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Por que Audi A3 chega à 4ª geração como ícone da paixão por carros

Audi A3 Sportback - Divulgação
Audi A3 Sportback Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

29/12/2021 04h00

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Quando penso nos carros que mais representam a paixão por automóveis, estão no topo da minha lista: Porsche 911 e BMW Série 3. Não à toa, fiz esse comentário na última quarta-feira (8), durante a entrega do Prêmio UOL Carros, no qual ambos eram finalistas na categoria "Esportivos" - um com a versão M3 e o outro com a GT3, que levou a melhor.

Porém, pensando em Brasil, dá para colocar um terceiro modelo nessa lista: Audi A3 Sportback. O hatch não carrega toda a história do Porsche e do BMW, que existem há muitas décadas e têm quase uma dezena de gerações.

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O Audi, lançado no fim da década de 90, está em sua quarta geração. É um carro mais recente, assim como sua marca, resultado da reunião de outras quatro antigas montadoras (que representam as quatro argolas de seu logo). Mas, quando surgiu no Brasil, quase de cara com produção nacional, o A3 cativou os consumidores.

Assim como a juventude dos anos 80 e 90 sonhava como Gol GTI, Kadett GSI e Escort XR3 quando pensava em esportivos, o A3 fez a cabeça da geração do início dos anos 2000. Para quem era apaixonado por carros, e mesmo para aqueles não muito entusiastas, o sonho era ter o Audi.

Ele era um símbolo de sofisticação e esportividade com as quais o brasileiro não estava acostumado. Afinal, as importações haviam sido reabertas no governo Collor, no início dos anos 90, e as marcas de luxo ainda tinham uma atuação discreta. O A3 viria para mudar isso.

Construção da imagem

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A Audi era uma marca ainda jovem e completamente desconhecida no Brasil. Vinha para concorrer principalmente com dois ícones históricos, BMW e Mercedes-Benz. Porém, em pouquíssimo tempo, tornou-se muito desejada no mercado brasileiro.

Uma das razões foi o trabalho de marketing com foco em lifestyle. A Audi foi trazida ao Brasil por ninguém menos que Ayrton Senna em 1994 e apresentada ao público por meio de grandes eventos, inclusive no autódromo de Interlagos. Senna, no entanto, não viveria para ver a estreia da montadora no Brasil - morreu em maio daquele ano.

O comando ficou com seu irmão, Leonardo, e o sócio Ubirajara Guimarães, que investiram fortes em ações marcantes no Campo de Marte e em eventos focados no público alvo, como patrocínio a festas em ilhas em Angra dos Reis. Mas o salto da empresa, já com terreno preparado, veio com a produção local do A3 de primeira geração, seis anos depois.

Ele era um carro de uma marca que já havia construído uma imagem de luxo no Brasil. E, com a nacionalização, estava ao alcance de mais pessoas. Não era um automóvel barato, mas era um premium que mais clientes podiam comprar.

Lembro-me que ele custava R$ 10 mil a mais que o Golf, o que era bastante dinheiro na primeira metade dos anos 2000. Muitos conhecidos, jovens, acabaram comprando o VW, à espera do sonhado Audi.

Numeroso nas ruas do Brasil, o A3 ganhou reputação de esportividade que um rival feito no Brasil à época, o Classe A, não conseguiu conquistar. Na primeira geração, o Mercedes-Benz tinha um jeitão de minivan familiar - só viraria hatch médio de verdade depois - e uma cabine claramente menos luxuosa que a do Audi.

Fim e retomada da produção

O A3 disse adeus à fábrica de São José dos Pinhais (PR) em meados dos anos 2000, quando a matriz da Audi assumiu 100% da operações da marca no País. A segunda geração foi lançada com uma estratégia que não deu lá muito certo, investindo em uma versão de entrada com motor 1.6 defasado.

O objetivo era continuar cativando os clientes do antigo A3. No entanto, acostumados ao luxo que o modelo nacional oferecia, eles não estavam interessados em uma versão "pelada" do modelo.

Na terceira geração, o modelo voltou a ser montado em São José dos Pinhais, mas desta vez em uma nova versão de carroceria, a sedã. No período entre as gerações, a carroceria hatch perdeu apelo no segmento de médios, e hoje é praticamente inexistente no mercado nacional. O único feito no Mercosul é o Chevrolet Cruze Sport6. Ícones como Golf e Focus deixaram o País.

A quarta geração

No intervalo entre o modelo anterior e o atual, lançado recentemente, até o segmento de sedãs médios perdeu apelo. Agora o brasileiro só quer SUVs. Fora eles, compram picapes, por necessidade, ou hatches compactos, por não terem ainda poder aquisitivo para os utilitários-esportivos.

Nesta semana, a Audi anunciou a retomada da produção no Paraná, a partir de meados de 2022. O Q3, e seu derivado Q3 Sporback, foram os escolhidos. A linha A3 ficou de fora.

O hatch, desde o início, não tinha a mínima chance. Havia alguma esperança apenas para o sedã. Não faz sentido investir na nacionalização de um carro de segmento morto. Porém, a quarta geração vem com os mesmos atributos que consagraram o modelo: luxo e esportividade.

Isso com uma boa pitada de conectividade que é essencial nos carros de hoje. Faltam sistemas de assistência à condução, por causa da escassez de semicondutores na indústria mundial. Mas o jovem de 20 anos atrás que hoje tem poder aquisitivo para levar um A3 para casa talvez se importe pouco com isso, pois tende a valorizar o prazer de dirigir.

E isso o carro oferece de sobra. Vai ser modelo de nicho, mas tem tudo para conquistar aqueles que sonhavam com ele tanto tempo atrás.

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