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Jorge Moraes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Carro híbrido leve deveria ser considerado um veículo eletrificado?

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Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

02/08/2022 15h22

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Pesquisas recentes apontam que cerca de 60% dos brasileiros pretendem comprar um carro elétrico no futuro. A questão é saber quando será esse "futuro", uma vez que o preço dos carros que dispensam o combustível líquido ainda é muito restritivo no país. A alternativa das montadoras, em sua maioria, principalmente nos mercados emergentes, é nas tecnologias híbridas, que somam um ou mais motores elétricos ao propulsor principal, a combustão.

O custo para a produção de um carro híbrido ainda é bem menor quando comparado com um modelo 100% elétrico. Mas, mesmo dentro da opção híbrida, há grandes diferenças de valores, dependendo da tecnologia escolhida.

Durante o lançamento do novo Kia Sportage, os executivos da marca sul-coreana mostraram um dado interessante que conta o porquê de muitas montadoras estarem optando pela tecnologia Mild Hybrid Electric Vehicle (MHEV 48V), ou híbrido leve.

Segundo a Kia, o MHEV representa um custo extra de 700 euros (R$ 3.682 na cotação atual), se comparado com o mesmo carro a combustão. Isso, claro, é o valor na fábrica, antes das tributações e outros insumos.

Já para produzir um híbrido full (HEV) é necessário um acréscimo de aproximadamente 3 mil euros (R$ 15.780) e mais de 7 mil euros (R$ 36.821) se a tecnologia escolhida for a do híbrido plug-in (PHEV). Os valores "extras" desses sistemas podem ser compensados com uma economia bem superior de combustível ao longo dos anos, principalmente para quem roda muito com o veículo.

Diante desses valores e vantagens, dá para entender porque muitas montadoras estão adotando e vão adotar o MHEV. Essa tecnologia não depende de uma infraestrutura de carregadores elétricos e têm uma manutenção bem mais simples se comparada com outras tecnologias híbridas e ainda celebra a favor da nova fase do Proconve - Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores.

O Grupo Caoa anunciou recentemente a eletrificação de toda sua gama, sendo que a maioria dela adota o MHEV 48V como alternativa ao motor a combustão puro. Outro lançamento que movimentou o mercado neste mês foi a chegada da quinta geração do Kia Sportage. O SUV também opta pelo sistema híbrido leve. Até o final do ano ouviremos falar muito dessa tecnologia com lançamentos em praticamente todas as montadoras.

Funcionamento

Mas como atua o MHEV? Ele realmente economiza combustível como os outros sistemas híbridos já conhecidos no mercado? Fomos até Araxá, no interior de Minas Gerais, para testar o novo Sportage e saber como funciona essa tecnologia de eletrificação.

O funcionamento do MHEV não se diferencia muito do híbrido full que conhecemos bem nos carros da Toyota. Trata-se de uma bateria que joga energia para o motor elétrico e que auxilia o motor a combustão em momentos de necessidade de força. Nos dois sistemas não é preciso recarregar a bateria na tomada, elas regeneram a energia cinética do carro em momentos de frenagem e também com auxílio do motor a combustão.

No caso do MHEV a autonomia em modo 100% elétrico praticamente não existe. O gerador elétrico acoplado ao motor a combustão, como um alternador, é acionado para dar a partida no carro e volta a ser usado quando o conjunto mecânico precisa de mais força, como nas subidas, ultrapassagens e acelerações mais vigorosas.

É como um "empurrão" de leve que o sistema oferece ao motor convencional. Ele recebe energia de uma bateria de 48V instalada no porta-malas, onde ficaria o pneu reserva (o Sportage oferece um kit de reparo de pneus)

Ainda no caso do Kia Sportage, o sistema de comando do motor a combustão é composto por DOHC de 16 válvulas e por E-CVVT, acrescido do Comando de Válvulas de Duração Variável (CVVD), que propicia o modo de condução Velejar, desligando o propulsor por completo em situação de rodagem plana e, por consequência, a economicidade de combustível; assim como todo o sistema híbrido do Sportage entra em ação quando o veículo enfrenta uma descida, poupando o motor a combustão, ou em subidas, quando o powertrain necessita de mais força, sempre priorizando a eficiência de consumo e menores índices de emissões.

O conjunto do motor está acoplado ao câmbio automático de 7 velocidades e dupla embreagem DCT. Com essa configuração, o Sportage - segundo dados do Inmetro - registrou desempenho de 11,5 km/l na cidade e de 12,1 km/l na estrada, sempre abastecido com gasolina.

Além de uma melhor eficiência no consumo (mesmo que discreta) e melhor desempenho, o MHEV tem os benefícios fiscais dos modelos híbridos full e até mesmo de 100% elétricos (em alguns estados da Federação). E ainda fica de fora do rodízio de placas na cidade de São Paulo.

Talvez sejam esses incentivos os principais atrativos dos carros MHEV. A redução do consumo de combustível é muito discreta se comparados com outros sistemas híbridos. Para citar dois exemplos: o Corolla Cross Hybrid faz uma média de 18,9 km/l na cidade, enquanto o Sportage faz 11,5 km/l. O novo Compass 4xe faz cerca de 25 km/l no mesmo ciclo. São carros do mesmo porte, tecnologias híbridas distintas e preços também muito diferentes. Cabe ao consumidor escolher a eletrificação que cabe no bolso.

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* Colaborou Bruno Vasconcelos para a coluna