O que acontece no seu corpo quando você vive segurando o xixi

Diferente de outras funções do organismo, segurar ou não o xixi é um dilema orgânico só possível porque a natureza colocou nas mãos dos humanos o poder de decidir a melhor hora de ir ao banheiro. Mas essa vantagem fisiológica impõe uma condição: ter mais respeito pelo complexo trabalho do sistema urinário.

Rins, ureteres, bexiga e uretra formam o conjunto de órgãos envolvidos na formação e drenagem da urina, líquido orgânico composto do excesso de água e outras substâncias desnecessárias ao organismo.

A produção de xixi pelos rins é constante. Ele flui por meio dos ureteres em direção à bexiga, que é encarregada de armazená-lo.

Na parte inferior desse órgão flexível há um músculo (esfíncter urinário), que se contrai para garantir que o canal por onde a urina sai (uretra) permaneça fechado.

150 a 180 litros de sangue são filtrados diariamente pelos rins para remover produtos de excreção (ureia, excesso de minerais e medicamentos) e equilibrar os fluídos orgânicos.

A bexiga funciona como um reservatório: a feminina tem capacidade de armazenar cerca de 400-450 ml; a masculina, cerca de 500-550 ml.

De onde vem a vontade de fazer xixi

Quando a bexiga está cheia, ela se comunica com a medula através dos nervos. Basta a mensagem alcançar o cérebro para que ele dispare o desejo de urinar.

Nessa hora, é possível decidir entre eliminar ou reter temporariamente o xixi. Uma vez que se decida urinar, o esfíncter relaxa, a urina passa, ao mesmo tempo em que a bexiga se contrai, promovendo o completo esvaziamento.

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A maioria das pessoas urina de 4 a 6 vezes diariamente, especialmente durante o dia.

Ser capaz de segurar o xixi é uma função desenvolvida a partir do nascimento, e o bom funcionamento desse mecanismo deverá estar completo por volta dos 4 a 5 anos de idade, a depender do amadurecimento neurobiológico e endócrino da criança.

O que você ganha com isso?

A retenção da urina de forma voluntária e repetida é definida como uma situação na qual o indivíduo adia o esvaziamento da bexiga por longo período.

Isso pode se dar por questões sociais, como uma rotina de trabalho intensa, não poder se ausentar de determinado ambiente, e mesmo não encontrar banheiro disponível ou em condições adequadas.

Embora tal comportamento não seja considerado uma enfermidade, ele está relacionado a determinados problemas de saúde. Confira os mais frequentes:

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  • Infecções urinárias
  • Problemas na bexiga

Você pode viver tendo cistite

O esvaziamento frequente da bexiga reduz o risco para infecção urinária. Portanto, a cistite, como é referida pelos médicos, inclusive a de repetição, é considerada a complicação mais comum da retenção voluntária do xixi.

O processo contínuo de eliminação de urina funciona como uma defesa do organismo contra infecções por bactérias presentes no trato urinário. Quando o xixi é retido repetidamente e por longo período, a interrupção de seu fluxo facilita a proliferação desses microrganismos, que acabam infectando a região.

Infecções urinárias são mais comuns em mulheres. A razão para isso é o menor tamanho da uretra, alterações hormonais e a proximidade da região com o ânus.

A maior preocupação nesses quadros é que a infecção migre em direção aos rins. Embora seja um evento mais raro, tal situação pode rapidamente evoluir para quadros mais graves, como a pielonefrite —a infecção dos rins.

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Você pode atrapalhar as funções da bexiga

Quando segurar o xixi é um comportamento frequente que se repete ao longo de anos, o resultado pode ser o mau funcionamento da bexiga.

Isso pode acontecer porque a bexiga, mantida sob pressão contínua, vai aumentando a capacidade de armazenar maiores quantidades de urina, ao mesmo tempo que os músculos locais vão perdendo elasticidade.

A consequência é a perda de sensibilidade, ou seja, a capacidade de perceber que a bexiga está cheia se reduz.

Com o órgão fica mais "fraco", não há esvaziamento adequado, o que aumenta o risco para infecções urinárias.

Outro possível efeito é a perda da capacidade de esvaziar a bexiga, como em outros quadros de retenção urinária e disfunções miccionais. Muitas vezes, nessas situações, só é possível esvaziar a bexiga através de uma sonda.

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A maior retenção da urina no órgão também facilita a concentração de resíduos. No longo prazo, isso pode propiciar a formação de cálculos (pedras) vesicais.

Em casos extremos, pode haver sobrecarga dos rins, com evolução para a perda das funções renais (insuficiência renal de origem urológica).

O pipi nosso de cada dia

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Imagem: iStock

De acordo com os especialistas consultados, a quantidade de urina que você produz depende de vários fatores, mas principalmente decorre do volume de líquidos que você consome e do quanto você perde por meio da transpiração e da respiração.

Entre os adultos, a média é produzir de 3 xícaras a 2 litros de urina/dia.

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O ritmo do desejo de urinar também varia, a depender do quão rápido seus rins produzem urina e do quanto sua bexiga é capaz de retê-la de forma confortável.

O ideal é não ficar 2 a 3 horas sem urinar (2 vezes pela manhã, 2 vezes à tarde e à noite, e pelo menos mais 1 vez antes de dormir.

Considere um máximo de 4 horas sem urinar, para homens; já entre as mulheres, os limites são de 3 a 3h30.

À noite, quanto mais cheia a bexiga estiver, maior é a frequência em que a pessoa precisará levantar de madrugada para urinar, com prejuízo à qualidade do sono.

Outros fatores podem alterar a quantidade de urina produzida, assim como o esvaziamento adequado da bexiga. São exemplos o uso de medicamentos como diuréticos, anticolinérgicos, opioides, anti-histamínicos, etc., e enfermidades como o diabetes descontrolado, doenças neurológicas, hiperplasia prostática, etc.

Dicas para manter o sistema urinário em dia

Embora não seja possível prevenir todos os problemas que afetam os órgãos que compõem esse sistema, especialmente durante o processo natural do envelhecimento, algumas práticas podem colaborar para que ele se mantenha o mais saudável possível. Veja as sugestões dos especialistas:

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Mantenha-se hidratado. A regra geral é tomar 8 copos (1 copo equivale a 250 ml) de água para mulheres (grávidas e lactantes: aumentem um copo) e 10 para homens.

Aprenda a observar seu corpo. Qualquer mudança no jato urinário, dor ou ardor ao urinar, capacidade de reter ou fazer xixi são sintomas que merecem a avaliação de um urologista.

Use o banheiro quando sentir vontade, evitando adiar a micção.

Urine de forma relaxada e sem pressa. Isso garante o total esvaziamento da bexiga.

Evite infecções limpando-se da frente para trás, se você é mulher.

Habitue-se a urinar depois do sexo.

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Aprenda a exercitar o assoalho pélvico (exercícios de Kegel). Isso fortalece a região, e ainda evita a perda urinária em situações como tossir, levantar-se, etc.

Exercite-se regularmente.

Mantenha um peso saudável para você.

Colabore para a saúde intestinal. A pressão do excesso de fezes sobre a bexiga pode atrapalhar seu processo de dilatação. Apostar em uma dieta rica em fibras, como vegetais, grãos integrais e frutas, além de boa hidratação e exercícios previne a constipação.

Limite o consumo de cafeína e álcool.

Evite o tabaco.

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Fontes: André Biondi Ferraz, médico urologista, membro da SBU (Sociedade Brasileira de Urologia) e médico assistente da Clínica Urológica do HU-UFPI (Hospital Universitário da Universidade Federal do Piauí), que integra a rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares) e também do HILP (Hospital Infantil Lucídio Portela), em Teresina; Fernando Ferreira Gomes Filho, médico urologista, especialista em urologia pela Faculdade de Medicina de Botucatu da Unesp (Universidade Estadual Paulista), e mestre e doutor em bases gerais da cirurgia pela mesma instituição; e Fernando Meyer, médico urologista e professor da Escola de Medicina e Ciências da Vida da PUC-PR, membro titular da SBU e secretário da diretoria (2022-2023), da AUA (Associação Americana de Urologia) e da CAU (Confederação Americana de Urologia). Revisão médica: André Biondi Ferraz.

Referências:

  • Bono MJ, Leslie SW, Reygaert WC. Urinary Tract Infection. [Atualizado em 2022 Nov 28]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2023 Jan-. Disponível em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK470195/
  • Belyayeva M, Jeong JM. Acute Pyelonephritis. [Atualizado em 2022 Set 18]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2023 Jan-. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK519537/
  • Maharjan G, Khadka P, Siddhi Shilpakar G, Chapagain G, Dhungana GR. Catheter-Associated Urinary Tract Infection and Obstinate Biofilm Producers. Can J Infect Dis Med Microbiol. 2018 Aug 26;2018:7624857. doi: 10.1155/2018/7624857. PMID: 30224941; PMCID: PMC6129315. Disponível em https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30224941/

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