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Wesley Safadão, brigas e protestos esquentam Carnaval de Belo Horizonte

Wesley Safadão faz o“Na Farra com Safadão” na segunda (27) em Belo Horizonte  - Divulgação
Wesley Safadão faz o“Na Farra com Safadão” na segunda (27) em Belo Horizonte
Imagem: Divulgação

Miguel Arcanjo Prado

Colaboração para o UOL

22/02/2017 14h58

O Carnaval de Belo Horizonte vive um impasse. Após o começo de forma espontânea e democrática, seu crescimento despertou interesse de grandes marcas e também de empresários que promovem shows fechados durante a folia.

Para muitos, isso fere “o espírito democrático” da retomada carnavalesca a partir de 2009, ligada a jovens artistas e universitários que usaram a folia para defender o uso livre do espaço público pelo povo.

A população abraçou a festa e a fez crescer ao público esperado de 2,4 milhões de pessoas neste ano. Mas, tanta gente junta faz os nervos ficarem à flor da pele.

Maior bloco da cidade com 300 mil pessoas no último desfile, o Baianas Ozadas se dividiu, dando origem ao novo bloco Havayanas Usadas, porque não houve consenso quanto ao rumo empresarial tomado.

A polêmica segue nas redes sociais, com acusações de que muitos "querem vender a folia".

“Tenho medo, sim, que privatizem nosso Carnaval”, confessa Cristal Lopez, rainha de seis blocos, lembrando que “a festa é popular”.

Gustavito, vocalista de blocos como Então, Brilha e Pena de Pavão de Krishna, faz análise diferente: “Não tenho exatamente medo [de que privatizem o Carnaval]. Creio que o crescimento é inevitável e cabe aos organizadores de blocos a responsabilidade perante à festa”, afirma.

Segundo ele, é preciso “descobrir estratégias e posturas para lidar com o poder público, as empresas que querem patrocinar, assim como com os foliões”. E mantém o otimismo: “Acredito que temos força para manter esse processo bonito, respeitando a essência, mas as dificuldades são grandes”.

A cantora Juliana Perdigão, presente no Carnaval de BH entre 2010 e 2015, diz que é complicado “cercar espaço público” e “proibir venda de produtos, para monopolizar uma marca”. Contudo, acha que patrocinadores podem ser bem-vindos desde que não transformem tudo em um grande comercial.

“Usar uma festa que surgiu espontaneamente para impulsionar uma marca? Fica todo mundo fazendo propaganda. Não tenho vontade nenhuma de estar neste tipo de Carnaval. Mas o Carnaval tem esse lado democrático, para quem quiser tem o bloco de 50 mil pessoas e quem quiser pode baixar [em um bloco pequeno] num riacho em Sabará. O exercício de democracia na festa passa por essa possibilidade de escolha”, pontua.

Volta, catuaba

A polêmica já gerou ações concretas, como o recente protesto de ambulantes, revoltados contra a obrigatoriedade de vender apenas a marca de cerveja da empresa que assinou contrato de patrocínio com a Prefeitura de Belo Horizonte.

A Prefeitura sofreu uma derrota, pois teve de voltar atrás e permitir a venda da catuaba, bebida amada pelos foliões mineiros e que chegou a ser proibida.
 
O modelo de Carnaval de portas fechadas e com cobrança de ingresso também gera arrepio em muitos.

Safadão x festa democrática

O cantor Wesley Safadão fará o evento “Na Farra com Safadão”, na segunda (27), com a participação dos sertanejos Rick & Ricardo, Bernardo Souza e DJ João Brasil, no Mirante BH, com ingresso que custa até R$ 300.

Para muitos, este tipo de evento descaracteriza o Carnaval.  Para outros, é mais uma opção democrática para quem assim preferir curtir a folia.
 
O sociólogo Daniel Martins, formado pela UFMG e doutorando na Unicamp, lembra que o componente político é forte desde a retomada do Carnaval de BH.

“Começou com o pessoal levando blocos para a rua como forma de protesto contra as políticas do então prefeito Márcio Lacerda que proibiam o uso do espaço público. No primeiro ano, havia repressão dos blocos como fazem com as manifestações”, lembra.

Ele conta que foi o evento-bloco Praia da Estação, quando um grupo de jovens resolveu transformar a fonte da praça da Estação em uma praia, que foi dado o pontapé para força do Carnaval ser retomada. “Hoje há blocos espalhados por quase todas as regiões da cidade”, afirma.

Sobre a demonização do patrocínio, Martins afirma que ele “é uma dinâmica natural” do processo de crescimento da festa. “Uma festa que leva milhões de pessoas às ruas desperta o interesse do mercado. É aquela coisa: tem espaço para todo mundo”, conclui.