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Covid-19: novas variantes são desafio para vacinação no Brasil

Getty Images
Imagem: Getty Images

Raquel Miura

15/07/2022 09h18

Variantes mais transmissíveis, aumento do número de mortes, relaxamento das medidas sanitárias e dificuldades em avançar com doses de reforço levam especialistas a acreditar que melhora do cenário ligado à covid-19 virá mesmo com imunizantes mais eficazes e duradouros.

A comunidade científica espera que ainda este ano o mundo possa contar com uma nova geração de vacinas contra a covid-19 para frear novos picos da doença. No Brasil a média móvel dos últimos 7 dias está em 242 mortes diárias pelo coronavírus, distante dos 4 mil óbitos que o país já teve diariamente no momento mais assombroso da crise sanitária, mas ainda assim é como se hoje um avião de grande porte caísse todos os dias. A taxa média de contágio é de 54 mil novos casos diários.

É consenso que os atuais imunizantes foram os principais responsáveis pela redução expressiva no número de mortes pelo coronavírus, mesmo em países que enfrentam novas ondas de transmissão. Mas o fim de medidas sanitárias mostrou brechas importantes nas doses já disponíveis: elas não provocam memória imunológica de grande duração nem protegem contra as principais variantes mais presentes hoje.

"Essas vacinas são úteis ainda porque não temos uma outra geração de imunizantes. Agora, elas têm uma capacidade pequena, em termos de tempo de imunização. E, principalmente, nós já vimos que a imunidade pelo coronavírus é muito transitória. Mesmo as pessoas que adoecem por esse vírus, com a entrada de uma nova cepa, ou às vezes até com a própria cepa, voltam a adoecer em poucos meses. E esses poucos meses são um, dois, três, quatro meses", disse à RFI o médico Dalcy Albuquerque, da Sociedade Brasília de Medicina Tropical.

"Além dos cuidados como máscara e álcool, nós temos que torcer para que venha logo essa nova geração de vacinas, já baseada nas cepas atuais. E a cepa base agora é a ômicron. O que a gente tem visto são variantes da própria ômicron. Então, eu acho que é fundamental que a indústria invista numa vacina - e já se tem notícia dela, já está em teste - que cubra outras variantes e principalmente que possa garantir uma resposta imunogênica de maior durabilidade."

A maioria dos casos graves, que requerem internação ou terminam em óbito, é de quem não está com o esquema de vacinação completo, porém há um percentual considerável, na casa dos 35%, de pessoas que morreram por covid-19 ou foram parar na UTI apesar de terem tomado a terceira dose. Nesse caso, na maioria dos registros, são pacientes que tomaram o primeiro reforço ano passado e não receberam a quarta dose este ano. Os pacientes mais atingidos são idosos ou pessoas com comorbidades.

Variante indiana

No Brasil, onde a cobertura nacional é de cerca de 80%, um dos desafios é avançar mais na aplicação de todas as doses de reforço já disponíveis. No calendário do ministério da Saúde, a quarta dose ou segunda dose de reforço é oferecida para quem tem a partir de 35 anos, mas vários estados já aplicam essa dose extra em pessoas com mais de 18 anos.

A expectativa de autoridades sanitárias e políticas em torno de imunizantes mais eficazes e que possam, também, ser rapidamente atualizados se deve pela alta capacidade do coronavírus em se transformar, especialmente em regiões onde a vacinação é irregular, sem um calendário organizado de reforço ou onde a cobertura da imunização é baixa. Ligia Bahia, especialista em saúde pública da UFRJ afirmou à RFI que isso ajuda a explicar o surgimento agora de uma nova variante na Índia, que traz preocupações inclusive por aqui.

"Isso é celeiro para a proliferação de variantes. É o que está acontecendo na Índia, por exemplo. Um país extremamente populoso, produtor de vacinas, onde todo caminho de vacinação foi muito acidentado, com cobertura de reforço ainda baixa. E onde inclusive houve a privatização da vacinação nesse processo. Foi tudo muito irregular. Não é à toa que surjam essas variantes e que podem sim atingir o Brasil", disse Bahia.

Ela acrescenta que "a gente precisa ter uma vigilância epidemiológica, uma vigilância genômica. Não temos uma vigilância genômica no Brasil adequada para controlar a existência de variantes."

A mutação indiana já foi detectada em outros países e é considerada de alta transmissibilidade. Ainda não se sabe quão agressiva é essa nova versão. No Brasil, a Anvisa autorizou esta semana o uso da vacina Coronavac em crianças a partir de três anos.