O que acontece no seu corpo quando você tem uma crise de ansiedade

Situações como fazer uma prova ou entrevista de emprego, falar em público e até mesmo um primeiro encontro com aquele crush podem acionar a ansiedade, um mecanismo biológico que nos mantém em estado de alerta e prontos para enfrentar desafios.

Como se trata de uma reação normal ao estresse, espera-se que essa emoção desapareça uma vez que ele seja superado. Para muitos, porém, a ansiedade é permanente e atrapalha a vida diária.

Nesses casos, mesmo conscientes de que o medo e a preocupação são desproporcionais ao estímulo que os causa, essas pessoas apresentam sintomas cognitivos, fisiológicos, comportamentais e afetivos. Caso a pressão seja grande, tudo se agrava e a crise aparece.

Transtornos de ansiedade são as condições psiquiátricas mais prevalentes na população mundial

301 milhões de pessoas são afetadas, incluindo 58 milhões de crianças e adolescentes

Comparadas aos homens, as mulheres são as mais suscetíveis

O Brasil é o país com o maior número de pessoas ansiosas, quase 10% da população

No trabalho, 37% das pessoas estão sob estresse extremo: a ansiedade atinge 63% delas

Sintoma x transtorno

A ansiedade é definida como um sentimento de medo, pavor ou inquietação. O termo também é utilizado para se referir aos variados tipos de transtornos de ansiedade. Veja exemplos:

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Transtorno de ansiedade generalizada - preocupação e tensão constantes e de duração superior a 6 meses (aproximadamente) relacionadas a situações como saúde, dinheiro, emprego e família.

Transtorno do pânico - apresenta ataques de pânico súbitos e intensos, sem um desencadeante, que duram breve tempo, seguidos do medo de ter nova crise.

Fobias - caracterizadas por medo ou pavor de situações ou objetos que, para a maioria das pessoas, causa pouco ou nenhum perigo real (voar, aranhas, locais cheios, situações sociais).

Entenda os mecanismos por trás de uma crise

Os especialistas consultados afirmam que nem todas as pessoas com transtornos ansiosos apresentam crises agudas (súbitas). Tal situação é mais frequente no pânico.

Apesar disso, elas podem aparecer na ansiedade generalizada, e em outros quadros psiquiátricos (depressão, transtorno bipolar ou de ansiedade social), e mesmo entre indivíduos que não possuam um diagnóstico de ansiedade, em situações que envolvam medo intenso.

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Nessa hora, o corpo responde da seguinte maneira:

  • Ativação do SNC (sistema nervoso central)
  • Interação de neurotransmissores

O seu cérebro aperta o play

Para ativar o sistema de resposta a situações de estresse, o sistema nervoso central, formado pelo cérebro e pela medula espinal, entra em ação. Como atua como um sistema de comunicação, ele convoca os neurônios e seus mensageiros químicos, os neurotransmissores.

Os neurotransmissores requisitados são a noradrenalina (para garantir o estado de alerta), serotonina (regular o ritmo cardíaco, humor, etc.), dopamina (aumentar a motivação) e o GABA (ácido gama aminobitúrico, que controla as ações excitatórias).

O SNAS (sistema nervoso autônomo simpático), que regula o organismo para suportar situações de perigo, esforço intenso, estresse físico e psíquico é quem comanda a maioria das reações que logo mais aparecerão.

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Estudos mostram que as amígdalas, grupo de neurônios localizados na profundidade do lobo temporal [parte do cérebro envolvida no processamento da audição, linguagem e memória], parecem ter um papel importante nessas mudanças todas.

Com a função de alertar o organismo sobre algum tipo de ameaça (gerando medo e ansiedade), elas ficam mais ativas diante de situações de estresse.

Uma "galera" entra no jogo

Seja em momentos de ansiedade moderada, seja na hora da crise, hipotálamo, hipófise e a glândula adrenal (ou suprarrenal) —conhecidos como circuito HHA— providenciam a abertura das "comportas" da adrenalina, que promove uma verdadeira inundação orgânica.

Em resposta a ela, o sistema nervoso autônomo simpático desencadeia uma série de processos que se manifestam por meio de variados sintomas:

Cognitivos: medo de perder o controle, de ser ferido ou morrer, de enlouquecer, de ser julgado pelos outros, pensamentos aterrorizantes, imagens mentais ou memórias, falta de concentração e atenção, confusão, hipervigilância para ameaças.

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Fisiológicos: aumento do batimento cardíaco, palpitação, dificuldade para respirar, dor no peito ou pressão, sensação de sufoco, sudorese, ondas de calor ou frio, tremor, náusea, mal-estar estomacal, diarreia, fraqueza, tensão muscular, rigidez, boca seca.

Comportamentais: evitação de situações, escapismo, busca por segurança e tranquilidade, agitação, paralisação, dificuldade para falar.

Afetivos: nervosismo, tensão, medo, terror, irritação, impaciência, frustração.

Por que eu tenho ansiedade?

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Imagem: iStock

As causas desse transtorno ainda não foram totalmente esclarecidas. O que sabemos até o momento é que ela decorre de uma interação de variados fatores:

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  • Genética (pessoas com ansiedade geralmente têm parentes com o transtorno)
  • Traumas (abuso ou negligência na infância, rompimento de relacionamentos, etc.)
  • Uso de substâncias estimulantes do sistema nervoso central (ex.: efedrina, teofilina, ritalina, cafeína, cocaína, etc.)
  • Retirada de determinadas substâncias depressoras do sistema nervoso central (benzodiazepínicos, álcool, etc.)

É só uma crise ou tenho pânico?

Embora os sintomas de uma crise de ansiedade ou de pânico se sobreponham, o que diferencia uma da outra é que a primeira geralmente se desenvolve a partir de algum fator desencadeante conhecido (problemas econômicos, familiares ou de saúde, por exemplo). Além disso, ela vai instalando de forma gradual.

Já o pânico é uma crise de ansiedade muito intensa, que pode ocorrer sem causa desencadeante, como uma manifestação típica do próprio transtorno. Por outro lado, também pode aparecer como resposta a outra condição psiquiátrica (fobias, por exemplo).

O ataque de pânico pode acontecer de repente, quando menos se espera, tem seu pico entre 10 a 30 minutos, embora alguns sintomas possam durar por algumas horas.

Para caracterizá-lo é preciso que estejam presentes ao menos 4 das reações descritas acima.

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A frequência do batimento do coração e a angústia são intensas —a ponto de serem confundidos com um infarto. No entanto, essas manifestações passam mais rapidamente.

Na crise de ansiedade os sintomas tendem a ser mais leves e têm maior duração.

Dicas para segurar a barra

Para além de adotar um estilo de vida saudável, ou seja, dar mais espaço para alimentos in natura no cardápio diário, colocar o corpo para se mexer e investir em sono de qualidade, bem como dedicar tempo ao lazer, os especialistas sugerem que você adote as seguintes medidas:

Eduque-se sobre a ansiedade para ser capaz de observar em si os sintomas relacionados. O Ministério da Saúde e a ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), além de VivaBem disponibilizam conteúdos informativos atualizados.

Procure por ajuda especializada se os sintomas e as crises se repetem com frequência. O tratamento da ansiedade é eficaz, traz alívio dos sintomas e melhora da qualidade de vida.

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Evite ignorar os sintomas. O quadro pode se agravar e, quando não tratado, ainda facilita o aparecimento de outras enfermidades como doenças do coração, diabetes, abuso de substâncias e depressão.

Considere fazer psicoterapia, que é uma das estratégias do tratamento. Algumas escolas de psicologia, como a da Universidade Presbiteriana Mackenzie, na região central de São Paulo, oferecem atendimento gratuito.

Aposte no aprendizado de técnicas de relaxamento ou meditação. Experimente algumas das variadas possibilidades, até encontrar a melhor para você.

Fontes: Débora Leal, médica psiquiatra do HU-UFPI (Hospital Universitário da Universidade Federal do Piauí), que integra a rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares); Eduardo Perin, médico psiquiatra pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), especialista em terapia cognitivo-comportamental e saúde mental da infância e adolescência; e Naim Akel Filho, psicólogo, especialista em neurociência e professor do curso de psicologia da PUC-PR. Revisão médica: Eduardo Perin.

Referências:

OMS (Organização Mundial da Saúde)

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ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria)

Chand SP, Marwaha R. Anxiety. [Atualizado em 2023 Abril 24]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2023 Jan-. Disponível em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK470361/

Cackovic C, Nazir S, Marwaha R. Panic Disorder. [Atualizado em 2023 Ago 6]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2023 Jan-Disponível em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK430973/

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