Paula Gama

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Apagão em São Paulo: por que colapso nos semáforos não é só culpa da chuva

Desde a última sexta-feira (3), a cidade de São Paulo está vivendo um caos devido ao apagão provocado por fortes chuvas. Os transtornos afetam diversas áreas, inclusive o trânsito, uma vez que mais de 650 semáforos chegaram a ficar sem funcionar nos últimos dias. O drama é um velho conhecido dos paulistas, já que é muito comum que os equipamentos entrem em pane em períodos chuvosos.

O número de semáforos danificados foi apresentado pelo próprio prefeito Ricardo Nunes (MDB), durante uma entrevista à TV Globo. Ele atribui o problema à falta de energia. "A gente tinha 652 semáforos sem funcionar. Nesse momento, atualizei, são 77, porque ainda estão sem energia, então você vai ver muitos semáforos apagados porque ele está sem energia. Quando voltar a energia naquela localidade, volta a ser restabelecido."

Os problemas envolvendo pane nos semáforos e chuvas, no entanto, não podem ser atribuídos apenas ao apagão. Sergio Ribeiro Augusto, coordenador do curso de Engenharia Eletrônica do Instituto Mauá de Tecnologia, explica que o grande vilão dos semáforos na cidade de São Paulo são os furtos de cabos para a venda do cobre presente nos fios.

"O que acontece é que, devido ao roubo desses cabos, as equipes de manutenção têm que fazer emendas para colocar o equipamento de volta em funcionamento. Com a chuva, umidade e envelhecimento, eles ficam mais suscetíveis a mau contato elétrico e curto circuito, então, param de funcionar", explica.

Na prática, os semáforos da capital são fragilizados por criminosos e, por isso, ficam inoperantes em qualquer chuva. A CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), estatal vinculada à Prefeitura de São Paulo, não respondeu aos questionamentos da reportagem sobre o número de semáforos em pane e a razão das falhas constantes em períodos chuvosos. Em outra ocasião, no entanto, a companhia também informou ao UOL que o roubo dos cabos é uma das principais razões.

Segundo a CET, no período entre janeiro e setembro de 2022, foram registradas 5.069 ocorrências desse tipo de crime. A empresa acrescenta que, em média, 19 semáforos são danificados todos os dias na cidade por criminosos, em busca do cobre presente nos fios - e de outros materiais com valor comercial para posterior venda ilegal em desmanches e ferros-velhos.

Equipamentos novos também dão problema

A cidade de São Paulo possui o maior parque de semáforos do Brasil, com cerca de 6,5 mil cruzamentos, segundo a CET. Os aparelhos não seguem um padrão, já que a cada campanha de substituição é feita uma licitação com participação de empresas diferentes. No entanto, uma coisa é certa: os modelos mais antigos são mais suscetíveis aos problemas, mas os novos não escapam.

Os semáforos mais antigos usam cabos mais finos e sensíveis às intempéries do clima. Já os mais modernos usam cabos de fibra óptica, que não são tão afetados por raios, por exemplo.

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"Hoje, os controladores são bem mais robustos, mas, como estão expostos ao tempo, têm problemas de instalação do semáforo, problemas das conexões. Aí quando chove, tem muita umidade. E propicia problemas de corrente elétrica. Daí o semáforo pode sair de operação", conta o professor.

Atenuando o caos

Apesar de causarem transtornos ao trânsito quando param de funcionar, o cenário poderia ser muito pior. Isso porque os semáforos possuem uma inteligência para garantir a segurança, mesmo quando falham. Trata-se da ferramenta "amarelo piscante", que evita que os dois lados de um cruzamento fiquem verdes ao mesmo tempo, o que elevaria muito o risco de acidentes.

"Quando há falha, para que jamais dois sinais opostos fiquem verdes ao mesmo tempo, o equipamento entra em amarelo piscante. Isso acontece se o sistema notar um curto-circuito, fuga de corrente ou problema de instalação", esclarece Sérgio Augusto.

O amarelo piscante também é acionado quando há problemas na luz vermelha, dessa forma, não existe o risco de um lado do cruzamento ficar verde e o outro apagado - o que poderia gerar um erro de interpretação entre os condutores.

Fiscalização aos furtos

A CET disse ao UOL, em outra ocasião, que mantém "conversas frequentes" com a SSP-SP (Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo), além das polícias Civil e Militar e da GCM (Guarda Civil Metropolitana) para a adoção de medidas contra os furtos de cabos dos semáforos.

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A Secretaria de Segurança já realizou ações pontuais para coibir a prática, apesar de os furtos continuarem comuns.

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