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Saúde

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Anestesias facilitam procedimentos médicos: veja tipos, efeitos e cuidados

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Marcelo Testoni

Colaboração para VivaBem

04/03/2022 04h00

Existe uma variedade de anestésicos que age bloqueando impulsos nervosos de dor para o cérebro temporariamente. Eles podem ser inalados, injetados na veia, infiltrados próximos a algum nervo ou empregados em gel, pomada e spray.

Para serem aplicados em alguém, pesquisadores, em laboratórios, antes testam de tudo: tempo para se iniciar o efeito; durabilidade da ação; prazo para eliminação do organismo; sobre quais tecidos vão agir etc.

Assim, pode-se dizer seguramente que as anestesias revolucionaram a medicina, permitindo aos médicos realizarem exames, instrumentações e cirurgias, sem que seus pacientes sintam qualquer desconforto. Se forem doses grandes e em áreas do corpo muito vascularizadas e que envolvam procedimentos invasivos arriscados, a administração deve ocorrer em hospital, do contrário, anestesias menores, para quadros simples, podem ser aplicadas em consultórios.

Embora algumas especialidades, como cirurgiões-dentistas, possam manipular anestésicos, o profissional desse assunto, responsável por definir e aplicar anestesias em geral, além de cuidar de eventuais complicações inerentes, é o anestesiologista.

Esse médico também deve estar envolvido na consulta pré-anestésica, de avaliação obrigatória do estado de saúde do paciente e que exige exames específicos e complementares, mesmo em emergências.

Principais tipos de anestesia

Cirurgia na coluna, anestesia - iStock - iStock
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Em cirurgias, despontam: local, para casos simples ou pequenos, como intervenções de dente, e sem afetar a consciência; regional, que retira sensibilidade e movimentos, de membros ou todo o inferior do corpo, mas permite que se fique acordado, e dividida em "bloqueio de nervos periféricos", "raquidiana", "peridural/epidural".

As duas últimas são aplicadas, em ordem, dentro e ao redor do canal espinhal, e podem ser combinadas, inclusive com sedativos.

Há ainda a famosa anestesia geral, indicada, como se sugere, para cirurgias maiores e mais complexas, gerando um total estado de amnésia temporária, controle da dor e paralisia dos músculos esqueléticos.

Quanto à aplicação, pode ser injetada na veia ou inalada em gás por uso de máscara. As duas garantem o mesmo resultado, informa Karleno de Lima Cantanhede, supervisor do programa de residência médica e anestesiologista no Hospital Igesp, em São Paulo.

"A decisão de qual anestesia usar fica a critério do anestesiologista e leva em consideração uma série de questões. Dentre elas, estado clínico do paciente, sua capacidade colaborativa, tipo de cirurgia, idade, local do procedimento a ser feito, condições ideais para a equipe cirúrgica trabalhar, domínio técnico do anestesista, necessidade de o paciente ir embora no mesmo dia, ou não. Tudo sempre direcionado à segurança", complementa Cantanhede.

Entenda a questão do limite

Anestesia no dentista, cirurgia, dente do siso, extração dentária - iStock - iStock
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Segundo os entrevistados, não existe uma "cota" ou quantidade estabelecida de anestesia que uma pessoa possa receber, seja em ano, mês, semana, vida. O que conta é a necessidade de se fazer, ou não, um procedimento que requer anestesia versus efeitos colaterais, que podem estar vinculados ao que será proposto. Essa balança sempre vai gerir as decisões na medicina como um todo e os benefícios precisam ser maiores do que os prejuízos inerentes.

"O paciente pode ser anestesiado quantas vezes forem necessárias, não há limite para número de anestesias. Às vezes, até diariamente, como nos curativos dos queimados. Como já dito, a escolha do tipo de anestesia depende principalmente das condições clínicas e do tipo de procedimento", esclarece Régis Ramos, especialista em cirurgia plástica pela SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica), acrescendo que o número de injeções também é muito variável.

Porém, como em qualquer droga, existe limite de dose. Em consultório, por exemplo, dentistas devem realizar um cálculo de dosagem máxima segura para evitar overdose e complicações locais e gerais, inclusive emergências médicas, pois o tempo da medicação no corpo é rápida.

"Normalmente, uma dosagem máxima é bem acima do necessário. Por exemplo, um paciente de 70/80 quilos e saudável pode receber cerca de 8 a 10 tubetes de anestésico. Para extrair um siso, de 1 a 3 bastam. Esse anestésico ao qual me refiro é a lidocaína. É o mais utilizado, mas se for outro, a dosagem máxima já muda", explica David Barros, dentista pela EBMSP (Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública) e atuante na Clínica ITA, em Salvador.

Afinal, são seguras ou não?

Sala de cirurgia plástica - iStock - iStock
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Toda anestesia oferece prós e contras, ou melhor, riscos, que estão vinculados a uma série de fatores e que precisam ser administrados de forma correta para que tudo funcione bem. Desde puncionar um vaso sanguíneo, a colocar em ventilação mecânica, administrar drogas que agem em órgãos vitais, fazer uma punção raquimedular (que é inserir uma agulha no canal vertebral e injetar medicamentos para anestesiar uma parte do corpo), enumera Cantanhede.

Quando independe de técnica e competência do profissional, problemas adversos podem acontecer devido à situação do paciente (como não estar em jejum, então vomita durante a indução da anestesia e aspira esse vômito para os pulmões, causando pneumonia) ou então imprevistos (como sofrer alergia a algum dispositivo usado para colar na pele e fixar veias, tubos, ou a fármacos —levando a choque anafilático—, e até parada cardiorrespiratória).

Há também uma patologia rara e séria relacionada a predisposição genética e administração de alguns medicamentos chamada hipertermia maligna. Quem tem parentes próximos com essa condição deve ser submetido a técnicas anestésicas diferenciadas e mais cautelosas.

Mas o anestesiologista do Igesp tranquiliza: "Sem comorbidades, há pouco risco de se apresentar quaisquer desses problemas, que são mais comuns em pacientes graves ou com condições de saúde não controladas, bem como em situações de urgência/emergência. E mesmo a hipertermia maligna, apesar do nome preocupante, tem tratamento muito eficaz".

O cirurgião plástico Régis Ramos ressalta que em se tratando de procedimentos que exigem anestesia não existe uma anestesia "mais segura", existe anestesia adequada a cada caso.

"Existem várias técnicas de anestesia e alguma delas poderá ser usada. Uma história clínica bem colhida e até mesmo testes antialérgicos pré-operatórios ajudam a escolher isso. Todo paciente pode ser anestesiado. Depende de como esteja clinicamente e do risco-benefício."