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Paula Gama

REPORTAGEM

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Quinze defeitos em 7 meses: por que concessionários reclamam do Citroën C3

As campanhas para solução de defeitos começaram de outubro de 2022, dois meses após o lançamento do carro - Marcos Camargo / UOL
As campanhas para solução de defeitos começaram de outubro de 2022, dois meses após o lançamento do carro Imagem: Marcos Camargo / UOL

Colunista do UOL

12/05/2023 12h00

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Na última semana, a coluna noticiou em primeira mão que as associações de concessionárias da Peugeot e da Citroën notificaram o grupo Stellantis pela falta de qualidade dos veículos. No documento de seis páginas, do último dia 2 de maio, as entidades fizeram várias críticas às montadoras, mas em especial ao C3 - compacto lançado em agosto do ano passado e que, desde então, já passou por 15 campanhas para solução de problemas.

Os revendedores reclamaram que o lançamento do Citroën C3 já havia sido adiado por vários meses e que o veículo é alvo de campanhas, mas faltam peças para o conserto.

"Em algumas dessas campanhas, não existem peças disponíveis para substituição, o que ratifica a falta de qualidade do produto, o que interfere na reconstrução da imagem das marcas de forma positiva perante os nossos clientes", afirmou o documento.

A coluna conversou com colaboradores de concessionárias da marca para entender o cenário e teve acesso às reclamações de clientes. De acordo com as fontes, que vivem diariamente o drama, o maior problema está na falta de peças para conserto. "Sempre que um cliente sobe a rampa da concessionária com um C3, já sei que vou me indispor. É desesperador. O carro dá problema, a gente sabe o que é e como resolver, mas não tem peça. O cara se irrita, não tem jeito", disse um gerente de pós-venda.

Entre outubro de 2022, apenas dois meses após o lançamento, e 4 de maio de 2023, a montadora já convocou unidades do veículo para 15 campanhas diferentes, envolvendo diversos componentes. Segundo um documento apresentado ao UOL Carros pelo funcionário de uma revenda, os chamados foram para a análise das seguintes peças/defeitos:

1- Software do multimídia
2- Faróis dianteiros
3- Suspensão dianteira
4- Chicote de rádio
5- Pedal do freio
6- Telecodificação do rádio
7- Pivô da suspensão dianteira
8- Vidros das portas dianteiras
9- Fechadura da tampa do porta-malas
10- Software BCCM
11- Regulagem dos faróis
12- Chicote do motor
13- Motoventilador
14- Tampa do tanque de combustível
15- ABS traseiro

A lista coincide com as maiores queixas dos consumidores. No site "Reclame Aqui", que é um canal de comunicação entre consumidores e empresas, há dezenas de proprietários do Citroën C3 alegando defeitos diversos com muito pouco tempo de uso. Em alguns casos, o problema dos vidros dianteiros, que param de descer ou subir, é percebido no dia da entrega do veículo.

"Comprei dois carros Citroën C3 e os dois vieram com defeito no sistema de fechamento dos vidros. Um dos carros também apresenta barulho durante a frenagem. Tirei os carros da concessionária no dia 02/03 e relatei o defeito no mesmo dia. Até agora, nenhuma resposta, nenhuma solução", reclama um morador de Brasília.

Outro cliente reclama que, além dos inúmeros vícios, não é disponibilizado carro reserva para amenizar a situação. "Desde quando comprei meu C3 tenho tido diversos problemas com ele, a impressão que dá é que este carro foi lançado como um teste para que os primeiros usuários fossem detectando os problemas a serem corrigidos. Já estive na concessionária algumas vezes, mas grande parte destes problemas acabam não sendo corrigidos por serem intermitentes ou por falta de peças".

Segundo o consumidor, em uma das visitas, o carro ficou três dias parado e nenhum dos problemas foi resolvido. Ele cita onze questões em seu veículo, entre elas, dificuldade para trancar, problema nos vidros elétricos, erros na central multimídia e na marcação de média de consumo no computador de bordo e falhas no ar-condicionado.

A maior parte das reclamações é parecida, sempre questionando a falta de solução dos problemas, ausência de peças e de carro reserva. Assuntos que foram levantados na carta redigida pelos concessionários à marca.

O mecânico de uma concessionária Citröen, que falou com o UOL Carros sob anonimato, explicou que alguns carros passam pelo conserto sugerido nas campanhas antes mesmo de serem entregues aos donos. "Quando tem campanha, o carro ainda não foi entregue e tem peça, a gente conserta antes de chegar no proprietário. Esses dão sorte".

O que diz a Stellantis?

UOL Carros enviou para a Stellantis, responsável pela Citroën, a lista de peças envolvidas em campanhas apresentadas pelos concessionários e perguntou se o grupo confirmava a existência de 15 chamados para conserto do C3. O grupo respondeu que "ações feitas pelos concessionários envolvem atualizações gratuitas de melhoria do produto, mantendo assim o compromisso da Stellantis com a satisfação do cliente".

Sobre os questionamentos de consumidores, eles afirmaram que, por questões de compliance e controle, respondem cada uma de forma individual. Para isso, seria necessário informar dados pessoais, como nome do proprietário e número do protocolo de atendimento.

Já a respeito das reclamações feitas pelos concessionários na notificação, disseram que "detém os mais rígidos testes de qualidade, alinhados com as melhores práticas globais e que inconvenientes pontuais de abastecimento de peças são tratados e corrigidos com a maior velocidade possível".