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Twitter questiona campanha da Chevrolet falando de "retomada da cidade"

Chevrolet Tracker ganha turbo e cara de Cruze

UOL Carros

Leonardo Felix, Eugênio Augusto Brito

Do UOL, em São Paulo (SP)

18/11/2016 16h05

Faça um experimento: entre no site do YouTube e a primeira coisa que você verá, em primeiro plano, será a frase "Retome o que é seu por direito". Sim: em tempos de debate intenso sobre mobilidade urbana e retomada do espaço público, a General Motors quer pegar carona na discussão... para vender mais carros e SUVs.

Com o slogan acompanhado da hashtag #retomaracidadeeh ("Retomar a cidade é..."), a campanha pegou mal, em princípio, entre defensores de um sistema de mobilidade que descentraliza a importância do automóvel e é retrucada nas redes sociais.

Boa parte dos usuários do Twitter critica o uso do tema associado a carros...

... e fazem questão de deixar isso claro:

Outros simplesmente não sacaram a ideia por trás da campanha:

E teve quem até tirou uma com o próprio nome da Chevrolet:

Mas teve quem compreendeu a ideia da marca:

No YouTube, o vídeo principal já foi visto mais de 400 mil vezes. Teve pouco mais de 4 mil curtidas até o momento deste texto, mas também pouco mais de 2 mil negativadas.

No Facebook, o clima é mais positivo à marca: uma discussão sobre o manifesto feita pela marca com celebridades -- da cineasta Marina Person ao empresário Facundo Guerra -- teve mais de 1,5 milhão de visualizações e muitos comentários positivos. 

E qual era a ideia?

Luis Felipe Teixeira, gerente de marketing da fabricante, explicou que a frase foi usada propositalmente para "suscitar o debate".

"O medo e a insegurança fizeram as pessoas parar de sair de casa. Queremos incentivá-las a ir mais para a rua, e não apenas de carro. O carro entraria como um "amigo", e não um inimigo, de uma cidade com transporte e pessoas mais integrados", argumentou.

Foram produzidas, ao todo, 41 versões de um vídeo que exibe mensagens sobre respeito a mulheres, ciclistas, leis de trânsito e regras de convívio social, além de estímulo a atividades como "correr à noite no parque". Cada peça possui três ou quatro mensagens, sempre selecionadas para ter "mais a ver" com quem está assistindo.

Há frases motivacionais, pensatas e questionamentos sobre rixa esportiva, política, cultura, estilo de vida, educação, segurança pública, machismo etc.

Mas a ideia tem ligação, também, claro, com a venda de carros, conforme apontou outra fonte ligada à marca. "Se o velho Tracker andava de marcha à ré em termos de vendas, o novo é um carro perfeito para o uso urbano e vamos explorar isso ao máximo", afirmou.

"Ele é compacto e fácil de estacionar em vagas apertadas, tem motor turbo bastante ágil, bom câmbio de seis marchas, conexão com smartphones, OnStar que dá segurança e praticidade no uso urbano", enumerou o funcionário ligado à Chevrolet, para emendar: "Fica mais fácil aproveitar essa retomada do espaço urbano a bordo de um carro desses. E se antes as marcas podiam se dar ao luxo de ficar sobre o muro, na era da conectividade total e interatividade isso não é mais possível. Talvez assuste [a algumas pessoas] estarmos nos posicionando, mas sabemos que vamos colher os frutos", disse.  

Luis Felipe Teixeira, do marketing, concorda com essa objetividade do discurso da marca: "O brasileiro passa, em média, três horas e meia por dia na internet. E, segundo nossos estudos, a decisão de compra de um veículo inclui, em 90% dos casos, pesquisas online. Sendo assim, ao invés de atingir 40 milhões de pessoas de uma só vez com uma propaganda no intervalo do Jornal Nacional, preferimos tentar conversar com um público menor, porém mais bem direcionado".

Leia abaixo o texto principal da campanha inicial da Chevrolet sobre o Tracker, que gera discussão na web:

"A cidade não é de quem não respeita o ciclista.

Não é porque você paga impostos que pode ligar o som no volume que quiser.

Não é justo que seu lixo seja um problema nosso.

Rivalidade não é desculpa para intolerância.

Não vou me sujeitar a nenhum padrão de beleza para entrar na sua balada.

Não vou deixar de correr à noite por medo de assalto.

Quem decide se skate é coisa de mulher sou eu.

Não é porque votei num candidato diferente do seu que sou uma ignorante.

Não é porque você é mãe que pode parar em fila dupla.

Não é porque meu palco é na rua que você não vai me respeitar.

A cidade tem muito a evoluir, mas é bom saber que a mudança já começou."