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Paula Gama

REPORTAGEM

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Por que a Renault vem encolhendo em vendas e portfólio do Brasil

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Colunista do UOL

25/01/2023 04h00

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Cinco anos atrás, em 2018, a Renault arrancou muitos suspiros apresentando sua linha de carros novos no Salão do Automóvel de São Paulo. Na época, o subcompacto Kwid e o SUV Captur tinham desenhos inovadores para as categorias. De quebra, a francesa apresentou o Koleos, um SUV maior que passou a ser cogitado para o Brasil. O tempo passou e a marca foi perdendo o fôlego, sem grandes novidades e substituições para veteranos.

O comportamento apático frente às inovações dos concorrentes, tanto em tecnologias como em disponibilização de versões variadas de carros de volume, transformaram a francesa em uma dependente do Kwid, o veículo mais barato do país. O compacto foi responsável por 57,3 mil dos 127,5 mil emplacamentos da marca em 2022, considerando automóveis e comerciais leves.

Para não perder participação de mercado e chegar a um número de vendas parecido com o de 2021, quando comercializou 126,7 mil carros, a Renault precisou aumentar suas vendas diretas, feitas a frotistas, locadoras e entre outros, principalmente de Kwid, Duster, Logan e Oroch. O consumidor geral foi responsável por comprar pouco mais da metade dos carros da marca no ano passado.

Em 2022, foram lançados atualizações para Kwid, Master, Duster, que ganhou motor 1.3 turbo, Oroch, também equipada com motor 1.3 turbo, e Stepway 1.0, além da novidade Kwid E-Tech.

A produção do Captur comercializado no Brasil foi atrapalhada pela venda da fábrica na Rússia, onde são produzidas boa parte das peças - Fotos: Renault | Divulgação - Fotos: Renault | Divulgação
A produção do Captur comercializado no Brasil foi atrapalhada pela venda da fábrica na Rússia, onde são produzidas boa parte das peças
Imagem: Fotos: Renault | Divulgação

Chama atenção o rumo que têm tomado veteranos da empresa: Logan e Sandero, antiga dupla de volume, venderam juntos cerca de 21 mil carros. E não são esperadas atualizações.

Já o Captur, que poderia ser o modelo mais competitivo contra os variados SUVs compactos do mercado, teve apenas 3 mil unidades vendidas em todo ano. Segundo concessionários, desde outubro ele não chega mais às lojas devido ao conflito na Ucrânia. A fábrica da Renault na Rússia, onde eram produzidas a maior parte das peças do carro, foi vendida, o que atrapalhou a produção. O produto mais moderno da marca é o elétrico Zoe, mas não é emblemático em número de vendas.

"Basicamente, só temos Kwid e Duster para vender. Logan e Sandero foram para a venda direta, além disso são mais caros e menos modernos do que os concorrentes. Acho que até o fim do ano devem sair de linha, apenas o Stepway deve continuar. Oroch pinga no nosso estoque, quase nunca temos o carro. Sobre o Captur, estamos sem notícias desde outubro, não se sabe se o carro volta ao portfólio", disse um concessionário da marca.

Outro proprietário de revenda da Renault, que acompanhou o fim da produção da Ford no país, explica que a situação é semelhante à dos meses que precederam a mudança de estratégia da americana, para vender carros mais caros, com pouca reação da montadora em relação a ações de venda dos concorrentes, mas ainda pior. No entanto, a marca francesa parece não ter planos de deixar o Brasil, já que anunciou um ciclo de investimentos de R$ 2 bilhões, que resultará na produção de uma nova plataforma, a CMF-B, de um novo SUV e de um novo motor 1.0 turbo.

"Para se ter uma ideia, a montadora não está colocando meta para os revendedores, dada a nossa dificuldade. Nós precisamos de carros novos, mas nem carro barato, porque não rentabiliza, nem carros caros, como o Megane elétrico que custará R$ 400 mil. Renault não vai concorrer com veículos de luxo, e as revendas estão com pouca verba até mesmo para comprar estoque. A marca já nos liberou para reduzir o tamanho da concessionária", desabafa.

O Megane elétrico é esperado para o Brasil, mas vai custar caro - Divulgação - Divulgação
O Megane elétrico é esperado para o Brasil, mas alto preço preocupa revendedores
Imagem: Divulgação

Para o futuro próximo são esperados Megane, Kangoo e Master elétricos, além de um SUV menor do que o Duster com o novo motor 1.0 turbo da marca.

"A rede está muito preocupada, temos reuniões com a associação dos revendedores constantemente. Para seguir os passos da Ford e vender carros mais caros, a Renault teria que refazer a sua linha inteira, não sei se conseguimos aguentar essa transição. Assim vamos empobrecendo: cada vez recebendo carros piores na troca e vendendo para um cliente que não faz serviços na concessionária. Espero que melhore, mas não vejo grandes planos", argumenta o gerente de uma revenda da Renault.

A Renault do Brasil informou à coluna que teve uma porcentagem de carros destinada à venda direta de 43% em 2022, enquanto a média, somando todas montadoras, foi de 47% do volume vendido. Além disso, a francesa afirmou que a Oroch teve o maior volume de vendas da história no segundo semestre de 2022.

Sobre o Kwid, a marca argumenta que, "considerando os 1.0 aspirados, ele faz 23% do segmento nas vendas para clientes finais, líder absoluto. Os 1.0 turbo estão em outra faixa de preço, lembrando que é o segmento que mais sofre com os juros altos".

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