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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


ETs, fantasmas: como ajudar alguém que vivenciou o que ninguém explica?

Getty Images/iStockphoto
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Marcelo Testoni

Colaboração para o VivaBem

10/03/2022 04h00

Em uma busca rápida na internet, você provavelmente encontrará muitos relatos de pessoas que afirmam terem avistado —e até registrado com celular, filmadoras— extraterrestres, fantasmas e outras aparições misteriosas. Entre os casos mais famosos e que ainda não foram solucionados está o do "ET de Varginha", em Minas Gerais. Em 1996, três jovens afirmaram, em detalhes, terem visto a criatura, que seria de cor marrom e com olhos ovais e vermelhos.

Há pessoas que não só alegam terem presenciado coisas estranhas, como também sofrido abduções, abusos, violências e, por não encerrarem o assunto, até ameaças. Em 1997, um morador de Sorocaba, no interior paulista, foi assassinado meses após ter registrado numa delegacia local ter sido vítima de lesão corporal por um ser inexplicável, de dois metros e mãos de pinças, que teria encontrado em um matagal, próximo à estrada onde seu carro quebrou.

De acordo com Luiz Scocca, psiquiatra pelo HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de São Paulo) e membro da APA (Associação Americana de Psiquiatria), enquanto não se compreende o "fenômeno" que possa ter ocorrido, ninguém deve —e tem direito de— desacreditar a versão contada. Ele diz que, certamente, é preciso buscar por explicações racionais num primeiro momento, mas, não havendo, que a pessoa receba todo apoio e amor.

"O sobrenatural e a ufologia [estudo sobre discos voadores] estão relacionados com o campo da fé, do acreditar, ou não. Não se deve achar que é besteira, do contrário não haveria tantos pesquisadores, que dedicam suas vidas a fim de esclarecer esses mistérios", diz Scocca, lembrando que a ciência ainda não tem respostas para tudo, faz achados todos os dias. Assim, daqui a centenas de anos, a compreensão humana pode ser completamente diferente.

Também deve se ter em mente que, em se tratando de crianças, é comum elas terem amigos imaginários, fantasiarem, acreditar em monstros, super-heróis, personagens de contos de fadas. Agora, adultos, se estiverem confusos, preocupados, mesmo depois de diagnosticados saudáveis, sem transtornos, devem procurar ajuda psicoterapêutica. A família e os amigos devem acompanhar de perto, escutar, acolher, investigar possíveis causas e desfazer enganos.

Preconceito e abusos são intoleráveis

Quando acontecimentos, como os citados no início, atingem grande repercussão, a vida dos envolvidos pode sair do controle devido a assédios e chacotas constantes. E aí ronda o perigo, que pode ser maior que o de um contato imediato de terceiro grau. Na época do caso do ET de Varginha, por exemplo, uma das jovens relatou que precisou parar de ir à escola e evitar sair de casa. Outra entrou em depressão, teve problemas na gravidez e acabou se divorciando.

Por tudo isso, hoje evitam dar entrevistas. "O estigma deve ser combatido para não 'marcar' e causar realmente transtornos [de ansiedade, depressão, estresse pós-traumático], pois quem já se encontra em dificuldades, sofre ainda mais com exposições, críticas, ofensas, julgamentos alheios", alerta o psicólogo Yuri Busin, doutor em neurociência do comportamento e diretor do Casme (Centro de Atenção à Saúde Mental - Equilíbrio), em São Paulo, acrescendo que vítimas de abusos devem recorrer às autoridades e nunca ser apontadas como culpadas.

Nem tudo é facilmente identificável

Embora os temas vida após a morte e fora da Terra sustentem vários pontos de interrogação, existem hipóteses, algumas inclusive de ordem psíquica e emocional, para o que alegam pessoas convictas de que cruzaram com entidades de outros mundos. Scocca cita as ilusões de percepção (como quando se confunde um traje longo no cabide com alguém escondido no armário), ou ainda pequenas e momentâneas alterações cerebrais, como um AVC isquêmico não apontado em exames de imagem, ou uma psicose leve.

Há ainda transtornos que se revelam com o tempo, à medida que os episódios se intensificam, como a esquizofrenia, cujos sintomas podem incluir ouvir vozes, ter visões e sentir presenças. Além disso, não se pode descartar a possibilidade de síndromes novas e pouco conhecidas, interações químicas medicamentosas, histeria coletiva, fenômenos óticos atmosféricos ou as banais brincadeiras de má-fé.

"Indivíduos em estado de grande susto ou euforia também podem se comportar de maneira completamente diferente, e o que é familiar ou do nosso conhecimento tende a atrair e ser associado com mais facilidade ao que vemos sem entender", aponta Leide Batista, psicóloga pela Faculdade Castro Alves, com passagem pelo HC (Hospital da Cidade), de Salvador (BA). Pensamentos frequentes, coincidências, sensações incomuns (arrepios, angústias, flashs e manchas oculares) e imagens provenientes do inconsciente, relacionados a lutos, filmes, crenças, temores também podem se somar e nos sugestionar.

A verdade é: se você não acredita, pelo menos tente entender o acontecimento e, se necessário, acolher quem está assustado.