Topo

Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Aprender novo idioma é benéfico ao longo da vida, além de retardar demência

Dan começou a ter acesso ao inglês aos 4 meses - Arquivo pessoal
Dan começou a ter acesso ao inglês aos 4 meses Imagem: Arquivo pessoal

Janaína Silva

Colaboração para o VivaBem

22/02/2023 04h00

Juliana Teixeira Dias, 38, coautora dos livros "Inglês de Pais para Filhos" e "Práticas Inclusivas e o Ensino de Inglês", relata que estimula seu filho Dan, 5, a aprender a língua inglesa, por meio de atividades lúdicas inseridas no cotidiano. O processo teve início quando ele ainda tinha 4 meses de idade.

"A jornada bilíngue engrenou com músicas e palavras soltas, como animais e cores. Eu não falo 100% do tempo em inglês com ele, mas um pouco todos os dias. Hoje, Dan já é capaz de conversar, cantar, jogar, brincar, interagir e, agora, começou a ler em inglês", diz ela, que é bióloga e pedagoga formada em letras português/inglês.

Diferentemente do senso comum, os benefícios vão além da possibilidade de comunicação em um outro idioma, diferencial valorizado ao se buscar um emprego ou vivências fora do país.

O aprendizado de um segundo, terceiro ou mais idiomas impacta, praticamente, todas as fases da vida, incluindo a saúde mental, e evita neurodegenerações, e pode retardar o aparecimento dos sintomas do Alzheimer.

Juliana comenta que seu pai e avó materna têm Alzheimer e ela gostaria que eles fossem bilíngues. "O benefício nesse caso, conforme os estudos da neurocientista Ellen Bialystok, é que essas pessoas teriam mais qualidade de vida por mais tempo, em torno de seis anos. Parece pouco, mas se meu pai estivesse mais lúcido, teria vivido esses primeiros cinco anos de vida do meu filho de maneira mais significativa para ambos."

Avó e pai de Juliana com Dan no colo - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Bisavó, avô de Dan, com o neto no colo, e Juliana
Imagem: Arquivo pessoal

Desenvolvimento cerebral

Existem diversas pesquisas sobre o estudo de um idioma adicional, seja inglês, espanhol, japonês ou coreano, com metodologias diferentes. Embora não seja possível quantificar e compará-los, as benesses envolvem atenção, comportamento e controle de impulsividade, de acordo com Alexandre Fernandes, neuropediatra e coordenador do departamento científico de neurologia infantil da ABN (Academia Brasileira de Neurologia).

"Quando a criança aprende mais cedo, ocorre um espessamento do córtex e potencializa outras áreas do lobo frontal", diz o médico.

O cérebro é como um músculo, que precisa ser exercitado. Aprender e praticar um outro idioma é um treino, uma estimulação cognitiva que ativa regiões e circuitarias cerebrais envolvidas, exercitando, fortalecendo, propiciando o crescimento e a reorganização das redes neurais, produzindo neurônios e novas sinapses.

"No estudo, a chamada neuroplasticidade é um ponto importante a ser observado quando se aprende e pratica uma segunda língua, criando uma reserva neurocognitiva que minimiza as perdas que ocorrem por processos neurodegenerativos", observa Cecília Galetti, psicóloga, neuropsicóloga e especialista em gerontologia pela SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia).

Como o cérebro trabalha com mecanismo de resiliência cerebral —capacidade de resistir a fatores externos, doenças degenerativas, traumas, AVC, entre outros— a aquisição de uma língua estrangeira amplia essa reserva, por ser uma atividade intelectualmente desafiadora, gerando ganhos nos aspectos de comunicação, sociais, cognitivo e na saúde mental, segundo Raphael Ribeiro Spera, neurologista do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP).

Nos transtornos cognitivos, as línguas que foram adquiridas posteriormente à fase de desenvolvimento da linguagem e da fala são esquecidas, mas se mantém a materna. Assim, para Spera, quanto mais cedo se aprende uma nova língua, melhor.

Juliana e Dan - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Juliana e Dan, que é capaz de conversar, cantar, jogar, brincar, interagir e, agora, começou a ler em inglês
Imagem: Arquivo pessoal

Benefícios em diferentes fases

Primeira infância:

  • Crianças bilíngues tendem a ser mais criativas e ter raciocínio lógico potencializado.
  • São mais empáticas e desenvolvem habilidades socioemocionais, cognitivas, motoras e de concentração de maneira diferenciada.
  • Possuem a capacidade de planejar, resolver problemas e realizar outras tarefas mentalmente mais exigentes.
  • Têm sua memória fortalecida, assim como autorregulação e flexibilidade mental.

Adolescência:

  • Saber falar diferentes línguas estrangeiras permite vivenciar experiências diversas.
  • Amplia as habilidades de relacionamento e contato com diferentes tipos de culturas, essenciais para o desenvolvimento nessa fase marcada por viagens, músicas, filmes, séries e festas.

Adulto:

  • Aprender a falar um outro idioma é fundamental para desenvolver o seu intelecto, o que gera bem-estar, prazer, desafio e recompensa.

Idoso:

  • Mesmo a aprendizagem, após os 60 anos, é benéfica, pois melhora a autoestima e a memória, sendo favorável para o fortalecimento da atenção, tomada de decisão, controle, flexibilidade e resolução de conflitos.
  • O cérebro precisa ser exercitado e o idoso deve sempre estar aprendendo coisas novas, sejam idiomas, palavras, sotaques, e praticando o que aprende.

O aprendizado de um novo idioma é uma tarefa cognitiva complexa, que trabalha aspectos da linguagem (novas habilidades fonêmicas, habilidade de raciocínio abstrato), estimulando a cognição e fortalecendo os aspectos relacionados que tentem a ficar menos eficazes com o avançar da idade. Cecília Galetti, psicóloga, neuropsicóloga e especialista em gerontologia

Fontes: Alexandre Fernandes, neuropediatra e coordenador do departamento científico de neurologia infantil da ABN (Academia Brasileira de Neurologia), Cecília Galetti, psicóloga, neuropsicóloga e especialista em gerontologia pela SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia); Raphael Ribeiro Spera, neurologista e membro do grupo de neurologia cognitiva e do comportamento do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), e membro da ABN.