Carnaval de BH inspira cantores e movimenta a cena musical mineira
A retomada do Carnaval de rua de Belo Horizonte -- movimento que se iniciou em 2009, de forma democrática, com a população unida a artistas -- acabou por deixar efervescente também a cena musical da capital mineira, com muitos nomes se inspirando na festa para compor ou gravar novas canções.
Uma das artistas que participou da retomada da festa é Juliana Perdigão, hoje radicada em São Paulo. Em seu elogiado disco “Ó”, ela gravou o “Hino da Alcova Libertina”, bloco roqueiro do Carnaval mineiro. A música fala do confronto entre moralistas e libertinos com o emblemático refrão: “Chuta, chuta, chuta, chuta a família mineira”.
“Eu sempre achei a existência dessa música algo especial no Carnaval, ela sempre deu uma chacoalhada. É uma música importante e que, infelizmente, está fazendo muito sentido. O mundo está se tornando tão intolerante e careta, com muita gente querendo cuidar da vida do outro. Antes essa coisa dos libertinos contra os moralistas soava algo utópico, mas se tornou uma necessidade de a gente se posicionar assim”, afirma Juliana.
Gustavito, o rei da folia
Entre os principais nomes que ganharam impulso com a folia está o do cantor e compositor Gustavito. Ele compôs em 2011 “Então, Brilha!”, em parceria com Irene Bertachini, Leandro Cesar, Geison de Almeida e Glauco Gonçalves. A canção é tema do bloco homônimo, um dos maiores de BH, com suas cores amarelo e rosa na manhã de sábado de Carnaval na rua Guaicurus.
No ano seguinte, Gustavito lançou seu primeiro álbum, “Só o Amor Constrói”, cuja música de abertura, “Juriti”, também foi dedicada ao bloco. “A partir dela começou uma relação forte entre minha obra e o Carnaval”, diz. Em 2012, por conta das profecias do fim do mundo, compôs “Me Acabar de Amor”. Em 2015, em parceria com Glauco Gonçalves, fez “O Brilho Transformador”.
Em 2013, Gustavito passou a cantar também em outro bloco, o azulado Pena de Pavão de Krishna. Dele vieram dois compositores de duas canções emblemáticas de seu ótimo disco “Gustavito e o Quilombo Oriental”, lançado em 2015: “Aflorou”, de Rafael Fares, e “Quilombo Oriental”, de Paul Cesar Anjinho.
“As duas se agregaram de tal forma a meu repertório que me tornei o intérprete oficial delas”, fala. “Em 2014, foi minha vez de elaborar um ijexá para o bloco, então compus a harmonia e a melodia da canção ‘Massala com Dendê’”, revela Gustavito, contando que a letra foi criação coletiva em uma “reunião festiva” com os membros do bloco.
Sua participação em outro bloco, o Blocomum, ainda rendeu a politizada “Enquanto Morar for um Privilégio, Ocupar É um Direito”, feita na ocupação Espaço Comum Luiz Estrela, em um casarão belo-horizontino, também com música dele e letra coletiva.
“Uma característica muito especial daqui é a ligação do Carnaval com a luta social. A luta dos movimentos por moradia, por transporte, pela legalização da maconha, pela liberdade religiosa. O Carnaval de BH é antimachista e anti-homofobia em sua essência”, define Gustavito, que, além dos já citados, ainda sairá neste ano nos blocos Pisa na Fulô, Roda de Timbau, Manjericão, Da Praia da Estação e Abre-te Sésamo. Ele prepara ainda dois novos discos, com inspirações além da folia.
Tanta inspiração foliona já rende análises fervorosas sobre a ligação entre música e Carnaval de Belo Horizonte. “A volta do Carnaval de rua de BH é o maior fenômeno artístico mineiro desde o Clube da Esquina. E muito mais popular”, decreta Kerison Lopes, jornalista e criador do bloco Volta, Belchior.
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