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Jorge Moraes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Salão do Automóvel: por que evento com todas as marcas está fadado a morrer

Divulgação
Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

23/05/2022 04h00

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A notícia do adiamento do São Paulo Motor Experience - novo formato para o Salão do Automóvel de São Paulo - não foi uma completa surpresa para quem circula pelos bastidores do setor automotivo nacional. O evento, que estava marcado para o período de 6 a 14 de agosto, no Autódromo de Interlagos, não contou com a chancela de grandes montadoras, como Volkswagen, Mercedes-Benz, Chevrolet, Toyota e o gigante Stellantis, com Fiat, Jeep, RAM, Peugeot e Citroën.

Essas e outras marcas tinham desistido ou não chegaram a confirmar oficialmente participação na mostra. Como fazer, afinal, um evento automotivo sem esses players?

Estive nos dois últimos salões de Los Angeles, em novembro do ano passado, na relargada dos Estados Unidos automotivo, no maior mercado daquele país, e a adesão das marcas estrangeiras foi pequena. A mostra, com algumas startups, posso considerar assim, esteve salva pelas norte-americanas e asiáticas, sul-coreanas e japonesas.

Na mesma intensidade, no mês passado, em Nova York, a confirmação de que um evento caro não será viabilizado. E tratamos aqui da gigante Califórnia e do maior mercado de luxo dos EUA.

No Brasil, vi com pesar o comunicado oficial do adiamento sem prazo do SPMXP. A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e a RX (organizadora do evento) explicam que o motivo recai sobre a atual situação global do setor automotivo, que ainda enfrenta desafios na cadeia de fornecimento gerados pela pandemia. Isso também é verdade.

De fato, realizar um evento milionário enquanto muitas montadoras estão paralisando a produção nas fábricas parece não fazer muito sentido. Mas a questão é: será que se o setor estivesse a pleno vapor de produção as grandes marcas participariam do novo salão do automóvel de São Paulo? Acho difícil.

A mudança de formato do maior evento automotivo da América Latina era uma reivindicação antiga das grandes montadoras. Antes mesmo da pandemia dilacerar a economia mundial, o Salão do Automóvel de 2020 já estava ameaçado devido à desistência de importantes marcas como a Chevrolet, que deu o primeiro sinal.

A organização do evento atendeu aos pedidos do setor e lançou o São Paulo Motor Experience com um formato mais dinâmico e fora de um retângulo centro de convenções. A escolha do icônico Autódromo de Interlagos foi inteligente, pois envolve a paixão do automobilismo.

Os participantes poderiam experimentar carros e supercarros na pista de corrida ou em circuitos off-road criados para o evento. Seria um show. Seria ou será? Difícil é vender dessa maneira para as marcas de luxo longe do seu público-alvo e direto. Os fabricantes querem menos selfie e mais vendas.

Outro fator que pesa contra um evento do porte como o SPMXP é o seu custo para as montadoras. Além da crise que encolheu significativamente o mercado, temos outro ponto que também foi gerado por uma consequência da pandemia. As grandes marcas gostaram do formato digital para fazer lançamentos. As "lives", mesmo que gravadas, têm um custo muito, mas muito menor do que os eventos presenciais.

Achar que as montadoras iriam abrir mão dessa economia durante esse momento atual não faz muito sentido. Eles acharam a fórmula de transformar o mundo em novos formadores de opinião com e sem autoridade.

Por essas razões acreditamos que dificilmente todas as marcas ou a maioria delas aposte em grandes eventos conjuntos. Aquele formato de salão com stands em um centro de convenções e carros parados para os aficionados fazerem fotos não tem mais lugar em nosso mercado.

A ideia do Motor Experience é muito interessante, mas dificilmente será grandioso e com ampla participação dos players como nos salões de pouco tempo atrás. Nós que somos apaixonados por carros lamentamos.