Não é só ganho de peso: veja 7 efeitos negativos de pedir muito delivery

Vivemos em um mundo imediatista, onde frequentemente estamos na correria, trabalhando, estudando e alegamos não ter tempo para cozinhar. Nesse sentido, os aplicativos de delivery de comida proporcionam uma experiência tão prática e conveniente que não é preciso escrever nada, basta clicar para escolher o restaurante, selecionar o pedido, a quantidade e pagar com o cartão de crédito —que muitos já deixam cadastrado.

Com a pandemia, a prática se tornou tão comum que mal conseguimos imaginar a vida sem os aplicativos de entrega de refeições. Um exemplo é que, se antes alguns saíam para trabalhar na empresa e almoçavam em um restaurante ou levavam marmita de casa, hoje trabalham em casa e pedem comida pela praticidade. A busca por uma alternativa que dê menos trabalho é uma constante.

Relacionadas

Delivery saudável: veja as melhores opções em 13 tipos de restaurantes

Comida está cara? Planejar cardápio evita desperdício e melhora alimentação

Com preguiça de cozinhar? Veja como se alimentar bem mesmo morando sozinho

Se por um lado temos a conveniência dessa ferramenta a nosso favor, por outro, precisamos ficar atentos porque o hábito de pedir comida pode ter alguns efeitos negativos à saúde. A seguir, três especialistas explicam melhor isso, mas também dão dicas de como comer bem mesmo pelo delivery.

Os efeitos negativos

1. Oferecem uma alimentação menos nutritiva e mais calórica

Geralmente, as preparações profissionais usam muita gordura —óleo, azeite, banha, margarina, manteiga—, pois ela aumenta a palatabilidade dos pratos e confere um aroma mais atrativo. A gordura é o macronutriente mais calórico que temos, com 9 kcal/g.

Um outro ponto é que o tempo entre o preparo da refeição, a entrega e o posterior consumo diminui o frescor dos alimentos. Dependendo do tempo que se passa, pode-se também perder a qualidade nutricional.

Além disso —e vale ressaltar que há opções para todos os gostos, incluindo cardápios com arroz, feijão e carne—, as pessoas costumam pedir lanches/fast-food que são mais baratos, mais saborosos e menos nutritivos. Se um dia o usuário do aplicativo pede pizza, no outro cachorro quente, e por aí vai, provavelmente ele vai ganhar peso e prejudicar a saúde com um alto consumo de alimentos ricos em sódio e gordura.

2. Combos e ofertas favorecem o consumo em maior quantidade

O brasileiro adora uma promoção e aquele famoso "tô pagando", então se pagou, também se permite comer o que quiser e de forma exagerada. Às vezes, a atratividade do preço pode sobressair à preferência do prato ou restaurante, afetando a escolha final.

Em geral, os combos ou ofertas estão interessados em fazer o cliente levar uma quantidade maior de comida, e não em melhorar a qualidade da refeição. Os cupons são vantajosos para os restaurantes porque facilitam a produção em escala dos pratos e o uso de um ingrediente que pode estar em excesso ou próximo do vencimento.

Com o excesso disponível, quem está satisfeito para de comer quando se saciou. Mas quem é mais ansioso ou compulsivo acaba comendo só porque "está ali", e há uma reação quase que automática de não desperdiçar e comer só para não jogar fora —certamente isso pode contribuir para o ganho de peso.

3. Tem riscos de contaminação

Se o restaurante não cumprir as normas da vigilância sanitária, existe o risco de contaminação dos alimentos, tanto para quem os consome no local quanto para quem pede pelo aplicativo.

No caso do delivery, o risco é maior porque nem sempre dá para saber por quanto tempo o alimento ficou em espera no restaurante até a chegada do motoboy e no deslocamento dele no trânsito até a sua casa —qualquer microrganismo presente no alimento pode se proliferar livremente nesse período.

Por isso, é importante não deixar a comida exposta à temperatura ambiente por muito tempo antes da ingestão, porque isso também favorece a proliferação de bactérias e fungos, o que aumenta o risco de intoxicação alimentar.

Para empresas, é preciso reforçar a higiene na manipulação com as mãos e dos utensílios, bem como na hora de embalar, devido ao risco de contaminação. As embalagens devem chegar até você sempre limpas e, de preferência, lacradas.

4. Desestimula o "momento em família" de comer todo mundo junto

É claro que a família pode pedir pelo delivery e comer todo mundo junto, mas, na prática, o que pode acontecer é que, no meio da pressa, cada um peça o seu, no lugar e na hora que quiser, desestimulando as refeições em família.

Quando as pessoas se reúnem para comer, existe um investimento de tempo na relação familiar que é produtivo e uma oportunidade para dividir tarefas, integrar-se, conviver. Aos poucos, elas vão conversando, se distraindo e comem até com menos ansiedade. Quando essa etapa não existe, a tendência é todos irem com "mais sede ao pote" e aliviarem suas tensões na comida.

5. Faz as pessoas cozinharem menos em casa

As pessoas têm menos tempo de cozinhar e por isso pedem mais delivery ou passaram a usar mais o delivery e abandonaram o hábito de cozinhar? É possível que os dois tenham acontecido juntos, mas independentemente disso, é preocupante e negativo deixar de lado a comida caseira.

Existem vários benefícios de cozinhar em casa: a comida é mais nutritiva, menos processada, podemos controlar e diminuir o uso do sal, do óleo, da gordura, deixando-a mais saudável. Cozinhar nos conecta com a comida, e é um ato cultural ancestral que traz vivências significativas como sabores, memórias e até maior contato com a natureza, através dos alimentos.

Dicas para comer bem comida de delivery

Se o delivery é tão usado, é porque tem benefícios, como conveniência, rapidez e praticidade. A questão é como usá-lo sem comprometer nossa saúde. A seguir, veja algumas dicas:

1. Esteja atento aos ingredientes utilizados nas refeições escolhidas. Dê preferência por alimentos mais frescos e menos aos processados. Opte por restaurantes que ofereçam comidas mais caseiras e menos industrializadas.
2. Estabeleça a frequência com que pedirá comida de delivery por semana.
3. No delivery de comida, há opções para quem tem diabetes, doença celíaca, pessoas com intolerância à lactose, além de produtos diet, light, com redução de sódio etc. Selecione um prato/restaurante que se encaixe as suas necessidades.
4. Prefira restaurantes em que confie, para reduzir o risco de alguma intoxicação. E coma assim que a comida chegar.
5. O cuidado com a saúde financeira também é fundamental: fazer muitas refeições com o uso de delivery pode comprometer o orçamento. Estabeleça quanto poderá gastar por semana ou mês.

Fontes: Andréa Waisenberg, nutricionista, especialista em nutrição esportiva pela USP (Universidade de São Paulo) e proprietária da iDeaNutri, clínica de nutrição com foco em promoção da saúde, alimentação saudável e adequação de composição corporal; Tamara Chazan, nutricionista, mestre em psicologia e diretora da Alimentas Ideias Nutritivas, onde realiza atendimentos e coordena eventos científicos na área da nutrição em saúde mental; Liane Dahás, psicóloga clínica com mestrado e doutorado em teoria e pesquisa do comportamento pela UFPA (Universidade Federal do Pará) e autora do livro "Ciência do Comportamento Alimentar".