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Carros maquiados: como identificar roubadas em usados que parecem perfeitos

Mateus Bruxel/Folhapress
Imagem: Mateus Bruxel/Folhapress

Colaboração para o UOL

31/10/2019 04h00

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O mercado de carros usados está repleto de boas opções. São inúmeros carros em ótimo estado de conservação, com manutenções em dia feitas por seus donos zelosos. Porém, mesmo esses carros bem cuidados apresentam as marcas do tempo. Por conta disso, acabam renegados por compradores que se apegam a aparência e não se atentam a pontos mais importantes.

Vendedores de carros estão atentos a isso e fazem de tudo para mascarar os problemas de um carro usado. Afinal de contas, é bem mais fácil e barato melhorar o visual, seja na parte externa ou interna, do que investir em correções mecânicas que não agregam valor.

Acho curiosa essa preferência, mas entendo que a maioria das pessoas tem pouco conhecimento sobre carros. Avaliar se está bom ou ruim é tarefa para poucos, mas opinar sobre o visual qualquer um pode fazer.

E são justamente esses carros "maquiados" que vemos por aí. Em sua maioria, estão nos estoques de lojas e concessionárias, que às vezes têm seu próprio salão de beleza automotivo. Mas tem sido cada vez mais comum encontrar esses carros maquiados nas mãos de particulares, que compram barato, melhoram o visual, e revendem mais caros.

Recentemente um notável lavador de carros publicou um vídeo em suas redes sociais em que levou um Fiat Palio para ser avaliado em lojas de carros usados. Antes de qualquer preparação, o carro foi avaliado em R$ 3 mil. Depois de executar seu excelente trabalho estético, o mesmo carro foi avaliado em R$ 6 mil na mesma loja.

Não estou dizendo que não existem bons carros nas mãos desses revendedores. Na verdade, já fiz ótimos negócios para meus clientes em carros que estavam nas mãos deles.

Como eu sempre faço, não limito as buscas apenas aos carros que estão nas mãos de particulares. Porém, a maioria dos bons negócios que intermediei estava nas mãos justamente desses particulares - o que pode ser uma surpresa para quem acredita ser mais seguro comprar de uma concessionária.

Como evitar a compra de um carro maquiado

A primeira coisa que precisa ser feita é deixar o emocional de lado. Comprar um carro é sempre um momento especial e é comum o comprador ficar cego para os reais problemas que aquele usado em questão possa ter.

A melhor coisa a fazer é ir acompanhado de alguém que não tenha apelo emocional na compra do carro. O ideal seria contratar um profissional para isso, mas caso o orçamento não permita, leve um amigo ou parente que entenda de carro.

Enquanto você olha o carro com o sorriso no rosto, já se imaginando como dono dele, essa outra pessoa se atenta a tudo aquilo que é mais importante e pode te ajudar a não seguir em frente num negócio duvidoso.

Principalmente na parte mecânica do carro, que deve ser avaliada por quem entende. Se você é daqueles que abre o capô do carro e não sabe de absolutamente nada do que tem ali, nem perca seu tempo indo avaliar o carro sozinho.

Procure conhecer o histórico do carro. Quando possível, é importante saber quem eram os donos anteriores e como esse carro foi usado. Uma conversa descontraída com quem está vendendo é fundamental para extrair informações como essas. Aqui em São Paulo o Detran disponibiliza fotos e dados de vistorias que foram feitas nos carros.

O histórico de manutenção também é importante. Já comprei ótimos carros que me ganharam com isso. Quando vejo uma pasta organizada, com todos os comprovantes do que foi feito, valorizo tanto que passo a tolerar outros pequenos detalhes.

Garanto que é seguro comprar um carro que foi constantemente revisado, daqueles que você sabe que pode comprar e sair guiando por milhares de quilômetros sem medo de ficar parado na rua.

Não se iluda com pintura perfeita, ausência de ralados ou amassados. Toda essa perfeição pode ter sido plantada para ocultar as inevitáveis marcas do tempo daquele carro. Levando em conta que o serviço foi feito visando a venda, pode ter certeza que a qualidade não é a mesma de quando você opta por corrigir um detalhe no seu carro de uso, para que fique bonito para você e não para um futuro comprador.

Faço um bom test drive com o carro. Se o vendedor, seja particular, loja ou concessionária, se negar a liberar o carro para o teste, desista do negócio. É no test drive que barulhos, folgas, trepidações e falhas podem aparecer, por mais bonito que o carro esteja.

O caso do Vectra maquiado

Eu tenho muitas histórias para contar, mas aqui vou citar uma que aconteceu no início desse mês. Foi de um Chevrolet Vectra de 2ª geração, carro que estou procurando para um cliente de Minas Gerais.

Não é um modelo fácil de encontrar em bom estado, afinal de contas tem entre 14 e 22 anos. Entretanto, tem se tornado o carro da vez para os entusiastas de clássicos. Se até pouco tempo atrás eram baratos, hoje até os ruins estão caros.

Pois bem, me interessei por um 2004 que estava anunciado numa cidade do interior de São Paulo. Conversei bastante com o dono, que pedia R$ 27 mil pelo carro - valor R$ 8 mil acima da Tabela Fipe. As fotos externas e internas mostravam um carro impecável. E não estou falando daquelas poucas que são publicadas num classificado, mas sim de centenas que o dono me enviou de maneira privada.

Estava convencido em comprar a passagem de ida até essa cidade quando algo chamou minha atenção. Reparei que o assoalho do porta-malas estava amassado e com poeira típica de carros que andam em estradas de terra. Esse amassado não era de uma colisão, pois vinha de cima para baixo, ou seja, objetos pesados foram transportados ali.

Resolvi pesquisar no Detran para verificar se havia fotos de vistorias passadas e fui surpreendido por imagens de um carro bem malcuidado no passado. O brilhante Vectra de hoje tinha tido dias piores. Pintura queimada, faróis amarelados, poeira de estrada de terra em vários pontos da grade frontal, engate, calhas de chuva... Enfim, era um Vectra comum, que arrisco ter custado uns R$ 12 mil naquele estado de conservação.

O dono comprou o carro em junho desse ano, levantou o visual nesses quatro meses e decidiu pedir esses R$ 27 mil por um carro que, na minha avaliação, não vale nem a Tabela Fipe.