Mulheres são a maioria dos médicos jovens no Brasil

O número de médicas no Brasil vem aumentando ano a ano. Atualmente, as mulheres são a maioria dos médicos mais jovens, com menos de 39 anos, em atuação no país: elas representam 58% dos profissionais nessa faixa etária, enquanto eles são 42%.

Os dados são da Demografia Médica 2024, divulgada nesta segunda-feira (8) pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), que mostra também que o número de médicos no país dobrou em 15 anos, saltando de 292.794 em 2009 para 575.930 médicos ativos em 2024, uma das maiores quantidades do mundo - o que representa 2,81 médicos para cada mil habitantes.

O levantamento mostra ainda que em 2023 os homens ainda representavam a maioria dos médicos com até 80 anos do Brasil, correspondendo a 50,08% do total dos profissionais da área, enquanto as mulheres representam 49,92% da categoria. Mas, segundo o documento, estima-se que ainda neste ano o número de mulheres ultrapasse o de homens na carreira de medicina.

De acordo com o CFM, o aumento do ingresso de mulheres na medicina começou a ser observado em 2009. Desde então, essa tendência tem sido observada nos anos seguintes, e o número de mulheres ingressando na carreira começou a exceder o de homens.

Temos esse aumento no número de médicas formadas, hoje está equivalente ao de homens e elas já são a maioria entre os mais jovens. A mulher está impondo seu justo papel de liderança e de conhecimento. Medicina se mede por conhecimento Donizetti Giamberardino, conselheiro federal e supervisor da Demografia Médica 2024.

Segundo Julio César Martins Monte, diretor acadêmico do curso de Medicina da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein, a feminilização da medicina é uma tendência internacional, que não se restringe ao Brasil.

Esse é um fato que tem sido observado há algum tempo. Demonstra que a mulher pode ser quem ela quiser, seguir a carreira que quiser, mesmo Medicina sendo um curso longo e exaustivo. É o reflexo de um movimento de independência cada vez maior da mulher, que deve colocar suas escolhas em primeiro lugar Julio César Martins Monte, diretor acadêmico do curso de Medicina da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein

Recorde de médicos

Segundo a Demografia Médica, o número de médicos ativos no Brasil em 2024 é o maior em todos os anos. Desde o início da década de 1990, essa quantidade mais que quadruplicou, saltando de cerca de 131 mil profissionais para os mais de 575 mil atualmente.

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Para o CFM, este crescimento tem sido impulsionado pela expansão do ensino médico - com a abertura de muitas faculdades de Medicina nos últimos anos - e também por causa da demanda por serviços de saúde, em decorrência do aumento das necessidades de saúde da população, mudanças no perfil de morbidade e mortalidade, envelhecimento da população, entre outros fatores.

De acordo com o CFM, atualmente o Brasil possui 389 escolas médicas, a segunda maior quantidade de faculdades do mundo, ficando atrás somente da Índia. Apesar de isso representar o aumento significativo na quantidade de profissionais disponíveis ano a ano, o Brasil ainda enfrenta uma importante desigualdade na distribuição e fixação desses médicos em regiões mais distantes - a concentração continua nas regiões Sul e Sudeste, especialmente nas capitais, devido às melhores condições de trabalho.

O levantamento aponta que o Sudeste tem a maior densidade e proporção de médicos por mil habitantes (3,76) e concentra 51% do total de médicos do país. Já a região Norte tem a menor proporção de profissionais por mil (1,78), número bem abaixo da média nacional. O Nordeste apresenta uma média de 2,22 médicos por mil; o Sul tem 3,27 e o Centro-Oeste concentra 3,39 médicos por mil.

Para comparação, o documento relata que em 1990 o Brasil possuía 0,91 médico para cada mil habitantes. Três anos depois, alcançou a marca de 1 médico por mil. Em 2016, o país dobrou essa proporção, atingindo 2,03 médicos para cada mil pessoas. E agora, atingiu a marca de 2,81.

"Mantendo-se o mesmo ritmo de crescimento da população e de escolas médicas, dentro de cinco anos, em 2028, o país contará com 3,63 médicos por mil habitantes, índice que supera a densidade médica registrada, por exemplo, na média dos 38 países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE)", afirmou José Hiran Gallo, presidente do CFM.

Em 2021, o relatório da OCDE colocava o Brasil na 43ª posição do ranking da densidade de médicos por mil habitantes - na época, o país tinha 2,2 profissionais por mil pessoas. Considerando que neste ano o Brasil alcançou o índice de 2,8, ele subiria para a 35ª posição do ranking.

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"O Brasil possui um número razoável de médicos ativos, comparável às principais nações desenvolvidas do mundo. Mas o maior problema ainda é a distribuição desses médicos. Há uma grande dificuldade de distribuir esses profissionais que se concentram nas capitais e isso, por si só, implica em dificuldade de acesso da população. E esse acesso deveria ser proporcionado e planejado pelo Estado, com ampliação da rede de assistência na atenção primária para a fixação desses profissionais de saúde nos locais mais difíceis de atração. Se crescermos o número de médicos sem uma política de fixação, a desigualdade só vai aumentar", disse.

Na avaliação do diretor acadêmico do Einstein, ampliar a oferta de cursos de Medicina em regiões isoladas do Brasil na expectativa de fixar médicos nesses locais não resolve o problema da desigualdade de distribuição, pois em muitos municípios falta infraestrutura básica, como unidades básicas de saúde, hospitais e outros equipamentos do Sistema Único de Saúde (SUS).

Não adianta eu expandir a escola se não tenho infraestrutura para esse médico trabalhar. E o problema não é somente fixar esse médico que vai se formar. É preciso criar mecanismos para fixar o médico que vai ser o professor nessa faculdade, senão a qualidade fica comprometida. Além disso, uma andorinha sozinha não faz verão. Não adianta ter só médico. É preciso ter equipe multiprofissional, com enfermeiros, técnicos de enfermagem, nutricionistas, fisioterapeutas. A ideia de que abrir novas faculdades vai resolver o problema é muito simplista Julio César Martins Monte, diretor acadêmico do curso de Medicina da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstei

O conselheiro do CFM concorda que formar médicos não é tão simples. "Precisamos garantir a qualidade da sua formação, de forma que a população tenha segurança em seus atendimentos. Não basta abrirmos novas escolas médicas e formarmos mais profissionais. Precisamos de mais programas de residência médica e ter investimentos na atenção primária, que proporcione a fixação desses médicos, com estabilidade e comprometimento com a saúde pública. Isso é fundamental para que o sistema de saúde dê certo", afirma.

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