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Paula Gama

REPORTAGEM

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Carro popular: descontos passam a valer para locadoras e estoque deve sumir

Desde o início do programa, as regras previam que frotistas poderiam usufruir do benefícios após 15 dias  - Divulgação
Desde o início do programa, as regras previam que frotistas poderiam usufruir do benefícios após 15 dias Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

20/06/2023 04h00

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Nesta terça-feira (20) encerra-se a primeira parte do programa do governo de incentivo à venda de veículos de até R$ 120 mil, que foi destinada apenas a pessoas físicas. Pelas regras, a partir de amanhã (21) pessoas jurídicas também poderão comprar carros com desconto, o que inclui um público com grande apetite: as locadoras. Se, conforme divulgado, 64% dos recursos disponíveis foram consumidos em 15 dias pelo varejo, é provável que o restante acabe bem antes disso.

De acordo com Paulo Miguel Júnior, conselheiro da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla), desde que o programa foi ventilado na imprensa, em maio, as locadoras suspenderam suas compras de veículos de até R$ 120 mil para aguardar pelos descontos. Levando em consideração que as empresas de locação compram em torno de 40 mil carros por mês, agora estão preparadas para repor a demanda represada nesse período e fazer suas aquisições de junho.

"Inicialmente, a gente tinha informação de que não havia diferença para pessoa física e jurídica, mas foi uma imposição do presidente. Ainda assim, acreditamos que vai sobrar crédito para a pessoa jurídica, com base no nosso acompanhamento dos emplacamentos do mês", explica o conselheiro da entidade.

Segundo Paulo Miguel Júnior, é provável que as empresas foquem em modelos de entrada, pois se encaixam melhor na frota pré-existente. Ele também revela que há uma expectativa de descontos ainda maiores para esse público.

"Ainda não temos uma tabela ou preço sugerido desses carros para locadoras. Também não sabemos se haverá mais descontos, mas há expectativa, porque são compras de volume. Sempre há uma diferença quando se compra no atacado", avalia.

Um "mal" necessário

Milad Kalume, da Jato Dynamics, consultoria especializada no mercado automotivo, explica que a relação da indústria com as locadoras tem dois pontos. Se, por um lado, elas são excelentes clientes em momentos difíceis, garantindo que a produção de veículo siga estável, por outro, quando o mercado vai bem, ela se torna um "tendão de Aquiles".

"A venda para locadoras não é a melhor, ela é sempre menos rentável, pois a marca precisa dar um desconto. Mas nenhuma montadora pode virar as costas para elas, pois em épocas difíceis elas salvam o negócio", diz o especialista, que também reforça que o subsídio de R$ 500 milhões, que já era pequeno para o mercado, deve acabar assim que esse público tiver acesso a ele.

Exclusividade para pessoa física pode ser prorrogada?

A menos de uma semana atrás, no dia 14, o vice-presidente da República e ministro da Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), foi claro ao dizer que o programa era "emergencial e transitório, porém importante", apagando qualquer faísca de esperança de renovação nos convidados da Anfavea - associação das montadoras - em um evento sobre os caminhos para a descarbonização, em Brasília.

Na ocasião, o presidente da entidade, Márcio de Lima Leite, também disse que não via espaço para prorrogação. No entanto, o jornalista Valdo Cruz, do G1, afirmou que o presidente Lula pode ter pedido aos ministros uma ampliação dos incentivos. Ainda assim, a maior probabilidade é que a abertura do mercado para pessoas jurídicas não seja cancelada até amanhã, uma vez que a própria Anfavea é a favor de que as locadoras tenham seu lugar ao sol.

"Desde o primeiro momento, foram dados 15 dias para que os consumidores [pessoa física] pudessem ter acesso ao seu carro e, na sequência, a pessoa jurídica entraria. Nós lembramos que para os fabricantes é fundamental que as pessoas jurídicas também participem desse programa, pois são esses clientes que mantêm nossas fábricas em funcionamento".

Na análise de Lima Leite, se não fossem as locadoras, provavelmente as fábricas teriam parado mais vezes nos últimos meses. "Nós tivemos 14 paradas de fábricas neste ano. Não fossem as locadoras, o número seria muito maior, talvez 20 ou 25", pondera.

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