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Coronavírus: psicólogas atendem imigrantes brasileiros em Israel

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Imagem: iStock

Daniela Kresch

Enviada especial da RFI, em Tel Aviv

25/04/2020 14h36

A psicóloga carioca Tamar Nigri Prais, 30, faz parte de um grupo de 15 psicólogas que está ajudando imigrantes brasileiros em Israel em meio à pandemia da covid-19. O Plantão Corona é um grupo de terapeutas que moram em Israel e têm formação em psicologia no Brasil, que oferece apoio emocional voluntário a brasileiros que buscam ajuda e conforto em português para lidar com a crise de saúde.

Tamar, que é especializada em saúde mental e psicanálise, se mudou para Israel há um ano e meio. Como alguém que está se adaptando a um novo país, ela sabe como é difícil para quem não domina a língua local conseguir expressar suas preocupações e ansiedades.

Ela conta que o grupo já existia antes, mas com o objetivo de trocar ideias entre as psicólogas, principalmente em relação a burocracias para validação dos diplomas brasileiros em Israel. Mas tudo mudou com o coronavírus.

"Com o corona, uma das psicólogas teve a ideia de a gente se disponibilizar para ajudar, porque a gente entende, enquanto imigrante, o quão difícil é se expressar em um idioma que não é a sua língua materna", diz Tamar. "Então, a gente entendeu que seria importante e interessante a gente se disponibilizar para os brasileiros que moram aqui contarem com a gente".

As psicólogas têm perfis diferentes. Elas têm idades, cidades-natal e formações profissionais diversas e estão espalhadas por todo Israel, do Norte ao Sul.

No momento, Tamar é quem organiza o atendimento de quem busca o Plantão Corona, centralizando as ligações e colocando pacientes e profissionais em contato. Depois, cada psicóloga combina com o paciente como será a conversa. Obviamente, neste momento de isolamento social, as sessões são virtuais, mas ainda há opções, como conversas com câmera ou sem câmera.

Mesmo preferindo falar com pacientes cara a cara, Tamar se surpreendeu com a eficiência das novas tecnologias, que ajudam as pessoas até a fazer terapia de longe.

"Me surpreendi com o efeito de falar com alguém por telefone ou por Zoom. Cada uma de nós, psicólogas do Plantão Corona, atende da maneira que é mais confortável para si. Então, tem algumas que fazem só por telefone, outras com câmera, isso varia muito. Mas eu tenho visto e escutado, tanto das psicólogas quanto de outras pessoas com quem converso, que funciona".

Só nas primeiras semanas, e com a divulgação apenas no início, 20 pessoas já foram atendidas. Tamar conta que os brasileiros demonstram muita preocupação com a situação, que é catalisadora de problemas já existentes.

"No final das contas, o corona acaba sendo um gatilho para algumas questões que já estavam ali aparecerem de uma maneira mais intensa, ou por estarem convivendo mais com elas ou porque a ansiedade do momento propicia isso", explica Tamar.

"Aparece muito a questão da ansiedade, da solidão, da incerteza do futuro, de preocupações com a estabilidade financeira, do medo do próprio vírus, da preocupação com familiares que estão no Brasil, portanto estão longe. Se vão pegar, se não vão pegar. E se pegarem, como fazer? Se eles estão com ajuda, se não estão. Aparecem também alguns problemas de convivência em casa, de relacionamento, porque eu acho que fica tudo mais intenso".

Crises de angústia e solidão

Cada pessoa atendida tem suas questões e ansiedades, mas Tamar, em geral, acredita que as psicólogas tentam mostrar que os temores são legítimos e naturais neste momento. Uma das dicas que ela dá para quem se sente agitado por estar fechado dentro de casa —principalmente no caso de quem tem filhos— é não exigir demais de si mesmo.

Ela até sugere tentar ver os lados positivos da situação e valorizar pequenas coisas que não eram nem percebidas antes, como o banho de sol na varanda e o som dos pássaros.

"Acho importante as pessoas pensarem que é um momento diferente de todos os outros. Então, a cobrança que a gente tem do dia a dia com a gente mesmo —e de fora para com a gente— é intensificada. Temos que trabalhar e ser ativos, vamos fazer isso e tem que fazer aquilo, os filhos têm que estudar e não podem ver muita televisão... Eu acho que é um momento que a gente relaxar um pouco. Não de não se preocupar com nada, até porque é impossível, mas de entender que é uma fase diferente do nosso dia a dia e que, portanto, a gente vai precisar fazer coisas também de modo diferente para lidar com isso".

Problemas dos imigrantes

Imigrantes enfrentam angústias a mais em casos de crise. Eles já encaram as dificuldades da integração no novo país. E agora precisam ficar isolados. Segundo Tamar, as maiores preocupação dos imigrantes brasileiros em Israel são com a família no Brasil e o temor do futuro por causa de possíveis dificuldades financeiras, principalmente a quilômetros de distância e sem a rede de suporte do país natal.

Outra aflição demonstrada é a solidão. Tem muitos que moram sozinhos, mesmo tendo parentes e amigos no país. O mais importante, para ela, é poder dar a essas pessoas a chance de expressar tudo isso em português:

"O que a gente faz que, para mim, é o mais bonito, interessante e prazeroso, é propiciar o lugar da escuta", conta a psicóloga brasileira.

"É dar lugar para as pessoas poderem falar daquilo que as angustia e poder esvaziar um pouco essa angústia de uma maneira que elas consigam se expressar. Além de vencer o obstáculo de conseguir falar, é mais difícil ainda ter que pensar de que maneira expressar o que você está querendo dizer".