Paula Gama

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Montadoras chinesas vendem cada vez mais, mas lucram menos que rivais

Em todo o mundo, as tradicionais montadoras enfrentam a concorrência chinesa, com uma verdadeira enxurrada de veículos novos, tecnológicos e mais baratos em relação a modelos da mesma categoria produzidos no Ocidente. Um estudo realizado pela Jato Dynamics Itália mostra que a briga por mercado tem seu preço: apesar de venderem muito, as margens de lucro dessas gigantes são bem apertadas.

Em seu estudo, Felipe Muñoz, analista da Jato Dynamics Itália, compara os resultados financeiros de BYD e Great Wall Motors (GWM) com o de marcas como Stellantis, Kia e Toyota. E o cenário, segundo ele, é um bom exemplo do que é hoje a prioridade da China: volume.

"Eles querem expandir os seus negócios fora da China, o que significa que precisam se estabelecer em todo o mundo através de novas redes de distribuição e serviços, e de novas fábricas para localizar a sua produção. Tudo isso significa maiores despesas operacionais e menores lucros", avalia.

A BYD vendeu 62% mais carros em 2023 do que em 2022 e ficou entre as 10 marcas mais vendidas no mundo. Consequentemente, as suas receitas aumentaram 34%, para 76,8 mil milhões de euros. No entanto, a empresa só conseguiu faturar 4,8 mil milhões de euros, ou 6,3% da receita.

Embora estes sejam resultados positivos, a margem está bastante distante de alguns dos seus pares ocidentais. Enquanto a BYD faturou 1.600 euros por unidade vendida em 2023, um grupo como a Stellantis ganhou 3.624 euros por unidade.

Um exemplo ainda mais forte é a GWM. Sua margem caiu de 4,8% em 2022 para 1,6% no ano passado - ganhando apenas 284 euros por carro vendido. A Toyota, por exemplo, faturou 2.780 euros por veículo no ano passado.

União Europeia entra na briga

Desde setembro do ano passado, a União Europeia vem discutindo formas de frear a concorrência chinesa no mercado automotivo. Para o bloco, o governo chinês oferece incentivos para ganho de mercado tão grandes que distorcem o setor - mas nunca ficou claro quais seriam esses benefícios.

"Os mercados globais estão agora inundados com carros elétricos mais baratos. E o seu preço é mantido artificialmente baixo por enormes subsídios estatais", disse a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, no seu discurso anual ao parlamento do bloco.

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O incômodo da União Europeia ficou tão grande que foi iniciada uma investigação para entender o quanto esses subsídios impactam o mercado, sob pena de aplicação de taxas acima de 10% para coibir a "invasão" de carros elétricos produzidos na China nos países do bloco.

Já a China considerou a investigação um ato protecionista que "perturbará e distorcerá seriamente a indústria automotiva global e a cadeia de fornecimento, incluindo a UE, e terá um impacto negativo nas relações econômicas e comerciais entre China e União Europeia", afirmou, em nota à Reuters, o Ministério do Comércio da China.

Subsídios à parte, o que se sabe é que a China investiu pesado na fabricação de carros elétricos nos últimos anos, conquistando um volume de produção que permite a compra mais barata de insumos. Aliados à priorização do volume em detrimento da margem de lucro, esses fatores ajudam a explicar o preço mais baixo dos produtos.

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