Rio vira 1º estado do Sudeste a vender mais motos do que carros
O mercado de motos zero-quilômetro vem crescendo exponencialmente nos últimos anos, com um aumento de mais de 120% nas vendas em relação a 2019. Enquanto isso, no mesmo período, os emplacamentos de automóveis e comerciais leves caíram quase 40% em todo o país. A mudança já faz com que, em 16 estados brasileiros, a venda de motos ultrapasse a de veículos novos de quatro rodas - entre eles o Rio de Janeiro, o primeiro da região sudeste a passar por esse fenômeno.
Atualmente, o estado do Rio de Janeiro tem o segundo maior mercado de motos do país, com a venda de mais de 105 mil unidades entre janeiro e outubro desde ano - contra 76 mil automóveis e comerciais leves. Os dados são da Fenabrave, a federação que representa as concessionárias de veículos.
De acordo com o consultor automotivo Marcelo Cavalcante, até pouco tempo atrás, a preferência por motos em relação a carros era comum em apenas nove estados brasileiros, todos no Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
"Historicamente, nenhum estado do Sudeste teve a venda de motos superior a de automóveis. Isso acontece hoje no Rio de Janeiro. O cenário mudou muito, houve um aumento de volume do setor de entregas, mas não é só isso. A grande realidade é que em muitas regiões o consumidor substituiu o automóvel pela motocicleta. A elevação dos preços de automóveis e a falta de oferta de modelos acessíveis causou isso. O mercado de motos cresceu em todos os estados da federação, mas no Rio isso foi acompanhado da redução na venda de automóveis", avalia Cavalcante.
O que chama atenção é que, assim como o setor de automóveis, a indústria de motos também sofreu com altas taxas de juros e elevação nos preços, mas ainda são produtos bem mais baratos em relação a carros, com opções de menos de R$ 10 mil. Enquanto isso, o preço do carro zero parte de R$ 70 mil.
Outra diferença é que, para o pagamento de motos, os consórcios, que não são influenciados pelas taxas de juros, são mais comuns. Além disso, as motos consomem bem menos combustível do que os carros.
Sintoma do empobrecimento da população
Diferentemente do que acontece nos Estados Unidos, onde a moto é um veículo de lifestyle, e na Europa, onde é solução para pequenos trechos urbanos, no Brasil, as motocicletas têm cumprido o papel de carros em muitas famílias.
Durante a pandemia, as famílias brasileiras viveram um baque econômico. A situação foi mascarada por algum tempo com os auxílios do governo federal e medidas para conter o aumento dos preços dos combustíveis, mas tudo veio à tona ainda em 2022.
Além de muitos perderem o emprego, outros viram seu poder de compra minguar com o aumento do preço dos produtos mais básicos. Com gasolina em alta e o preço dos carros em patamares assustadores, recorrer às motos para o transporte diário se tornou algo inevitável para muitos. Outros viram no delivery uma oportunidade de complementar a renda ou até mesmo tirar por completo o sustento da família.
Esse aumento no número de motociclistas também pode ser notado em outra estatística. Dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) do Rio de Janeiro, com base em estatísticas do Corpo de Bombeiros, mostram que entre maio de 2022 e maio de 2023 foram registrados 23.971 acidentes em que as vítimas precisaram de atendimento médico. Destes, 15.002 (62,6%) envolveram motociclistas em situações diversas, o equivalente a 41 acidentes por dia ou quase duas ocorrências por hora.
O número inclui atropelamentos, quedas e colisões com outros veículos. O detalhe importante é que somando toda a frota de veículos circulante na cidade, as motos representam apenas 18%.
A boa notícia é que a cidade vai tentar reverter esse cenário. Inspirada na solução encontrada pela prefeitura de São Paulo para reduzir acidentes com motos, a CET-Rio avalia implantar corredores exclusivos para motos nas vias mais críticas, como Linha Amarela, Avenida Ayrton Senna (Barra da Tijuca) e Autoestrada Engenheiro Fernando Mac Dowell (Lagoa-Barra).
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