Paula Gama

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Carros mais baratos? O que pode mudar com acordo entre Mercosul e europeus

Travadas há mais de 20 anos, as negociações para um acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia (UE) avançaram significativamente nos últimos meses e podem dar um passo importante em uma reunião presencial marcada, inicialmente, para o dia 30 de outubro. Se fechado, mais de 90% dos bens comercializados entre os blocos teriam imposto de importação zerado (ou reduzido drasticamente) em até 10 anos. Na prática, a expectativa é que o Brasil aumente a exportação de produtos agrícolas e a importação de bens industrializados de países da UE.

Atualmente, a alíquota de imposto de importação para veículos é de 35% para carros a combustão; 4% para híbridos e 0% para elétricos, cenário que deve mudar nos próximos meses, já que a isenção para eletrificados deve acabar. Com o acordo, em 10 anos, os veículos fabricados em países da União Europeia poderiam chegar ao país sem taxação ou com imposto bem reduzido.

"Com essa mudança, os carros alemães, por exemplo, chegarão ao país bem mais baratos. Será um efeito cascata, as outras empresas terão que baixar também, ou todo mundo vai comprar carro importado. Não há nada que baixe mais o preço do que a concorrência", avalia o economista Igor Lucena.

De acordo com Cássio Pagliarini, sócio da consultora Bright Consulting e ex-executivo de marcas como Ford, Renault e Hyundai, apenas uma redução na alíquota de 35% já seria o suficiente para impactar o mercado local.

"Os carros europeus são carros de mais alta tecnologia que hoje têm barreira de 35%. A Organização Mundial do Comércio considera 23% como o máximo de uma barreira comercial, essa simples diminuição já seria um impacto grande entre os veículos médios e grandes no Brasil", pondera.

Indústria nacional em alerta

A redução ou até mesmo a isenção do imposto de importação para veículos produzidos na Europa pode parecer bem interessante para os consumidores locais, mas o assunto não é tão simples assim. A maior questão é que a abertura do mercado poderia impactar na redução da produção de carros no país, já que muitas montadoras europeias que produzem carros aqui poderiam deixar de ver vantagem no negócio. O que levaria à extinção de milhares de postos de trabalho.

Milad Kalume, da Jato Informações Automotivas, explica que as fábricas de veículos do Brasil têm capacidade de produzir 4,5 milhões de carros, mas produzem cerca de 2,5 milhões por conta da demanda. Atualmente, o mercado brasileiro é de cerca de 2 milhões de carros por ano, o restante é exportado, em grande parte, para outros países da América do Sul.

"O acordo pode ser saudável para ativar a nossa indústria e incentivar a concorrência, o que pode resultar em investimento em novas tecnologias. No entanto, deve ser dosado. A participação de carros importados no mercado nacional é interessante até 10% ou 15%, passando disso, o risco é a União Europeia aumentar sua capacidade de produção a um ponto que fique mais competitivo importar do que fabricar aqui. Nesse caso, o país acaba perdendo na dependência e no fechamento de postos de trabalho", argumenta.

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