Grupo Especial em São Paulo
Imagem: Ricardo Matsukawa/UOL

Alessandro Reis

Do UOL, em São Paulo (SP)

01/03/2019 07h00

Resumo da notícia

  • Veículo das escolas de samba de SP é feito sobre chassi de caminhão
  • Carros da Acadêmicos do Tatuapé têm motorista reserva e monitor de vídeo
  • Condutor anda a cerca de 5 km/h e não passa da 2ª marcha
  • Carro alegórico tem de passar por vistoria de segurança

Quando as escolas do Grupo Especial do Carnaval de São Paulo começarem a desfilar pelo sambódromo do Anhembi, na noite desta sexta-feira (1º), boa parte das atenções do público estará voltada aos carros alegóricos. Para saber como esses carros funcionam e são conduzidos, UOL Carros falou com membros da Acadêmicos do Tatuapé, atual bicampeã em São Paulo.

Gigantes, pesados e muitas vezes carregados de pessoas, eles têm de ser conduzidos com todo o cuidado e com precisão -- afinal de contas, cada agremiação, com milhares de integrantes, tem entre 50 e 65 minutos para percorrer os 560 m da passarela paulista.

No caso da agremiação, todos os cinco carros alegóricos são montados sobre chassi de caminhão, tracionados por motor a diesel, equipados com freios, volante e câmbio e dirigidos por motoristas experientes e habilitados para guiar carretas. No Carnaval paulista, porém, nem todos os carros de todas as escolas são motorizados.

Como é um carro do samba

De acordo com Antonio Carlos Castro, o Toninho, diretor de alegoria da Tatuapé e responsável pela montagem dos carros da escola, "o regulamento não exige CNH, mas orienta que os motoristas sejam habilitados".

Ele acrescenta que cada veículo da escola conta com pelo menos três pessoas em seu interior apenas para ser conduzido -- um motorista titular, outro reserva e um terceiro integrante que conversa via rádio com a equipe externa para ajudar a orientar o condutor.

UOL Carros procurou a Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo, que confirmou, através de seu setor de comunicação, que o regulamento não exige que motorista do carro alegórico tenha CNH, uma vez que o veículo é uma alegoria que só será movimentada no sambódromo, durante o desfile. Mas há uma "orientação" para que o motorista do carro alegórico seja experiente e, se puder, habilitado. 

No único contato com vias públicas, quando são deslocados dos barracões até o Anhembi, há escolta de agentes de trânsito.

O diretor da Acadêmicos do Tatuapé diz que, dependendo das alegorias, os carros podem levar até 25 pessoas em seu interior, contando os três condutores.

Cada carro pode ter ainda geradores de eletricidade para acender luzes e outros mecanismos cênicos. "Este ano teremos carros com bolhas de sabão, fumaça e máquina lançando papel picado. São itens que precisam ser operados por integrantes da agremiação".

Como não existe um para-brisa e a visão do motorista é completamente coberta, uma ou duas câmeras instaladas na dianteira do carro alegórico são conectadas a um monitor de vídeo na "cabine", para evitar a condução às cegas.

Motor é permitido há pouco tempo em SP

Além do trio, cerca de 25 pessoas -- da chamada "turma da merenda" -- ficam posicionadas atrás de cada veículo para empurrá-lo, em caso de pane mecânica, para não prejudicar a apresentação. "Os 'merendeiros' também são importantes para preservar a embreagem do carro alegórico na arrancada, ajudando no movimento inicial das rodas", diz Toninho.

Ele explica que atualmente a maioria das agremiações utiliza veículos motorizados, mas isso é permitido em São Paulo apenas há poucos anos. Antes disso, apenas a tração humana era liberada pela Liga.

A Tatuapé vai levar os cinco carros permitidos pelo regulamento. O "abre-alas" é formado por três veículos interligados, enquanto os demais são uma espécie de bitrem. O motor vai sempre na dianteira. Segundo Toninho, cada carro alegórico precisa rodar a velocidade bem baixa e de forma orquestrada, para não adiantar a apresentação nem formar "buracos" na pista, quando diferentes alas se distanciam -- o que também rende perda de pontos.

No geral, cada carro permanece cerca de 25 minutos na avenida durante o desfile: "O motorista não passa da segunda marcha".

Segurança é fundamental

Cada veículo do Carnaval de São Paulo tem de ser submetido a um laudo técnico (a "Anotação de Responsabilidade Técnica", ou ART), contratado junto a empresas de engenharia habilitadas pelo Crea (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia). Esse laudo, segundo a Liga, atesta que o veículo é seguro e, sendo motorizado, traz a identificação de quem guiará o veículo.

Toninho, da Acadêmicos do Tatuapé, destaca que todos os anos os carros alegóricos passam por revisão completa, incluindo troca da embreagem e verificação de freios e caixa de direção, bem como lubrificação das rodas.

São cuidados para evitar tragédias como a do carro alegórico da Acadêmicos de Tuiuti, no Rio de Janeiro, que em 2017 ficou desgovernado na pista da Marquês de Sapucaí, atropelando 20 pessoas e matando a radialista Liza Carioca.

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UOL Carros