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Paula Gama

REPORTAGEM

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Câmbio problemático de Fiat e Jeep faz donos recorrerem à 'gambiarra'

Jeep Renegade é um dos modelos equipados com o câmbio automático de seis marchas - Foto: Jeep | Divulgação
Jeep Renegade é um dos modelos equipados com o câmbio automático de seis marchas Imagem: Foto: Jeep | Divulgação

Colunista do UOL

26/06/2023 04h00

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Você pagaria entre R$ 3,5 mil e R$ 5 mil para prevenir um possível problema que pode custar até R$ 50 mil? É exatamente isso que proprietários de veículos da Fiat e da Jeep equipados com o câmbio automático Aisin de seis marchas têm feito. Trata-se da instalação de um "kit tropicalização", com radiador extra, para evitar um defeito no trocador de calor do veículo.

Desde de 2021, UOL Carros vem noticiando que proprietários de Jeep Renegade e Compass e Fiat Toro, Cronos e Argo relatam um problema em comum no câmbio automático de seus veículos: após algum tempo de uso, a transmissão começar a travar e precisa ser substituída ou reparada, por meio de serviço que chega a custar até R$ 60 mil.

O engenheiro químico Vinicius Suarez passou por essa situação, em que o custo do reparo na concessionária seria de R$ 59 mil, mas ele preferiu fazer o serviço em uma oficina especializada em câmbio automático e gastou cerca de R$ 14 mil em seu Renegade 2018.

"Infelizmente continuo com o carro, sempre que tento vender vejo que não vale a pena o preço que querem pagar para o quanto eu já gastei nele. No ano passado ouvi falar do kit tropicalização. Para não passar pelo mesmo problema, resolvi instalar e até agora estou satisfeito", afirma.

O kit tropicalização acrescenta um radiador para resfriar o câmbio - AutoCenter Confiar - AutoCenter Confiar
O kit tropicalização acrescenta um radiador para resfriar o câmbio
Imagem: AutoCenter Confiar

Proprietário da oficina Cambiotec, que fica em Itaguaí, no interior do Rio de Janeiro, Juan Willian viralizou nas redes sociais com um vídeo sobre o kit que "salva" o câmbio dos Jeep e Fiat. O vídeo que teve quatro milhões de visualizações explicava que um processo de eletrólise no sistema de arrefecimento causava danos ao trocador de calor, permitindo que o câmbio fosse invadido por líquido de arrefecimento.

"O kit tropicalização consiste em um adaptador que substitui o trocador de calor, com duas mangueiras para um radiador externo na frente do veículo. É o mesmo sistema que vem de fábrica nos veículos da linha diesel. A gente faz um upgrade. Na prática, o câmbio passa a ser refrigerado a ar, e não pelo trocador de calor, evitando o problema. Hoje, custa em torno de R$ 4,2 mil com a mão de obra."

UOL Carros entrou em contato com a Stellantis para entender se a instalação na peça é viável, mas o grupo respondeu apenas com a seguinte nota: "desconhecemos tal procedimento e não indicamos nenhuma mudança no projeto original do veículo".

André De Maria, engenheiro mecânico especializado em defeitos de fábrica nos veículos e proprietário do Autocentro Confiar, em Belo Horizonte, foi um dos primeiros a desenvolver o "kit tropicalização" no país. Segundo ele, atualmente, são vendidos cerca de quatro por dia apenas em sua oficina.

Câmbio contaminado com líquido  - Cambiotec - Cambiotec
Câmbio contaminado com líquido
Imagem: Cambiotec

"A primeira ideia foi comprar o radiador da versão a diesel para instalar no Compass flex da minha esposa. Deu certo, mas a peça custava R$ 7 mil, não valia à pena comercializar. Usamos alguns radiadores que vinham da China e que resolviam o problema, até que a peça original barateou. Hoje, é um serviço de menos de R$ 5 mil que evita um problema que custa entre R$ 40 mil e R$ 50 mil", pondera.

Câmbio problemático foi parar na Justiça

Os relatos de problemas no câmbio automático de veículos da Jeep e da Fiat se tornaram tão comuns que órgãos de defesa do consumidor passaram a acionar as marcas. O caso mais recente foi do Procon-MG, que instaurou um procedimento para apurar suposta "prática infrativa consistente" em contaminação da transmissão do Renegade [com motor flex] por fluido do radiador.

A questão já foi registrada por centenas de consumidores em redes sociais e canais de comunicação com a empresa, e chegou a ser apurada pelo Procon-SP, além de fazer parte de uma ação do Ministério Público contra 22 defeitos no Compass.

Além disso, clientes relatam que, a partir de 2018, a Jeep mudou o plano de manutenção no que se refere ao fluido de arrefecimento, recomendando produto com outra especificação e concentração, além da respectiva troca a cada dois anos - independentemente da quilometragem. Em modelos anteriores o manual não traz nenhuma orientação relacionada à troca do fluido.

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