Elétricos abaixo de R$ 100 mil derrubarão os preços de carros 'normais'?
Desde que a nova onda de carros chineses invadiu o Brasil, em meados de 2023, o preço dos carros elétricos e de parte dos híbridos foi reajustado para baixo no país. Apesar dos descontos altíssimos, que chegaram a R$ 50 mil em alguns modelos a bateria, o consumidor ainda questiona se esse efeito chegará aos veículos de volume, ou seja, hatches e SUVs a combustão de marcas generalistas. A resposta é que a primeira peça do efeito dominó já pode ter sido derrubada no segmento.
Nesta semana, a Volkswagen anunciou uma redução de até R$ 6,4 mil no preço do Taos, seu SUV que concorre diretamente com Jeep Compass, Toyota Corolla Cross e as "novidades" chinesas GWM Haval H6 e BYD Song Plus. A última dupla, além de híbrida, tem como foco impressionar o consumidor com a quantidade de tecnologia e itens de conforto embarcados.
A ideia é, justamente, balançar o mercado com base no custo-benefício. Na prática, o Taos caiu de R$ 186,2 mil para R$ 181,3 mil na versão de entrada, e de R$ 212,4 mil para R$ 205,9 mil na topo de linha.
Essa preocupação com a redução de preço dos modelos eletrificados não é restrita ao mercado brasileiro. Praticamente todo o mundo luta contra a concorrência chinesa, criando-se uma corrida pelo primeiro carro elétrico abaixo de 20 mil dólares. Para se ter uma ideia, a Tesla reduziu preços de alguns de seus modelos para bater de frente com BYD.
Sobre a estratégia, Carlos Tavares, CEO global da Stellantis, grupo que detém o controle de marcas como Fiat, Peugeot e Jeep, disse que esse jogo "será uma corrida para o fundo do poço e isso terminará em banho de sangue" - se referindo à queda nas margens de lucros das montadoras.
E o Brasil?
O consultor automotivo Cássio Pagliarini, da Bright Consulting, explica que o cenário pode mudar bastante no Brasil com a chegada do BYD Dolphin Mini, um elétrico que deve custar na faixa de R$ 100 mil e disputar no segmento de veículos compactos a partir da semana que vem, quando será lançado.
"A ameaça de preço existe. O ticket médio de carros novos no Brasil é de R$ 148 mil. Com certeza, a presença desses veículos afetam os modelos a combustão e devem afetar o seu preço", comenta.
Para Ricardo Bacellar, fundador da Bacellar Advisory Boards, mesmo que não valorizem a questão sustentável dos carros elétricos e híbridos, muitos consumidores já olham para esse segmento devido à quantidade de tecnologia embarcada nesses carros, quando comparado com um concorrente a combustão.
"O GWM Haval e o BYD Song Plus brigam com carros entre R$ 200 mil e R$ 300 mil. No fim do dia, o mercado consumidor é o mesmo, não importa se seja híbrido ou a combustão. Quanto mais competitivos esses novos carros ficarem, mais o mercado como um todo terá que se adaptar. É claro que a queda de preço vai chegar", analisa.
Como a China barateou os eletrificados?
Há pouco mais de um ano, era normal ver anúncios de elétricos e híbridos compactos por mais de R$ 200 mil. As novidades eram direcionadas praticamente para um nicho e estavam longe de impactar o mercado de carros a combustão. A questão é que, enquanto os modelos de volume foram ficando mais caros desde a pandemia, os eletrificados viram a chegada de competidores mais tecnológicos, maiores e mais baratos. O consumidor passou a ter mais opções na hora de escolher um carro.
Bacellar acredita que esse cenário, que em maior ou menor proporção está acontecendo em diversos países do mundo, é fruto de um investimento de, pelo menos, dez anos realizado pela China. E todos terão que se adaptar.
"Primeiro, eles atraíram grandes montadoras para produzir no país e, com isso, aprenderam a produzir carros bons. Depois, contrataram os melhores especialistas do mundo e investiram pesado nos elétricos, criando um gap tecnológico difícil de ser recuperado pelo resto do mundo. Em paralelo, conseguiram desenvolver um sistema de produção de volume, com uma cadeia de fornecedores, além de logística e a questão tributária. Ou seja, eles investiram para produzir muitos carros gastando pouco", finaliza.
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