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Paula Gama

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Está cada vez mais difícil trocar de carro, e problema vai além do preço

Colunista do UOL

15/03/2023 04h00

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Desde 2020, o mercado de carros usados passou por um verdadeiro turbilhão. Enquanto a pandemia dificultou a produção de modelos novos, a venda de veículos de segunda mão deslanchou, levando alguns modelos a ficarem até 24% mais caros, a depender do ano de fabricação. A alta dos preços fez com que muitos adiassem a troca do carro, mas o momento atual pode estar ainda mais difícil para quem quer fazer um "upgrade".

Entre o último bimestre de 2022 e o primeiro bimestre de 2023, o preço dos usados caiu cerca de 7%, de acordo com o presidente da Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto), Enilson Espínola Sales De Sousa. A questão é que a queda não é proporcional em todos os tipos de usados. Segundo o executivo da entidade, os carros mais antigos, com mais de 13 anos, desvalorizaram mais. Enquanto isso, os mais novos, entre zero e três anos, seguem com valor mais alto.

"Isso acontece porque, por mais que as montadoras tenham acesso aos semicondutores, dependendo da versão, ainda há uma demora de 30 a 60 dias para receber o modelo. Isso leva os mais ansiosos a comprarem carros seminovos, o que segura os preços em alta. O preço do carro novo continua subindo, enquanto se mantiver assim, os usados mais novos seguirão valorizados", explica o presidente da Fenauto.

Com o preço dos carros mais antigos em baixa, quem precisa atualizar o automóvel por outro mais recente, mesmo que seja usado, se frustra quando compara o valor que vai receber pelo seu veículo com o que precisará desembolsar na compra de outro.

"Nos últimos anos, os carros mais velhos foram os que mais valorizaram. Então, quem vendia tinha um aporte de dinheiro interessante para aplicar no novo. O cenário é inverso: o mais antigo baixou e o mais novo segue em alta", analisa Espínola.

Crédito negado

Os financiamentos estão mais caros e raros - Freepik - Freepik
Os financiamentos estão mais caros e raros
Imagem: Freepik

A valorização do carro novo e desvalorização do antigo não são os únicos revezes que quem deseja trocar de carro está enfrentando. Também está mais difícil financiar o veículo, seja novo, seminovo ou usado.

Segundo a Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (ANEF), 2022 foi um ano atípico para as modalidades de pagamento dos veículos e comerciais leves, no qual a participação das vendas financiadas ficou contida em 32% do total, enquanto as vendas à vista alcançaram o pico de 64% e o consórcio continuou com uma participação de 4%. Em 2021, 46% dos automóveis foram financiados, uma queda brusca na oferta de crédito.

A inadimplência de pessoa física (atrasos de pagamentos com mais de 90 dias) alcançou seu maior índice nos últimos anos, batendo 5,9%, o que representa um aumento de 1,5% em relação a 2021.

"Temendo a inadimplência, as instituições financeiras precisaram aumentar os pré-requisitos para conceder um empréstimo, deixando a população sem opção de crédito. Quem quer comprar e não pode financiar, compra à vista, então precisa se adequar a um carro que cabe no bolso", diz o presidente da Fenauto.

Sem desanimar

Carros com mais de 13 anos de uso foram os mais vendidos em fevereiro  - Foto: Shutterstock - Foto: Shutterstock
Carros com mais de 13 anos de uso foram os mais vendidos em fevereiro
Imagem: Foto: Shutterstock

Nesse cenário, os carros com mais de 13 anos de uso dominaram a preferência do consumidor, representando 33,86% das vendas em fevereiro. Os usados maduros (9 a 12 anos) ficaram com 24,06% do mercado, os usados jovens (4 a 8 anos) com 25,84%, e os seminovos (0 a 3 anos) com 16,24% das unidades comercializadas.

Apesar do plano de fundo pouco animador, a Fenauto afirma que, devido ao baixo giro em algumas revendedoras, é possível encontrar oportunidades. A dica é ser mais flexível com ano e quilometragem e, principalmente, escolher bem a data da compra.

"No fim do mês, as lojas estão mais dispostas a oferecer descontos e aceitar propostas, pois têm metas a bater", recomenda Enilson Espínola.

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